Numa
quarta-feira de videoarte e discussões sobre arte contemporânea. Vale uma
olhada nos trabalhos dos artistas Alberto Bitar, “Sobre Distâncias e Incômodos
e Alguma Tristeza” – de uma sutileza comovente sobre a ação do tempo nos seres
humanos, e ainda Thomas Sipp no primoroso e lindo “Le Jour dês Frites”, pois
afinal todos nós temos nossas fritas, e nossos pequenos prazeres libertários nesta
vida.
Como
contraponto eu deixo rolar o som descartável e gostoso de Lily Allen, sorrisos a
todos no resto da semana!
E
a gente vai levando... às vezes fingindo não ver certas situações, tentando
poupar as pessoas pelas quais temos alguma admiração, mas quer saber...
Eu
olho as manchetes dos jornais, eu ouço as conversas nos bares e restaurantes
–apesar de que hoje em dia ninguém mais conversa em público... é só o celular
na mão e o dedo digitando mensagem de texto, conversar pra quê né?
Ninguém
sabe de mais nada, somos reféns em nosso próprio mundinho consumista:
-
ah! não sei se deixo a minha filha andar sozinha nesta cidade tão hostil, vou
comprar um carro blindado pra ela ir pra faculdade pública (gratuita diga-se para
os endinheirados que podem se dar o luxo de blindar um monte de lata), assim eu
fico mais tranquila... Assim eu vou pra Londres mais leve! Que fofo não?
Eu
também quero me blindar, mas é da ignorância, da pequenez de horizontes, da
insensibilidade social, da maldita mídia ilusionista da realidade concreta, dos
afortunados de plantão, dos fariseus prateados, dos corruptos que criticam os
políticos e os colocam lá porque são iguais ou piores que os pilantras de
Brasília...
Só
não quero me blindar do amor! Amor ao mundo, aos que precisam de alento, de
real proteção, de uma fração de esperança diária para sobreviver na selva, na carnificina
de sofrer exploração econômica, social, histórica, e ser esfolado de todas as
maneira possíveis é desumano, sempre.
Em
Ruanda no ano de 1994 a ONU (ela mesmo, a “guardiã dos direitos humanos) negou
proteção a milhares de pessoas da etnia tutsis e hutus moderados, que foram
massacrados por extremistas da etnia hutus entre 6 de abril e 4 de julho daquele
ano. Morreram mais de 500.000 pessoas, isso mesmo, perto de 800.000 pessoas que
foram exterminadas apenas por pertencer a uma etnia... e ninguém fez nada, ou
quase nada.
Tiros em Ruanda é um filme que conta um pouco da história do genocídio ocorrido na
Escola Técnica Oficial de Kigali em 1994, e talvez fosse um ótimo antidoto para
ricos neuróticos que juram que seus ‘pobres’ filhos estão totalmente
vulneráveis em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Tadinhos... tão
indefesos!
Perigo
mesmo é não enxergar a realidade pelo menos com alguma paixão (compaixão) por
quem de fato não tem nada, muito menos proteção contra coisa alguma.
Pessoas por favor: procurem uma lupa, é impossível viver no reino da Disney a vida inteira.