sábado, 10 de abril de 2010

Os Incendiários




Eu não saberia dizer aonde, quando e o por quê.

Mas lá na telona a cena final de “Bastardos Inglórios” (2009) me fez acreditar que eu adoraria lotar um auditório para uma grande e inesquecível festa. 

Convidaria as pessoas mais desprezíveis deste mundo (aqui cada um de nós possuí a sua própria lista) e daria a elas aquilo que costumam receber em todos os lugares por onde passam: bajulação, muita bajulação...

A noite seria longa, até o ápice: trancaria todas as saídas, não deixaria testemunhas por perto, o que incluí anteriormente, a liberação para que todos os paparaziz adentrassem ao recinto, ao ninho das vespas, cobras, víboras, ou, qualquer coisa que o valha.

Após o soar da terceira sineta – uma penumbra recairia sobre o ninho, uma grande tela desceria do teto, gelo seco perfumaria aquela confraternização cafajeste, adernada por néons, luzes estrábicas, uma noite regada a caviar e muito prosseco.

E então um videoclipe ensandecido ecoaria a frase:

“e depois do começo o que vier vai começar a ser o fim”... inúmeras vezes até o incêndio fatal, grandiloqüente, que até faria Nero sentir uma pontinha de ciúme. 

São os delírios que só alguém como Quentin Tarantino pode deixar-nos de herança após rever “Bastador Inglórios” na quinta-feira passada.

Eu devo ser mesmo um garoto atormentado e sádico – ouvindo The Smiths – e escrevendo sobre Tarantino – ora, mas o que seria da vida sem a contradição?

E aqui entra em cena a razão do plural no título deste post. Dizem que a gente é mais feliz na infância, deve ser mesmo verdade, se não vejamos:

Antonio Carlos Tissot Júnior, para os mais íntimos apenas Júnior, o meu vizinho, amigo, e antes de qualquer coisa, um incendiário talentoso. Júnior foi o cara que colocou caraminholas na cabeça tola de uma criança até então cristã.

Apenas peço, caso haja algum psicólogo lendo este texto que não seja tão rigoroso comigo, já que incendiários na infância quase sempre tornam-se adultos pacatos. Será mesmo? (música de suspense).

Na infância apanhei um bocado, ás vezes por causa das peripécias em conjunto com o Júnior, outras vezes por outros motivos banais.

Adorávamos montar aqueles aviões da Revel, eram tão bonitinhos, mas depois de tudo decalcado, maravilhosamente pintado, vinha aquela vontade insuportável de simular uma grande tragédia, ou, apenas uma cena corriqueira de alguma das tantas guerras que os americanos tanto amam. Ah, lá estava aposto o isqueiro da Dona Ivanir, a mãe do Júnior.

-Fumaça negra... é o aviso...vai explodir....Buuummmm!!!!!

Tudo pelos ares, que delícia!

Acho que o Tarantino também tinha um Júnior em sua vida. Mas ele soube agregar melhor valor a suas memórias de infância.

Nada escapava a fúria infantil, carros bonitões, bonecas das minhas irmãs (xiiii...agora elas descobriram que elas não foram abduzidas), brinquedos do Antônio Augusto irmão mais novo do Júnior, soldadinhos de guerra (eram em geral as nossas principais vitimas), e outras cositas más.  

Recordo-me que houve apenas uma exceção...Por favor psicólogos de plantão não julguem-nos a frio: adivinhem...

Falcon! Ele mesmo, o boneco que na virada dos anos setenta para os oitenta era a coqueluche entre a molecada, o nosso herói barbado e suas mil e uma faces. Falcon escapou ileso, nunca cogitamos fazer dele uma espécie de Joana D’Arc da Coronel Augusto Machado, nome da rua que morávamos.

Depois de tanto tempo reencontrei o Júnior no casamento da sua linda prima, a Daniela.

Ele também casado e sem filhos parecia feliz, embora já tivesse passado dos trinta assim como eu. Conversamos bastante, lembramos das traquinagens, dos outros colegas, falamos da vida, fiquei muito feliz por seu avô materno ainda estar vivo e saudável, e de repente por alguns minutos compreendi que os elos mais sólidos são formados exatamente em meios às diferenças.

Isso já faz tempo, sinto saudades daquilo que somente a memória pode nos conservar intacta.

Eu não saberia dizer aonde, quando e o porquê, mas nos meus sonhos o incêndio ainda não cessou.

Trilha Sonora
Artista: The Smiths
Música: The Boy With The Thorn In His Side

5 comentários:

Lidianne disse...

Olha eu aqui fazendo a minha visitinha no seu blog, gostei do que vi, e gostei mais ainda da sua presença lá...vc gosta de rock?
Tenho um blog voltado para o Rock em especial ao Elvis Presley, se vc puder acompanhar tb ficarei agradecida.

Bjs e sempre que puder passarei por aqui!

http://lidianne-mattiello.blogspot.com

Gabriela Schotten disse...

Olá!

Obrigada pelos comentários no meu blog. Fique à vontade para visitar quando quiser.

Abraço.

Aline disse...

Adorei! Acho não, tenho certeza de que qdo eramos crianças eramos muito mais felizes! Agora que estou te escrevendo acabei de chegar de uma festinha da filhinha de uma amiga de adolescência que eu gosto muito. Ela fez 2 aninhos! Estava olhando as crianças, todas com idades próximas e pensando:como era bom! Gostavamos uns dos outros pelo simples fato de sermos amiguinhos ! Nada mais importava! É uma pena que essa pureza da infância não possa nos acompanhar para sempre!

Aline disse...

Queria pedir sua ajuda. Como faço para postar vídeos no blog? Estou ainda desbravando seus recursos e não consegui aprender isso. Se puder me ajudar, vou lhe ser grata eternamente! Rsss! Verdade! Meu email é:aobhmagalhaes@yahoo.com.br
bjs!

Lidce disse...

São essas lembranças que levaremos conosco eternamente e que nos fazem nos sentirmos vivos! A infância é realmente o melhor período de nossas vidas...ainda bem que temos as lembranças.