A Nova Iorque de “Trick” (1999) – direção Jim Fall – ainda ostenta um dos seus principais cartões postais, as Torres do World Trade Center.
Em cena uma história inspirada na obra do escritor Truman Capote “Breakfast at Tiffany's” (1958).
Gabriel (Christian Campbell) é um jovem escritor/compositor de musicais para teatro cuja vida afetiva não é lá uma Brastemp. Aqui se inicia as brincadeiras de “Trick” com seu alterego Bonequinha de Luxo (1961).
Mas a cidade de 1999 não contém mais o mesmo apelo romântico de uma das mais inesquecíveis cenas de abertura de um filme Hollywoodiano:
“O yellow cab, de manhã bem cedo, vem se aproximando pela avenida absolutamente deserta de Nova York. Traz Audrey Hepburn depois de uma noitada. O carro vai diminuindo à medida que se aproxima da loja da Tiffany.
A orquestra vai num crescendo com Moon River de Henry Mancini. Audrey desce do taxi elegantíssima com um saco de papel na mão. Caminha até a vitrine da loja e retira o lanche do saco sem tirar as luvas. Come o doce e bebe o refrigerante sem derrubar nada enquanto olha as vitrines.
A orquestra aumenta o som da belíssima Moon River, Audrey dá alguns passos, a manhã desponta radiosa em plena Nova York. E na avenida só ela, a charmosíssima Audrey Hepburn”, descreve o jornalista Gilberto Cruvinel
Em “Trick” o encanto não é mais a Quinta Avenida com a Rua 57, mas lá estão cenas urbanas pelas ruas, avenidas e, sobretudo pelas imagens metafóricas do Metrô nova-iorquino.
A questão é apenas contar quanto tempo demorará até aparecer alguém que seja o par “perfeito” para o nosso escritor à procura do amor. Não demora muito, eis que surge em cena a versão Holly Golightly, neste caso o charmoso “go-go boy”, Mark, na pele do ator John Paul Pitoc.
Então temos de um lado Gabriel (se preferir, Paul 'Fred' Varjak/George Peppard), e do outro Mark (Holly Golightly/Audrey Hepburn), que parecem prestes a sentir uma avassaladora chama interna em direção ao desejo e seus codinomes e acessórios.
Com a ajuda do destino Gabriel encontra Mark a bordo de um vagão no Metrô, e depois disso a sua insegurança parece ceder vagarosamente espaço aos seus instintos, sua delicada forma de resolver seus medos antagônicos. A intuição fala mais alto e o cérebro atende ao pedido sem pestanejar.
Entre tomadas de um céu quase alaranjado, por ruas movimentadas, a história se desenrola até seu epílogo.
A cena do beijo sobre a superfície do Mêtro, nada melhor do que um beijo entre dois homens às claras e sem subterfúgios, sem rodeios, em pleno calçada a luz do dia, certamente teria outra conotação se fosse embaixo da terra, nos subterrâneos da cidade, onde é costume a sociedade esconder aquilo que julga ser ultrajante, jogue então para debaixo do tapete.
Pois, aquele beijo levará Gabriel à lua e depois ao porão incontrolável da dúvida e da mais profunda angústia, mesmo que apenas por alguns segundos. Será que o telefone grafado em sua mão é real? Será que este sentimento que eu sinto agora existe? Será que Mark é mesmo Mark?
E se a vida emita a arte como dizem, Gabriel e Mark estão por aí fazendo uma DR (Discutindo a relação) na Nova Iorque medrosa do pós 11 de setembro e, sem o som monumental de Moon River.
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