Bruno Batista é um sujeito afável, simpático e meticuloso em seu trabalho, sua arte, sabe muito bem o que quer. Fiquei contente ao ouvir o seu segundo álbum – Eu Não Sei Sofrer em Inglês – que traz criatividade para muito além do titulo. Com produção assinada por Guilherme Kastrup e Chico Salem, Eu Não Sei Sofrer em Inglês é composto por 12 faixas autorais, que permeiam o universo pop bem variado do seu jovem autor.
O novo disco traz participações afetivas de Zeca Baleiro (Acontecesse) e Tulipa Ruiz (Nossa Paz) e, revela um compositor desbravando caminhos – como os novos ares da musicalidade paulistana mescladas a sólida ponte de Caetano, Marley, Bowie, Dylan, Luiz Gonzaga, Leonardo Cohen dentre outros poetas da música popular.
Adorei a canção homônima ao titulo do disco – “Eu não sei sofrer em inglês” - porquê me lembra um carrossel em movimento – pode ser o De La Tour Eiffel em Paris, ou, qualquer outro de um parquinho do subúrbio do Rio, São Paulo ou São Luiz.
Essa sensação deliciosa não é gratuita, mas sim fruto de um arranjo pensado para ser leve, um deleite, pois no fundo a vida não deixa de ser um carrossel de emoções, alternando altos e baixos, acelerações e movimentos mais lentos.
Em sampa faz um lindo céu azul nesta manhã preguiçosa de outono e, eu, posso até vislumbrar o jovem poeta pinçando palavras e sonoridades delicadas e sensoriais para desnudar a vida.
Eu não tenho tempo
Eu não sei voar
Dias passam como nuvens
Em brancas nuvens
Eu não vou passar
Eu não tenho medo
Eu não tenho tempo
Eu não sei voar
Eu tenho um sapato
Eu tenho um sapato branco
Eu tenho um cavalo
Eu tenho um cavalo branco
E um riso, um riso amarelo
Eu não tenho medo
Eu não tenho tempo
De me ouvir cantar
Eu não tenho medo
Eu não tenho tempo
De me ver chorar
Eu não tenho medo
Eu não tenho tempo
E eu não sei voar
E o tempo voa como um solo de guitarra...
Trilha Sonora Artista: Zeca Baleiro/Fagner Música: Não Tenho Tempo
Eu não quero ver você fumando ópio, pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Final de tarde nas ruas do Itaim Bibi. Carros bacanas circulam por entre casas e prédios, restaurantes e, hotéis de luxo. Tudo soa meio blasé pelas bandas do Itaim.
E quem são as pessoas que passeiam no Itaim?
Só sei que não são de outro mundo.
Um sorriso atraente, um olhar penetrante – azul da cor do mar – impossível resistir, e negar uma observação mais detalhada, apenas ‘pleno exercício de direito’ diriam alguns advogados.
Pelos cantos assisto ao desfile de meninos e meninas poeticamente perfeitos.
E como é linda a juventude!
Ouço da boca de alguém acostumada a lhe dar com a ponta oposta da pirâmide etária, o que torna a frase solta mais valiosa.
Na balada da hora, liberto pelo tempo e espaço ‘soft’ do Itaim, quase sem querer ouço uma conversa ríspida via celular entre um Apolo e seu pai Zeus:
-O senhor nunca me deixa falar, externar, aquilo que penso e sinto. Você me expulsou da sua casa, agora também vai me expurgar da sua vida? Eu ainda sou o seu filho, será que você se esqueceu disso?
A tristeza de Apolo comove, ele parece apenas reivindicar com aquela vontade de viver tão pertinente aos jovens, um canal mais eficaz e sincero de comunicação. É como se ele quisesse dizer: O que eu quero é honestidade Zeus!
Pai e mãe separados – qual a casa que esse mancebo chamará de lar?
Manoel Carlos diria que o Itaim é uma sucursal do Leblon – de fato daria um bom enredo de novela.
A noite cai e as luzes dos carros borram a minha visão junto com a chuva que cai sobre o Itaim, talvez as lágrimas do nosso Apolo, incompreendido e, empurrado tão cedo para a lacuna vazia do desamparo familiar, cada vez mais comum nessa sociedade viciada no consumo.
No final das contas quero intuir que Apolo fala através da sua rebeldia:
-Por favor, me deem pelo menos 150mg de afeto incondicional! Pai Zeus não me expulse do Olimpo, eu quero me apaixonar novamente por você!
-Apenas uma pílula de afeto, é tudo o que eu te peço!