domingo, 18 de dezembro de 2011
Magia
quarta-feira, 3 de março de 2010
Cenas Urbanas - Trick
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Cenas Inesquecíveis 4
Nunca houve no cinema um sorriso meigo e, doce como da belga Audrey Hepburn.
Sua elegância, seu rosto delicado, sua simpatia e carisma, são conjunções raras atualmente em Hollywood.
Ainda me lembro com detalhes do outono de 1997. Uma oportunidade rara que se transformou numa experiência inesquecível.
O extinto Cinesesc da Rua Augusta estava reprisando “Breakfast at Tiffany's”, (1961), e isso apenas por alguns dias.
Aproveitei uma folga do trabalho durante a semana e fui ao encontro de Audrey, infelizmente o único na sala escura com uma grande tela.
E o cinema de escuro não tem nada, pois ilumina um pouco da nossa escuridão cotidiana.
Em “Breakfast at Tiffany's”, direção de Blake Edwards, roteiro de George Axelrod, baseado no conto do escritor Truman Capote, Audrey é Holly Goolightly, uma prostituta que mora em Nova Iorque após um envolvimento com um gangster. Em sua rotina efêmera um vizinho, Paul Varjak (George Peppard), um escritor tentando alcançar reconhecimento para seu talento, irá alterar seus planos.
O maior sonho de Holly é casar-se com um milionário. Eis que surge então o brasileiro José da Silva Pereira (José Luis de Villalonga), um fazendeiro rico do Brasil.
A seqüência final revela o quanto Holly tentou fugir do inesperado, do amor. Embora tenha um ar bem clichê hollywoodiano, a cena possuí em seu diálogo e, fora dele, a essência do romance de Capote.
PAUL – Lá se foi a América do Sul. Bom, você não foi feita para ser a rainha dos pampas, mesmo. (Para o taxista) Hotel Clayton.
HOLLY – Idlewild.
PAUL – O quê?
HOLLY – O avião sai às 12 e pretendo estar a bordo.
PAUL – Holly, você não pode.
HOLLY – Et pouquoi pas? Não vou atrás do José, se é isso o que está pensando. Na minha opinião, ele é o futuro presidente de lugar nenhum. Porque deveria desperdiçar a passagem? Além do mais, nunca fui ao Brasil.
Ele a observa em silêncio.
HOLLY – Por favor, querido, não me olhe assim. Eu vou de qualquer jeito. Tudo o que querem de mim é que eu deponha contra Sally. Ninguém tem a mínima intenção de me processar. Eles nem têm a mínima chance. Esta cidade acabou para mim, pelo menos por enquanto. Às vezes, a fama pode arruinar a pele de uma mulher. Devem ter montado forcas para mim em toda a cidade. Sabe o que pode fazer por mim? Telefone para o New York Times. Quero que me envie uma lista dos 50 homens mais ricos do Brasil. Os 50 mais ricos!
PAUL – Holly, não vou permitir isso.
HOLLY – Não vai permitir?
PAUL – Holly, estou apaixonado por você.
HOLLY – E daí?
PAUL – “E daí”? Isso chega. Eu a amo. Você me pertence.
HOLLY – Não. As pessoas não se pertencem.
PAUL – Claro que sim.
HOLLY – Ninguém vai me pôr numa jaula.
PAUL – Não quero colocar você numa jaula. Quero amar você.
HOLLY – É a mesma coisa.
PAUL – Não é, não, Holly.
HOLLY – Não sou Holly! Não sou nem Lula Mae! Não sei quem sou! Sou como o Gato, somos dois coitados sem nome! Não temos dono, nós nem pertencemos um ao outro! (para o taxista) Pare o táxi!
O carro para na entrada de um beco, enquanto cai uma chuva torrencial. Ela abre a porta.
HOLLY – (Para o Gato) O que acha? Parece ser o lugar certo para um cara durão como você! Latas de lixo, ratos por toda a parte… Suma! Disse para ir embora! Se manda! (Bota o Gato para fora e fecha a porta) Vamos!
Paul não acredita no que aconteceu. Tira uma nota do bolso.
PAUL – Motorista, pare aqui.
O carro para e ele sai, mas antes de fechar a porta e ir embora, se vira para Holly.
PAUL – Sabe qual é o seu problema, “senhorita Seja-lá-quem-for”? Você é covarde. Você não tem coragem. Tem medo de encarar a realidade e dizer: “Ok, a vida é um fato. As pessoas se apaixonam”. As pessoas pertencem umas às outras porque é a única chance que têm de serem realmente felizes. Você acha que tem um espírito livre e selvagem e morre de medo de ser enjaulada. Bem, querida, você está na jaula que você mesma construiu. E não só em Tulip, Texas, ou na Somália: estará sempre nela. Não importa para onde corra, estará sempre trombando consigo mesma! (Tira do bolso uma caixinha) Pegue. Tenho carregado isso comigo há meses. Não quero mais.
Ele joga a caixinha no colo dela e vai embora. Ela abre a caixa e chora quando vê o conteúdo: um anel, simples brinde de uma caixa de biscoitos, no qual ele tinha mandado gravar as iniciais de ambos na joalheria Tiffany’s.
Quando as palavras “The End” decretaram o final da exibição, eu, que estava sentado bem à frente, olhei para trás e, presenciei um pouco da simbologia do cinema na vida das pessoas.
Era sem dúvida alguma o mais jovem felizardo naquela sala. Vi homens e mulheres de cabeças grisalhas e de feições enrugadas chorando, emocionados pela breve redenção de suas vidas, ou, apenas pelas lembranças já quase inatingíveis pela ação do tempo (sempre ele), instaurados naqueles minutos de plenitude.
Chorei junto, não havia nada mais belo a ser visto por alguém ainda inexperiente na arte de viver e amar.