Guitarras estridentes e melódicas. Mais uma leva da onda rock/hype/ folk/caipira.
Em tempos de muita oferta não é tão fácil encontrar um som decente. A moçada de Pirassununga interior de São Paulo manda bem em seu segundo álbum “Rua Caetés” (2009), uma dica para curtir o final de tarde imaginando um canavial e um passeio por uma fazenda.
Eu tenho uma gata. O nome dela é Fedora, é linda, serena, manhosa, delicada e, quase não mia. Ela é extremamente sensível.
Quando a conheci era difícil interagir com a Fê, parecia ser muito arisca, antissocial, muito na dela. Alguns a chamariam de autista.
Pois bem, depois de alguns meses de convivência eu hoje tenho uma relação toda especial com a Fê, ela é o meu xodó aqui em casa.
Pergunto: A Fedora mudou?
Não. Quem mudou fui eu. Abri os meus olhos, a minha alma, me permiti adentrar no mundo tão particular da Fê e, logo passei a compreender à sua maneira de interagir com todos em casa. Ela de fato não é falante como, por exemplo, o Bob, o outro felino da casa que já foi tema de post neste acervo. Mas ela fala de igual modo de outras maneiras.
Pensando nisso tive a certeza de que as relações interpessoais não diferem da minha com a Fedora. Quando não ficamos presos ao clichê da primeira impressão é a que fica, podemos avançar em uma relação.
Deixamos às armas em algum cômodo e então apresentamos a nossa face mais natural, sem subterfúgios.
Felinos ou não, a comunicação continua sendo imperativa. Sem ela nos tornamos uma ilha, isolada e perdida, algum arremedo de ‘Lost’ sem dúvida nenhuma.
Na vitrola a maravilhosa ‘Let It Be’, e pensar que a igreja católica perdoou os Beatles. Mas por que afinal? Ah... deve ser porquê eles contribuíram de algum modo para tornar este mundo um pouquinho mais humano.
Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis.
Tenho em mim esse atraso de nascença
Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos
Tenho abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior que o mundo
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os restos como as boas moscas
Queria que a minha voz tivesse um formato de canto.
Porque eu não sou da informática:
Eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios..."
Manoel de Barros
Gosto da canção, adoro o vídeo – acho que combina com a poesia latente de Manoel Barros – Este império onde tudo soa falso, até mesmo as pessoas já não são mais de carne e osso, são de plástico!
Trilha Sonora Artista: The National Música: Fake Empire
Não há nada mais triste do que desvanecer
Da vida, ou, dela desistir
São sonhos
Avistar crianças correndo livres pelas ruas
Girando como um carrossel no meio da Praça
Jogando bola descalças no asfalto duro
Imaginando ser aquele
Um jogo no Maracanã
Em uma noite decisiva
Veem de lá também o som agudo de violinos chorando
Em um entardecer gélido de inverno
O crepúsculo dos anjos
Dos pequenos anjinhos gargalhando de alegria
Ah! Música!
Tu me transportas para tantos outros lugares
Donde jamais deveria ter saído
Para bem adiante daqui
Desta prisão
Sem jaulas
Nem trancas
Mas como é triste o desvanecer de uma vida
Inteira,
Metade,
Menos que isso,
Uma criança apenas,
Que como último suspiro, olha para nós e sorri.
É um anjo preparando suas asas
Para um voo distante, bem longe...
E que tarde já sabemos ser:
Eterno.
Jonathas Nascimento (Nov/09) Poesia publicada pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores
Trilha Sonora Artista:Astor Piazzolla Música: Milonga Del Angel
Outro dia recebi um e-mail de uma amiga. Nele estavam uma listinha básica da qual muito gente já se esqueceu...
"Tudo o que hoje preciso realmente saber, sobre como viver, o que fazer e como ser, eu aprendi no jardim de infância. A sabedoria não se encontrava no topo de um curso de pós-graduação, mas no montinho de areia da escola de todo dia.
Estas são as coisas que aprendi:
1. Compartilhe tudo;
2. Jogue dentro das regras;
3. Não bata nos outros;
4. Coloque as coisas de volta onde pegou;
5. Arrume sua bagunça;
6. Não pegue as coisas dos outros;
7. Peça desculpas quando machucar alguém; mas peça mesmo !!!
8. Lave as mãos antes de comer e agradeça a Deus antes de deitar;
9. Dê descarga; (esse é importante)
10. Biscoitos quentinhos e leite fazem bem para você;
11. Respeite o limite dos outros;
12. Leve uma vida equilibrada: aprenda um pouco, pense um pouco... desenhe... pinte... cante... dance... brinque... trabalhe um pouco todos os dias;
13. Tire uma soneca a tarde; (isso é muito bom)
14. Quando sair, cuidado com os carros;
15. Dê a mão e fique junto;
16. Repare nas maravilhas da vida;
17. O peixinho dourado, o hamster, o camundongo branco e até mesmo a sementinha no copinho plástico, todos morrem... nós também.
Pegue qualquer um desses itens, coloque-os em termos mais adultos e sofisticados e aplique-os à sua vida familiar, ao seu trabalho, ao seu governo, ao seu mundo e vai ver como ele é verdadeiro, claro e firme.
Pense como o mundo seria melhor se todos nós, no mundo todo, tivéssemos biscoitos e leite todos os dias por volta das três da tarde e pudéssemos nos deitar com um cobertorzinho para uma soneca. Ou se todos os governos tivessem como regra básica, devolver as coisas ao lugar em que elas se encontravam e arrumassem a bagunça ao sair. Ao sair para o mundo é sempre melhor darmos as mãos e ficarmos juntos.
É necessário abrir os olhos e perceber que as coisas boas estão dentro de nós, onde os sentimentos não precisam de motivos nem os desejos de razão”.
ROBERT FULGHUM
Tão simples não? Às vezes nos perdemos em um emaranhado de teorias filosóficas (que são importantes claro) etc e tal... Mas de repente alguém nos lembra que já havíamos aprendido tudo isso bem antes.
O contraponto é a doce voz de Fernanda Takai cantando uma das últimas canções gravadas por Nara Leão, “Descansa Coração”, uma música triste, sofrida, mas linda de doer...
Falar de amor pode até ser clichê, mas em “Apenas o Fim” (2009) o amor é quase um atestado de idoneidade entre dois jovens universitários da classe média carioca.
Em plena faculdade Antônio (Gregório Duvivier) é procurado por sua namorada (Erika Mader), que lhe avisa que pretende fugir de casa e recomeçar a vida em outro local. Ele tenta convencê-la do contrário, sem sucesso. Os dois concordam em passar a próxima hora juntos, relembrando momentos do passado e imaginando o futuro.
Primeiro filme dirigido por Matheus Souza, “Apenas o Fim” é composto pela simplicidade. Uma única locação, o campus da PUC no Rio de Janeiro, pouco dinheiro investido para um longa, boas idéias e longos e divertidos diálogos que podem esconder aspirações maiores que apenas entreter o público em uma sala de projeção de cinema.
Cheio de referências ao universo pop de uma geração, como "Cavaleiros do Zodíaco", "Power Rangers" e Backstreet Boys, o cineasta e roteirista afirma que o filme é para ser visto por todos.
E lá pelas tantas quando parece que o filme vai murchar, surgem frases que comprovam a estirpe de um bom roteiro:
- Você é uma fraude, sabia? Uma fraude!
Bem bonitinha, mas uma fraude.
- Você foi feliz comigo de verdade?
- Não. Mas a culpa é minha!
- O que você mais gosta de mim?
- Eu gosto do jeito que você toca flauta com o nariz.
- Você não é tão diferente assim, preciso te informar isso.
- Boa parte desse monstro que sou hoje é culpa sua.
- Eu sou aquela vontade que dá, de repente, de tomar Fanta Uva.
- Você é o Menthos.
- Qual o homem mais bonito do mundo pra você?
- Chico e o Johnny Depp.
- Não pode ser outro?
- Você vê filmes demais. Vai acabar me amando pra sempre.
- A gente se perdeu no momento em que a gente se encontrou.
- Vocês mulheres tem uma visão completamente equivocada do que nós pensamos sobre as mulheres. Qual a mulher que a gente mais respeita? Não é a nossa mãe que mostra o peito pra gente logo no primeiro encontro?
- Descobrir que a vovó Mafalda era homem
foi traumático para toda uma geração.
- Eu vou sentir falta das suas mãos quentinhas.
- E eu do seus pés, sempre gelados.
- Você acha que iria gostar de mim se eu não fosse tão complicada?
- Acho. Gostaria sim.
- A única diferença entre a arte e a terapia
é que se eu deixar de escrever um dia, não pago a sessão.
- Você é meu chicletinho mastigado.
- O único lado bom de morrer de amor
é que você continua vivo.
- Você acredita em Deus?
- O problema não é saber se ele existe ou não.
É saber quando ele tá blefando.
- Desculpe. Eu não sei o que é ficar cansado de você.
- O que você acha mais importante: amor ou sexo?
- A primeira opção. Mas qual foi mesmo a primeira coisa que você falou?
- Se você ficasse eu faria de tudo para eliminar todos os meus defeitos,
mesmo não sabendo direito quais são.
E já no final do filme uma revelação devastadora:
- Isso é só o fim. O que importa já foi feito.
- E agora? Agora é o resto das nossas vidas.
Daí sobe a música dos Los Hermanos, Antônio então senta-se e assisti a namorada partir enquanto a melancolia vira arte.
Pois é...
-Você me ama?
- Falar sobre amor é clichê.
- Falar que falar sobre amor é clichê é que é clichê.
Na dúvida é melhor assistir de novo, porque em "Apenas o Fim" Matheus Souza conseguiu ir além do mero entretenimento.
Eis Mr. Phil Collins despejando um pouco de soul e, R&B em sua música pop.
Faixa de abertura do seu terceiro disco solo intitulado, “No Jacket Required” (1985), a dançante “Sussudio” foi um dos seus maiores hits durante a década de 80. O álbum ganhou o Grammy nas categorias Álbum do Ano e Melhor Performance Vocal Pop Masculino.
Atualmente o astro britânico encontra-se afastado da música devido a problemas de saúde e, embora tenha anunciado o fim precoce de sua carreira há dois anos, já parece estar arrependido da decisão: O cantor, compositor, e instrumentista disse recentemente que pretende lançar um novo álbum entre 2010/2011.
Por hora ficamos bem acompanhados ao som de “Sussudio”, uma boa pedida para esquentar um pouco este sábado de outono.
Dias desses passei à tarde na sala escura do cinema. Que delícia!
Assisti dois filmes que ainda não havia curtido na telona.
Hoje falarei de “Gran Torino” (2008) do genial ator e, diretor norte-americano Clint Eastwood. Não perco nenhum de seus filmes desde “The Bridges of Madison County”/As Pontes de Madison (1995), uma pérola da obra de Eastwood.
Neste longa, Clint vive o personagem Walt Kowalski, um polaco-estadunidense veterano da Guerra da Coréia, que tem problemas familiares, realçados após a morte da esposa.
Depois disso ‘Wally’ continua a morar em sua casa, contrariando os desejos dos filhos, que expressam a vontade de que ele vá morar em algum retiro para idosos. A velha questão de como a sociedade ocidental descarta seus anciões.
Kowalski mantém a sua rotina: ele, ex-funcionário da Ford, faz ocasionalmente consertos em residências e suas distrações são saborear uma cerveja na varanda e ir mensalmente ao barbeiro. Não tem amigos nem planos para o futuro.
Sozinho em um bairro do subúrbio de Detroit, nutre antipatia por seus vizinhos asiáticos, xenofobia que ele trouxe da guerra. Kowalski credita aos imigrantes a devastação da economia e do modo de vida estadunidense e não esconde seu desprezo ao ver o filho dirigir uma Toyota, bem como aos vizinhos da casa ao lado da sua.
Sua rotina, no entanto será alterada radicalmente após aproximar-se de dois jovens vizinhos, os irmãos Sue e Thao. Sue lhe introduz à cultura hmong, etnia do Sudeste Asiático da qual faz parte.
Daí em diante assistimos um desdobramento de coragem para retroceder quando descobrimos que estamos errados, fé e fidelidade nos laços de amizade erguidos a partir do autoconhecimento, da abertura a outros olhares e, no prazer em dividir experiências.
Durante a exibição lembrei bastante do meu pai. Compreendi que as dores de uma vida estão enraizadas muitas vezes por falta de um abrigo, de um porto seguro, que a família (que deveria ser esta rocha) em certos momentos desfaz, omite, finge não ver covardemente. A sensação de desamparo deve ser terrível.
“Gran Torino” é um filme comovente, sutil, afetivo, e desafiador para todas as gerações, sobretudo para as mais jovens.
Trilha Sonora Artista: Jamie Cullum Música: Gran Torino
Alguém despediu-se deixando este poema e esta linda cena. Não sei o que fará de sua vida, espero apenas que suas convicções sejam firmes. Dizer, ou, receber um adeus é sempre algo doloroso.
Espero que de fato haja um dia para um reencontro.
Mar Adentro
"Mar adentro, mar adentro
e nesse fundo onde não há mais peso,
onde se realizam os sonhos,
se juntam as vontades
para cumprir um desejo.
Um beijo acende a vida
com um relâmpago e um trovão,
e em uma metamorfose
meu corpo já não é mais meu corpo
é como penetrar o centro do universo
O abraço mais pueril
e o mais puro dos beijos,
até vermo-nos reduzidos
a um único desejo:
Seu olhar e meu olhar
como um eco se repetindo, sem palavras:
mais adentro, mais adentro,
até mais além de todo o resto
pelo sangue e pelos ossos
Mas me desperto sempre
e sempre quero estar morto
para seguir com minha boca
enredada em teus cabelos"
Esta música fez bastante sucesso nas pistas de danças da Europa lá pelos idos de 1983. Trata-se de uma balada tecno pop defendida com louvor pelo alemão Peter Schilling.
Gosto da atmosfera da canção – que combinou muito bem com as cenas deste clipe – uma viagem por uma galáxia musical empoeirada é verdade, mas ainda divertida.
Peter Schilling continua na ativa na Alemanha e, deve recordar com alegria de sua façanha de outrora.
Hoje é um dia especial. Depois de dois anos me sinto pela primeira vez curado.
Independente do que aconteça em uma certa reunião, eu já sei de uma coisa: Me sinto mais vivo do que nunca. E assim será de agora em diante, não importam as situações, porque quando você supera as suas dificuldades mais extremas uma transformação profunda acontece em você.
Eu falo de peito aberto e, cabeça erguida. Como é bom amadurecer, deixar a vida te levar, fazer com que tudo seja natural. Dei tempo ao tempo, curei minhas feridas, elevei meu espírito, minha mente, minha saúde, aprendi que o respeito e o amor próprio são pilares para grandes mudanças.
Eu me recordo agora de um filme que assisti exatamente há dois anos atrás quando estava na lona: “Saint Ralph”/Em Busca de um Milagre (2004).
Situada em Hamilton, em 1954, o filme conta a incrível história de Ralph Walker, um estudante de 14 anos que supera as expectativas de todos ao tentar vencer a Maratona de Boston.
Órfão de pai e com uma mãe muito doente, ele sabe que é uma bomba-relógio prestes a explodir em grandeza, embora não faça a mínima idéia de onde essa grandeza se manifestará. Quando Ralph é inscrito no time de cross-country como penalidade, ele descobre uma maneira de manifestar suas habilidades e acredita, desesperadamente, que poderá realizar o milagre que tirará sua mãe do coma.
Há cenas marcantes neste filme, nas quais eu me apoiei e pude vivenciar nos últimos 24 meses. Além de tudo foi este pequeno e singelo filme que me fez colocar os pés no asfalto. Assim vou peregrinando ao som de Neneh Cherrey em uma terça-feira muito especial.
Sidney 1993. A Zoo TV do U2 chegava ao final com todas as suas novidades tecnológicas.
Bono encarnava um alter-ego, Mr. MacPhisto, terno dourado rosto maquiado, lábios com batons assiste a banda introduzir a climática balada “Love is Blindness” composta em homenagem a diva Billie Holiday.
A canção e a turnê encabeçavam o antológico álbum Achtung Baby (1991), uma das vezes em que a banda reinventou sua carreira, talvez a principal delas.
No disco a canção passou batida, mas no show não havia como deixar de perceber a beleza da atmosfera da canção, além do comovente solo de guitarra de The Edge.
Pronto. É a deixa para uma linda garota australiana subir ao palco e dançar lentamente com Bono, a cena é divina, enquanto The Edge arrasa corações com sua guitarra...
Eu já não saberia se sonho com a música, com a garota, com Bono ou The Edge, até que ecoam os acordes da última canção do espetáculo...
Elvis paira sobre o palco, nos falsetes majestosos de Bono, eis a romântica “Can't Help Falling In Love” fechando com elegância e muita emoção um dos melhores shows da longa carreira da banda irlandesa.
Vale o sonho, vale o registro da memória musical, de uma noite histórica e inesquecível.
Trilha Sonora
Artista:U2
Música: Love Is Blindness e Can't Help Falling In Love
Paulistanos são engraçados. Eu corro dia sim, dia não ao redor de uma praça próximo à minha casa.
Toda vez que passo correndo não deixo de notar o pavor estampado no rosto de alguns moradores com aquele sujeito ‘estranho’ que pratica cooper em horário tão suspeito.
O semblante deles traduz tudo:
- Será que é um ladrão? Ele vai roubar o meu carro...
-Um seqüestrador? Aí meu Deus deixa eu me trancar dentro de casa.
-Talvez, um maníaco disfarçado? Já teve o do parque esse pode ser o do Cooper! Socorro...
Isso tudo me diverte um bocado – a insanidade das pessoas ditas normais, mas afinal de contas quem é normal? Você é normal?
Bem, eu acho que sou...
São Paulo é ao mesmo tempo uma megalópole e, também uma província. Talvez seja esse apelo que me encante tanto nesta polis.
A urbanidade versus o ruralismo ainda presente nos traços psicológicos do individuo que por não conhecer quem passa correndo de frente à sua casa já teme pelo pior.
Na trilha sonora a queridinha dos descolados de sampa, Tiê, um som bacana pra domingo à tarde pelo parque, ou, pelas ruas e avenidas da metrópole.
No sábado passado uma repentina gripe acometeu-me. Mesmo assim a noite fiz questão de ir ao show de Dionne Warwick. Impressiona muito o fato de Dionne estar beirando os setenta anos, e mesmo assim continua na ativa com alegria e elegância.
Foi um show bonito, sereno, onde em alguns momentos lembrei com nitidez da frase da canção Força Estranha de Roberto Carlos gravada por Caetano Veloso:
"Eu vi muitos cabelos brancos na fonte do artista O tempo não pára no entanto ele nunca envelhece".
E ali estava Dionne cantando com seu filho David Elliot – também de voz abençoada – sem fazer muito esforço, parecia que estava conversando conosco enquanto desfilava sua elegância vocal a cada nota.
Não esperava, mas fui às lagrimas quando Dionne entoou “That's What Friends Are For”, uma belíssima canção de autoria do amigo Burt Bacharach, com a qual ela, Stevie Wonder e, Elton John contribuíram para arrecadar dinheiro na luta inicial contra a AIDS em 1985.
O show ainda contou com a participação de Ivan Lins, rouco, gripado, mas tocado pela simpatia e talento de Dionne.
No final do show renovei uma certeza: Artistas como Dionne deveriam ser eternos como os diamantes.
E são!
Trilha Sonora Artista: Dionne Warwick, Stevie Wonder, Luther Vandross and; Whitney Houston Música: That's What Friends Are For
“Olha o beijo partido Onde estará a rainha que a lucidez escondeu? Hoje não passa de um vaso quebrado no peito...” (Milton Nascimento)
O mundo e sua sina: criaram o dia do beijo, talvez na esperança que isso consiga tocar corações petrificados por um cotidiano preso a roda viva do trabalho, dinheiro, sucesso.
Trilha Sonora Artista: Sixpence None The Richer Música: Kiss Me
Não. Sharon Jones não é uma diva da soul music dos anos 60. Ela vive no século 21 mesmo, e canta pouco não?
Embora tenha nascido em meados da década de 50 do século passado, a norte-americana que cresceu cantando em corais de Igrejas na Geórgia, teve muita dificuldade até conseguir um contrato decente com uma gravadora.
A ajuda veio da polêmica cantora britânica, Amy Winehouse, que ouviu Sharon e percebeu o desperdício em deixar uma voz de características potente e profunda como a de Sharon Jones distante do grande público.
O estilo de Jones remete diretamente ao som produzido por selos sessentistas da música negra americana, Motown e Stax. Durante os anos 70 a cantora tentou por diversas vezes emplacar uma carreira mais sólida, não logrando êxito.
Neste caso vale aquele velho ditado: antes tarde do que nunca! Ainda bem!
Trilha Sonora Artista: Sharon Jones and; The Dap-Kings Música: 100 Days, 100 Nights
O The Jam é figurinha fácil neste acervo. Não canso de achar graça na música do trio inglês dos 80’s. Cru, direto, coeso, definições básicas para uma boa banda de rock.
Fiquei sabendo que no velório de um tio de um amigo meu londrino, esta música foi tocada na entrada do caixão na igreja. Seu tio era fanático pelo The Jam, tanto que tornou quase obrigatória a presença de Paul Weller ao evento...
Ontem fui dormir ouvindo este som, de repente já não sabia mais se dormia ou dançava. Vieram à mente logo de cara bandas como, The Smiths, The Jesus and Mary Chain e My Bloody Valentine, além das trilhas sonoras e dos filmes do diretor norte-americano John Hughes, Jr., sobretudo, “The Breakfast Club” (1985)/Clube dos Cinco, “Weird Science” (1985)/Mulher Nota 1000, “Ferris Bueller's Day Off” (1986)/Curtindo a vida adoidado e, “Pretty in Pink” (1986)/A Garota de Rosa Shocking.
À meia-noite estava no meio da ‘sessão da tarde’, tudo ficou tão leve, deu pra esquecer tantas coisas tristes que a gente presencia no cotidiano. Embora a arte não exista para desviar sofrimento, longe disso, mas um solinho de guitarra ainda me faz sentir vontade de quebrar as velas, sonhar e viver muito.
Parece que foi ontem. Nasceu como parte lúdica dentro de um longo tratamento contra a depressão. Foi assim que surgiu o acervo pop, no meio da tempestade. E ele foi andando, muitas vezes solitário - já que só recentemente foi que de fato decidi que já era hora de convidar mais olhares, opiniões, pensamentos, ou mesmo apenas visitas a este espaço na blogesfera.
Do primeiro post(veja aqui) até hoje muita coisa ganhou forma, outras ideias desapareceram, mas o mais importante foi manter o acervo com carinho, amor e respeito. Sempre fui acusado de não conseguir terminar o que começava e, em alguns casos foi a mais pura verdade, pois foi aqui que percebi que isso importa mais quando produzimos conteúdo daquilo que amamos, acreditamos, lutamos. Aprendi também ser possível seguir em frente mesmo em meio a tormenta, ao desemprego, a dor que vez por outra aparece na alma.
Agradeço a todos que por aqui circulam com ideias, questionamentos, críticas, palavras gentis, de incentivo, porque o acervo pop sem a participação de vocês, não existiria, perderia qualquer sentido.
Deixo uma frase que continua a mover o meu espírito a cada alvorecer:
As Indagações
"A resposta certa, não importa nada: o essencial é que as perguntas estejam certas".
Luiza andava apressada pela rua. Era a manhã de um novo dia, agenda livre, sonhos fartos.
Havia alguns dias que ela andava triste, sem falar pelos cotovelos como de costume. Luiza estava quieta e, vagava cabisbaixa expondo andrajos soturnos. Da sua bolsa sacou um dropes de anis, um lindo óculos de sol Chanel e observou o céu cinza enevoado daquela manhã, ainda assim preferiu usar o óculos.
Andou pelas ruas do bairro sem compromisso, apenas ouvia o gorjear dos pássaros em meio ao tumulto do vai-e-vem dos automóveis.
Alcançou a alameda das lojas. "Quanto luxo!", pensou ela.
Ali à frente uma pequena loja de esquina chamou-lhe a atenção: uma garota – a vitrine viva – inerte, pausada, inanimada figura vendendo acessórios de retumbante moda. Quase morta, uma garota de lindos olhos azuis, cabelos loiros, curvas sensuais, estatura acima da média, longas pernas e, rosto dócil.
De repente sentiu que deveria retornar a fachada da loja. Foram horas de plantão esgueirando-se para memorizar àquela visão.
Luiza não aguentou, adentrou à loja feito uma heroína daquelas de desenho animado – queria salvar sua vitrine viva.
Então descobriu que Mariana ali estava para ensaiar sua postura, pois nem modelo aquela linda moça era. Mariana, 19 anos era uma jovem atriz, filha da dona do fino estabelecimento. Daquele encontro surreal nasceu uma amizade avassaladora que renderia um bom romance.
Desde então todos os dias, fizesse sol, chuva, ou frio, lá estava Luíza pela alameda procurando Mariana na vitrine. Nunca mais se viram, sua visão ficou intacta e sua dor latente.
Luiza recolheu-se ao seu quarto. De lá não saiu mais, de quando em vez, entretanto, olhava pela janela para contemplar o dia.
Parece o mar
Em suas ondas oscilantes
Da calmaria à tempestade
Em poucos segundos
Da serenidade à loucura
Som e fúria
Paixão,
Acalanto e desespero
Morte e vida.
Mas lá na telona a cena final de “Bastardos Inglórios” (2009) me fez acreditar que eu adoraria lotar um auditório para uma grande e inesquecível festa.
Convidaria as pessoas mais desprezíveis deste mundo (aqui cada um de nós possuí a sua própria lista) e daria a elas aquilo que costumam receber em todos os lugares por onde passam: bajulação, muita bajulação...
A noite seria longa, até o ápice: trancaria todas as saídas, não deixaria testemunhas por perto, o que incluí anteriormente, a liberação para que todos os paparaziz adentrassem ao recinto, ao ninho das vespas, cobras, víboras, ou, qualquer coisa que o valha.
Após o soar da terceira sineta – uma penumbra recairia sobre o ninho, uma grande tela desceria do teto, gelo seco perfumaria aquela confraternização cafajeste, adernada por néons, luzes estrábicas, uma noite regada a caviar e muito prosseco.
E então um videoclipe ensandecido ecoaria a frase:
“e depois do começo o que vier vai começar a ser o fim”... inúmeras vezes até o incêndio fatal, grandiloqüente, que até faria Nero sentir uma pontinha de ciúme.
São os delírios que só alguém como Quentin Tarantino pode deixar-nos de herança após rever “Bastador Inglórios” na quinta-feira passada.
Eu devo ser mesmo um garoto atormentado e sádico – ouvindo The Smiths – e escrevendo sobre Tarantino – ora, mas o que seria da vida sem a contradição?
E aqui entra em cena a razão do plural no título deste post. Dizem que a gente é mais feliz na infância, deve ser mesmo verdade, se não vejamos:
Antonio Carlos Tissot Júnior, para os mais íntimos apenas Júnior, o meu vizinho, amigo, e antes de qualquer coisa, um incendiário talentoso. Júnior foi o cara que colocou caraminholas na cabeça tola de uma criança até então cristã.
Apenas peço, caso haja algum psicólogo lendo este texto que não seja tão rigoroso comigo, já que incendiários na infância quase sempre tornam-se adultos pacatos. Será mesmo? (música de suspense).
Na infância apanhei um bocado, ás vezes por causa das peripécias em conjunto com o Júnior, outras vezes por outros motivos banais.
Adorávamos montar aqueles aviões da Revel, eram tão bonitinhos, mas depois de tudo decalcado, maravilhosamente pintado, vinha aquela vontade insuportável de simular uma grande tragédia, ou, apenas uma cena corriqueira de alguma das tantas guerras que os americanos tanto amam. Ah, lá estava aposto o isqueiro da Dona Ivanir, a mãe do Júnior.
-Fumaça negra... é o aviso...vai explodir....Buuummmm!!!!!
Tudo pelos ares, que delícia!
Acho que o Tarantino também tinha um Júnior em sua vida. Mas ele soube agregar melhor valor a suas memórias de infância.
Nada escapava a fúria infantil, carros bonitões, bonecas das minhas irmãs (xiiii...agora elas descobriram que elas não foram abduzidas), brinquedos do Antônio Augusto irmão mais novo do Júnior, soldadinhos de guerra (eram em geral as nossas principais vitimas), e outras cositas más.
Recordo-me que houve apenas uma exceção...Por favor psicólogos de plantão não julguem-nos a frio: adivinhem...
Falcon! Ele mesmo, o boneco que na virada dos anos setenta para os oitenta era a coqueluche entre a molecada, o nosso herói barbado e suas mil e uma faces. Falcon escapou ileso, nunca cogitamos fazer dele uma espécie de Joana D’Arc da Coronel Augusto Machado, nome da rua que morávamos.
Depois de tanto tempo reencontrei o Júnior no casamento da sua linda prima, a Daniela.
Ele também casado e sem filhos parecia feliz, embora já tivesse passado dos trinta assim como eu. Conversamos bastante, lembramos das traquinagens, dos outros colegas, falamos da vida, fiquei muito feliz por seu avô materno ainda estar vivo e saudável, e de repente por alguns minutos compreendi que os elos mais sólidos são formados exatamente em meios às diferenças.
Isso já faz tempo, sinto saudades daquilo que somente a memória pode nos conservar intacta.
Eu não saberia dizer aonde, quando e o porquê, mas nos meus sonhos o incêndio ainda não cessou.
Harmonias celestiais, músicas ensolaradas, e de difícil classificação. Adoro os Beach Boys, talvez por tudo isso e um pouco mais.
Um dos poucos lugares dos Estados Unidos que vale a pena conhecer é sem dúvida a Califórnia e ponto.
Quer ouvir um disco extremamente fértil e que fez frente aos Beatles em plena década de 60? Então ouça “Pet Sounds” (1965) uma obra-prima composta por Brian Wilson e seus colegas de banda. Para muitos analistas musicais o álbum é o melhor de todos os tempos, vale a pena ouvi-lo faixa a faixa.
Em tempo, “Don’t Worry Baby” não faz parte deste disco, mas também é uma pérola musical.
Trilha Sonora Artista: The Beach Boys Música: Don't Worry Baby
No Brasil é assim: O que interessa para o povo não mobiliza a classe política. Assistindo a mais uma tragédia após chuvas torrenciais no Rio de Janeiro, me veio à mente uma indagação:
Por que existe dinheiro e mobilização política para eventos como as olimpíadas e a copa do mundo?
Por outro lado não há nada para prevenir, remediar, ou resolver de vez questões básicas como cuidar melhor das grandes cidades do país.
Plano para remover áreas de riscos nas encostas dos morros nem pensar. Dizem que há, mas não sai do papel. Pior, o dinheiro é desviado para atender outros interesses políticos, aqueles que convém muito bem para uma sociedade enlameada até a alma pela corrupção.
Será que alguém consegue explicar o inexplicável? Descaso...
Mais de uma centena de vidas perdidas e a culpa é só da chuva! Parece ser este o recado dos políticos do país.
A retórica do prefeito do Rio Eduardo Paes é similar a do Prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, parece coisa combinada, discurso pronto para enfrentar situações de crise.
Eles, os tecnocratas não se comovem com as perdas humanas.
Somos vistos apenas como uma possibilidade de votos para que eles alcancem o poder, o dinheiro. O estado faz vista grossa para as ocupações nos morros, e se há vidas habitando aqueles lugares é porque o estado é omisso, ausente, não está nem aí para qualquer tipo de risco. Os políticos são essencialmente insensíveis a qualquer espécie de drama real.
Depois que passar a comoção, os noticiários, tudo volta ao normal, ou seja, nada será feito. Assim vamos seguindo na desordem organizada pelos mesmos pilantras que daqui alguns meses virão a nós vestidos em pele de cordeiro pedir o nosso voto.
Os londrinos da banda Placebo desembarcam no Brasil na próxima semana. Brian Molko e sua trupe farão shows em Porto Alegre (13/04), Curitiba (14/04), Belo Horizonte (16/04) e São Paulo (17/04).
Quando brincava de ser DJ por uma noite sempre inicia o meu set com “You Don't Care About Us”, não sei bem ao certo a razão, talvez a batida da canção seja legal, pra cima, apesar da letra ir noutra direção.
Assisti dias desses “Herbert De Perto” (2009) direção de Roberto Berliner e Pedro Bronz. O documentário segue a linha das cinebiografias musicais sobre os nossos poetas urbanos do rock dos anos 80.
Sempre gostei muito da banda, da pegada da bateria de João Barone, um monstro das baquetas; o Bi-Ribeiro que executa seu contrabaixo com vontade e destreza e, lógico das mãos precisas de Herbert Vianna. Sua voz não é maravilhosa, mas seus versos e melodias compensam isso facilmente.
De família oriunda da Paraíba, foi durante a infância e adolescência um andarilho – já que o pai militar da aeronáutica por força do oficio estava sempre em ‘trânsito’.
O filme é sensível, às vezes pega pesado nos temas mais delicados – como o acidente de ultraleve sofrido pelo músico que vitimou sua esposa Lucy e o deixou entre a vida e a morte em um hospital no Rio de Janeiro. No geral é tudo muito bem delineado, e fica evidente a barra pela qual o cantor atravessou no pós 2001.
Logo no inicio um depoimento do próprio Herbert uma década antes do acidente que choca pela fatalidade:
“Acho que eu sempre consegui todas as coisas que eu quis e não vejo nada que eu não me sinto capaz de conseguir. Mesmo se a gente parasse e acontecesse uma tragédia, eu ia começar de novo e ia conseguir tudo de novo”.
Em seguida o Herbert atual solta o verbo: “Esse Mané não sabe nada a respeito do quê está dizendo”.
Aqui a humanização do filme atinge o seu ápice e justifica plenamente a existência da película.
O que há em comum entre a música e o futebol? Bem, talvez nada, ou, muitas coisas, parece óbvio.
Pelo menos quando você é ‘traído’ e de repente se vê pulando e cantando em uma arquibancada a favor do seu time de coração, a impressão que fica é que aquilo aconteceu por pura emoção. E como é bom vez por outra colocá-la para fora...sem amarras, simplesmente deixar rolar...
Futebol e música, uma tabelinha interessante, tal qual a dupla acima exercitando o doce prazer do encantamento mútuo. A sorte é nossa.
Em dias tumultuados nada como ouvir este personagem frenético que atende pela alcunha de Jarvis Cocker.
Visitei “Mr.America” e me arrepiei ao ter a certeza de que Andy Warhol sabia o quê e porque de sua arte: “no futuro toda a gente será famosa durante quinze minutos”.
Basta olhar as celebridades fúteis, ocas, os reality shows e, até mesmo lembrar (não faria isso nem a pau) a Nardoni Week.
Warhol retratou 13 criminosos na série “most wanted men”, composta por imagens de homens procurados pela polícia, que sacada genial.
Depois volto para resenhar com decência essa bela exposição.
Por hora ouçam o barbudo Jarvis despertando amores.