Nos idos dos oitenta Rita Lee deixou vir à tona seu lado mais romântico. Junto com Roberto de Carvalho criaram canções que pareciam fadadas ao descarte efêmero do fast food musical. No entanto a qualidade da parceria sobreviveu ao tempo e continua embalando amores antigos e novos com a mesma voracidade de três décadas atrás.
A vovó Rita tem de fato muita ‘coisinha’ bacana para mostrar aos seus netos...
E dá-lhe Rita...
Trilha Sonora Artista: Rita Lee Música: Mania de Você
O nome dela é Rio… diz a letra dos “novos românticos” ingleses.
Não dá pra discordar que os videoclipes do Duran Duran eram quase perfeitos: locações em lugares paradisíacos, mulheres bonitas, vestimenta top para os garotos da banda. Além do mais a música dos caras era bem representativa da fusão eletrônica/orgânica.
Há um relato de voz naquela voz,
tão retorcida voz, toda ela espanto.
o corpo que é voz tem um esgar
que deixa de ser corpo e é só voz.
se munch se dissesse, rediria
a voz candente, noite de gravura,
que é gravura e voz que firma a tela.
intensos tão meandros destes traços
que num itálico do grito a fala sente
o homem ser só grito, sem mais homem.
Às seis da manhã a noite terminou. Para ele a vida dava o seu último suspiro, sem nenhuma gloriosa despedida, nem sequer lágrimas de remorso, ou dores por seu passado de amarguras.
Dias antes o último adeus. Ciente da proximidade inevitável do fim juntou suas derradeiras forças para ir de encontro ao seu cofre particular em um renomado banco.
Resgatou dele um objeto guardando no bolso direito de seu casaco de couro. Ao chegar em casa discou para o número desejado e deixou um recado na secretaria eletrônica, era uma espécie inconsolável de dizer adeus.
Partiu sem vê-lo, nem mesmo ao longe. Sentiu apenas o perfume cítrico que costumava inalar quando o encontrava secretamente em noites e dias inesquecíveis.
As cinco e vinte daquela madrugada pediu ao seu enfermeiro que colocasse a sua canção predileta no Cd Player instalado propositalmente ao lado de seu leito:
Toque repetidamente até o raiar do dia, ou até cessar a minha respiração. Foi enfático, mesmo agonizando, o corpo, a alma, o coração.
And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure and the privilege is mine
No silêncio da manhã sobre o móvel do quarto - já vazio - o misterioso objeto: um porta retrato guardado como troféu, nele a imagem que carregou consigo para a eternidade.
Se não era amor, era da mesma família. Pois sobrou o que sobra dos corações abandonados. A carência. A saudade. A mágoa. Um quase desespero, uma espécie de avião em queda que a gente sabe que vai se estabilizar, só não se sabe se vai ser antes ou depois de se chocar contra o solo.
Quando Paul Weller e sua trupe subiram ao palco no Wembley Arena naquele 13 de julho, enfim eu conseguia um pouco mais além do que ouvir suas canções nas rádios.
Gosto das guitarras de You’re The Best Thing, embora essa não seja nem de longe a sua melhor versão. O Style Council não foi o projeto mais memorável de Weller, o The Jam era bem mais arrojado, original e espontâneo.
Mesmo assim a banda conseguiu lá o seu brilho e seus quinze minutos de fama.
Pensei que ela
fosse um dia mais diferente
do que esses dias
que eu costumo viver
Pensava ela no casamento
Eu no futebol
Era dezembro ainda me lembro o sol.
Ela dizia que parecia uma despedida
Calçou os sapatos, vestiu minha roupa
Já não cabia mais
Enquanto isso na lanchonete
Ela dizia que parecia uma despedida
Calcei os sapatos, vesti sua roupa
Já não cabia mais
Enquanto isso na lanchonete
Os dois se encontravam
E renascia...
Pensava ela na alegria
Eu no feriado
Ela dizia que esquecia
Não acredito não
Ainda me lembro era domingo.
Trilha Sonora Artista: Vanguart Música: Enquanto Isso na Lanchonete
Saio do paraíso saudoso da paz e da maneira simples e pacata de seus moradores. Vou pela estrada imaginando que a invenção célere da vida pós-moderna me aguarda tal qual o punhal de um assassino sedento por sangue e violência.
Parto pela primeira vez entristecido, mesmo indo para casa, o que comprova a tese de que apenas sofisticação, agito, narcisismo, e tantas outras “glórias” fajutas de fato não combinam muito com a minha maneira de enxergar o mundo.
Em compensação tenho um último compromisso pessoal neste ano em que a vida foi tão generosa comigo. Os 15 Km da São Silvestre me aguardam, e eu estou com a mesma ansiedade e dúvidas de um peregrino quando inicia uma caminhada por Santiago de Compostela, ou qualquer outra trilha que tire o ser humano por alguns dias da órbita angustiante do trabalho/dinheiro/poder...conjunções sempre perigosas e, quase sempre inúteis.
E assim vou me reinventando a cada manhã, faça sol, chuva, porque o trivial é vital no ciclo desta vida, engana-se que pensa diferente.
No ipoda então ouço a voz de Otis Redding rolando doce e rasgada na linda “Try A Little Tenderness”, enquanto pela janela do onibus os pingos da chuva constroem desenhos inusitados...
Onde trabalho presencio diariamente o fascínio que a figura de Michael Jackson exerce sobre as pessoas. Não precisa ser nenhum especialista para tecer tal comentário, mas repito, impressiona a comoção persistente que Jackson ainda hoje, pouco mais de um ano após sua morte continua exercendo sobre as pessoas comuns.
Suas referências artísticas perambulam entre Fred Astaire e James Brown e a partir de então trilhou um caminho próprio. Michael deu seu grito de liberdade artístico em 1979 com o lançamento do seu álbum “Off The Wall” uma jóia de muitos quilates produzida pelo mago e amigo pessoal Quincy Jones.
O que se viu adiante foi um artista que abandonou a singeleza de suas raízes para dar vazão à megalomania bem característica do show business, mas é bom frisar: seu talento não conseguiu ser ofuscado pelos sucessivos escândalos em sua atormentada vida pessoal.
Então eu imagino que Jackson tenha sido genial na condução perfeccionista de sua arte, sem no entanto ter o mesmo êxito na administração de sua saúde e sanidade.
Ainda me lembro aos três anos de idade O meu primeiro contato com as grades O meu primeiro dia na escola Como eu senti vontade de ir embora Fazia tudo que eles quisessem Acreditava em tudo que eles me dissessem Me pediram pra ter paciência Falhei Gritaram: - Cresça e apareça
(O Reggae- Renato Russo)
Uma das cenas inesquecíveis do cinema foi imortalizada por Judy Garland em O Mágico de Oz (The Wizard of Oz, MGM – EUA 1939), exatamente quando sua personagem Dorothy ao lado de seu cão Totó (que curiosamente era uma cadela na vida real) entoa de maneira comovente a canção “Over The Rainbow”.
Somewhere over the rainbow
Way up high
There’s a land that I heard of
Once in a lullaby
Somewhere over the rainbow
Skies are blue
And the dreams that you dare to dream
Really do come true (…)
Este filme sempre me intrigou. Talvez por ter sido rodado trinta anos antes da minha chegada ao mundo. Prefiro entanto creditar esse fascínio ao fato de sua narrativa conter um subtexto recheado de conflitos existenciais que forçam o ser humano a realizar a travessia da ponte da vida dos sonhos infantis para a margem estreita e árida do mundo adulto. O conhecido ritual da passagem.
Você pode indagar: mas qual é o elo entre Renato Russo, Judy Garland ou Dorothy (a atriz ficou tão marcada pelo filme que nunca mais se livrou da sombra de sua personagem mais famosa), e o mundo de OZ?
Aqui entra em cena o escritor indiano Salman Rushdie – aquele mesmo que escreveu o livro Versos satânicos (1989), que causou controvérsia no mundo Islâmico devido a este livro ter sido considerado ofensivo ao profeta Maomé. Em 14 de Fevereiro de 1989, a fatwa ordenava a sua execução proferida pelo Aiatolá Ruhollah Khomeini, líder do Irã, chamando o seu livro de "blasfêmia contra o Islã". Para além disso Khomeini condenou Rushdie pelo crime de "apostasia" - fomentar o abandono da fé islâmica - o que de acordo com a Hadith é punível com a morte. Isto porque Rushdie comunicava através do romance que já não acreditava no Islã.
Khomeini ordenou então a todos os "muçulmanos zelosos" o dever de tentar assassinar o escritor, e os editores do livro. Devido a perseguição Rusdhie foi forçado a viver no anonimato durante mais de uma década.
O autor indiano escreveu um ensaio intitulado “The Wizard Of Oz” parte integrante da coleção British Film Institute – Classics Series – (1992). Nele Rushdie confidencia que em sua infância ao assistir pela primeira vez “O Mágico de Oz” ainda em Bombaim, na Índia, sua vida começou a ganhar um novo sentido: ” O mágico de Oz (o filme, não o livro, que não li quando menino) foi minha primeira influência literária. Mais do que isso: lembro o que senti quando foi aventada a possibilidade de freqüentar escola na Inglaterra, algo tão excitante quanto qualquer viagem para além do arco-íris”.
O que torna a leitura deste rápido ensaio interessante é o ponto de vista peculiar de Rushdie acerca da obra cinematográfica dirigida por Victor Fleming – que abandonou as filmagens antes de seu final para rodar outro clássico “E o Vento Levou” também lançado em 1939. O filme é uma adaptação para o cinema do livro intitulado “The Wonderful Wizard of Oz” de autoria de L.Frank Baum, lançado originalmente em 1900. Frank Baum teria batizado seu mundo mágico inspirado pelas letras O-Z da última gaveta de seu arquivo particular.
Baum foi um sujeito que conheceu a fama e a desgraça em apenas duas décadas. Quando morreu em 1919 nem sonhava que vinte anos depois parte dessa história ficaria tão conhecida.
Após um tornado na cinzenta Kansas (no filme a vida em Kansas é retratada em preto e branco), Dorothy vai parar com sua casa e seu cachorro na fantástica Oz, onde as coisas são coloridas, bonitas e mágicas. Porém, o seu maior desejo é retornar de volta para casa, para isso ela deve encontrar um mágico, que lhe mostrará como realizar esse seu desejo. Para chegar até ele, contudo, Dorothy viverá uma aventura inesquecível através do caminho de tijolos amarelos acompanhada por outras personagens como o Homem de Lata que deseja possuir um coração; o Leão Covarde em busca da coragem dos seus ancestrais; e o esperto Espantalho que nunca é levado a sério. Essa é a sinopse mais rasa e óbvia da película.
A leitura de Rushdie traz um novo olhar para essa história que curiosamente foi rescrita para o cinema pelas mãos dos escritores Noel Langley, Florence Ryerson e Egar Allan Woolf, até alcançar a sua versão final. Aliás, no ensaio o autor indiano conta um pouco das tumultuadas histórias de bastidores – algumas bem tristes e bizarras, outras quase inacreditáveis tamanha as coincidências – como o fato do ator Frank Morgan que interpretou o Professor Marvel e o Mágico de Oz ter usado em cena uma sobrecasaca comprada em uma loja de roupas usadas que havia pertencido a nada mais nada menos que L.Frank Baum! (acredite se quiser!).
Mas qual é a visão diferenciada de Salman Rushdie?
Aqui transcrevo o trecho que julgo primordial para compreender que por trás de uma fábula que evoca uma suposta segurança fornecida pela família como na cena final quando Dorothy diz textualmente, “there’s no place like home” [Não há lugar como o nosso lar], pode existir um outro ideal mais convincente para o filme:
“O Mágico de Oz é um filme cuja força motriz é a inadequação dos adultos, mesmo dos adultos bons. No início do filme, a fraqueza deles força uma criança a assumir o controle do próprio destino (e do de seu cachorro). Assim, ironicamente, ela começa o processo de se tornar adulta também.
A jornada de Kansas a Oz é um rito de passagem de um mundo em que os pais substitutos de Dorothy, tia Em e tio Henry, não têm a capacidade de ajudá-la a salvar seu cachorro, Totó, da saqueadora Miss Gulch para um mundo onde as pessoas são do seu tamanho e no qual ela nunca é tratada como criança, mas sempre como heroína.
Ela conquista esse status por acaso, é verdade, não tendo desempenhado papel algum na determinação com que sua casa esmaga a Bruxa Má do Leste; porém, ao final da aventura ela, sem dúvida, cresceu o suficiente para calçar aqueles sapatos - aqueles famosos sapatos de rubi. "Quem haveria de dizer que uma menina como você iria destruir a minha bela perversidade?", lamenta a Bruxa Má do Oeste enquanto derrete - um adulto que se torna menor que uma criança e deixa seu lugar para ela. Enquanto a Bruxa Má do Oeste "diminui", vê-se Dorothy crescer.
A meu ver parece mais satisfatória essa explicação do poder recém-conquistado de Dorothy sobre os sapatos de rubi do que as razões sentimentais fornecidas pela inefavelmente chocha Bruxa Boa Glinda, e depois pela própria Dorothy, naquele final enjoativo que considero pouco fiel ao espírito anárquico do filme”.
Aqui então traço um paralelo entre a letra de Russo e a aventura de Dorothy Gale [ventania em inglês]. O cinza monocromático da Kansas pré-tornado não difere muito do deslocamento social causado a uma criança em seu primeiro dia na escola. E a inadequação dos adultos em relação às verdadeiras necessidades de uma criança não destoa nem um pouco da ficção para os acelerados dias do século 21.
Na leitura de Rushdie a Dorothy de Kansas age ainda como uma criança, ou seja, de maneira imatura: “Tia Em está passando a descompostura que é o prelúdio de um dos momentos imortais do cinema. Você sempre fica aflita à toa...vê se acha um lugar onde não arranje problemas! Então Dorothy pergunta a seu cão: Algum lugar onde não existam problemas. Você acha que existe um lugar assim, Totó? Deve haver”. Em seguida ela canta “Over The Rainbow” o hino que celebra a fuga, a busca por um outro lugar no mundo, em oposição ao desejo humano de fincar raízes.
Já quando se depara com os problemas na colorida Oz, essa mesma menina os enfrenta como uma nova atitude. Dorothy amadureceu. Cresceu!
Ao final do ensaio o autor nos brinda como uma visão mais real do que representaria um lugar como Oz para Dorothy:
“Então Oz finalmente tornou-se o lar; o mundo imaginado tornou-se o mundo real, como se torna para todos nós, porque a verdade é que tão logo deixamos para trás os lugares de nossa infância e começamos a construir nossas vidas, armados apenas com o que temos e somos, compreendemos que o verdadeiro segredo dos sapatinhos de rubi não é que “não há lugar como nosso lar”, mas, antes, que não existe mais tal lugar como o lar:salvo, é claro, o lar que criamos, ou os lares que são criados para nós, em Oz: que é em qualquer parte, e em toda parte, mas não no lugar de onde começamos”.
O adulto que nega a uma criança a importância da mesma para sua vida, está criando um ser humano traumatizado e partido pela dor da negligência! Não ouvir, ou melhor, não estar o suficientemente desarmado para se abrir ao mundo e dificuldades de uma insegura criança é o mesmo que projetar uma casa sem os seus alicerces.
E quantas crianças cresceram sem conseguir ultrapassar o ritual da passagem à maturidade pela inabilidade dos seus responsáveis? E quantos adultos ainda estão peregrinando pelos divãs psiquiátricos a procura dos poderes mágicos de seus sapatinhos de rubis?
“Me pediram pra ter paciência/Falhei/Gritaram: - Cresça e apareça!”.
Oz sempre esteve dentro de nós; mas para alguns ainda não havia chegado o dia do vendaval; o dia em que o preto e branco torna-se colorido e a vida então ganha um saboroso novo sentido, e com uma surpreendente força real!
Nesta canção de Bowie – que foi regravada pelo Nirvana em seu acústico para a MTV (1993) pouco antes da precoce morte de Kurt Cobain em 1994 – ouvimos uma linha inspirada de contrabaixo.
Se você tiver que prestar atenção em algo nesta canção para além da voz sedutora de Bowie então ouça os detalhes da linha melódica do contrabaixo elétrico, uma delicia de aula prática de como trazer uma boa cozinha para frente do palco sem forçar nenhuma barra.
“Método... Método”, dizia o poeta quase agonizante em um estúdio de gravação.
Se ouvirmos com atenção esta balada de Renato Russo, perceberemos que a mensagem é bem simples: “viva tudo o que puder”. Alguns meses após a gravação, já debilitado pela doença, Renato partiria deixando um disco muito triste como último trabalho.
“Esperando Por Mim” é um raio x dos últimos dias de vida deste artista tão intenso.
É de fato muito dificil ouvir o disco “A Tempestade” (1996) porque nele escutamos o canto do cisne de Renato, até o fim sincero, disso ninguém pode se queixar.
Trilha Sonora Artista: Legião Urbana Música: Esperando por Mim
Nas doze badaladas eu de repente me recordei de “Adios Nonino” do majestoso Astor Piazzolla.
Melancolia à flor da pele, e quem foi que disse que los hermanos não sabem bailar e jogar futebol?
Fala sério! Simplesmente Divino!
Festival de jazz de Montreal 1980. Acompanham Piazzolla e seu Bandoneón, os músicos: Pablo Sigler (piano), Oscar Lopez Ruiz (Guitarra), Hector Console (Contrabaixo) e, Fernando Suarez Paz (Violino).
A sabedoria aos 96 anos de idade. Uma das vantagens de manter os pés na estrada é a de conhecer pessoas que provavelmente não conheceria, caso estivesse preso em um escritório na caótica São Paulo (que eu amo diga-se de passagem). Assim sendo a figura da Dona Leonor é factual, ou melhor, visceral.
“Meu filho a vida não deve ser nem triste/nem alegre/apenas viva/lute por aquilo que vale a pena”.
Lembrei da metáfora do bambu: Eles possuem os seus nós, mas crescem acima das emendas. Pode vir sol, chuva, vento, tempestades, eles vergam é verdade, mas não caem.
The Killers para celebrar a lucidez da Dona Leonor. Quem vive apenas procurando ‘felicidade’, esquece que a vida é simples.
Entre em campo e jogue meu filho, o resto... Bem, o resto...
E amanheceu um dia tão triste. Se é que um dia vivo pode ser considerado triste. Eu ligo o meu velho 'radio gaga' e ouço Brett rasgando sua alma na canção "Leaving" um bonus que eu ainda não conhecia.
Nem tudo está perdido, penso em voz alta para mim mesmo...
Por quantos séculos habitaremos ainda este planeta?
Por quantos segundos continuarei a sentir essa sensação de abondono?
Por quantas horas ouvirei o lamento do cantor, do poeta, da minha própria alma?
Assisti dia desses o documentário "The U.S. Vs John Lennon". Confesso que ao final me deu uma baita vontade chorar, e muito.
John Lennon foi um artista especial. Dos Beatles foi aquele que teve coragem de pisar em terrenos digamos, não muito confortáveis. Sua verve inventiva foi capaz de gerar situações impensadas, atitudes políticas e sociais de confronto contra o poder constituído, sobretudo quando mudou-se para Nova-Iorque com Yoko Ono.
Quando John foi assassinado, o mundo chorou, ou parte dele. No próximo dia 8 serão exatos trinta anos sem a presença física de John, já que sua música e sua coragem artística continuarão perpétuas enquanto houver injustiça neste planeta.
Clássico dos anos 90 da música alternativa, "The Boy With The Arab Strap" foi também a primeira música do Belle And Sebastian que ouvi na vida. Valeu a pena!
A banda foi rotulada com adjetivos tais como, 'o primor das composições fofas'. Pode até ser, fofos e descolados.
De um jeito, ou, de outro, a banda é presença constante durante as minhas viagens a bordo do meu ipod.
Arnaldo Jabor com sua ironia cínica e corrosiva deu a partida: “Seja um idiota, a idiotice é vital para a felicidade”. Então sejamos idiotas, fechemos nossos olhos, ignoremos pelo menos por alguns instantes a dura realidade cotidiana, se for possível é claro!
Daria para esculhambar muito, escrever sobre acontecimentos bizarros e bárbaros que acontecem no Brasil. Prefiro, no entanto propor um brinde:
Um brinde a nossa capacidade étnica, a nossa coragem invejável, aos nossos devaneios!
Saúde, povo brasileiro!
Trilha Sonora Artista: Legião Urbana Música: Perfeição
Gérard Depardieu é Alain Moreau, um cantor que faz sua vida em boates locais, chás dançantes e convenções de empresas. Ele sabe que nunca será um grande artista, mas ama cantar e esta é a sua vida até encontrar Marion (Cécile De France), uma mãe solteira com um triste passado.
A partir de então assistimos Alain Moreau atingido em cheio pelo entusiasmo típico que o amor é capaz de causar em alguém, assim mesmo, de repente. Esta é uma possível sinopse para o filme "Quand J'étais Chanteur", mas não é tudo.
A canção de Michel Delpech aparece na cena final interpretada por Gérard Depardieu. Um desfecho sensível para uma estória interesante.
Foo Fighters e Norah Jones embalam a minha segunda-feira em uma bela cidadezinha no interior paulista. É como se eu estivesse em uma sala de espera ouvindo o meu musak “Virginia Moon”.
Serena é a vida quando permitimos que assim ela seja, apesar dos problemas...
“Só os que um dia perderam a cabeça sabem raciocinar " (Oscar Wilde)
Talvez essa seja uma das variáveis que fazem hoje do belga, Brian Molko, um artista despido, que se entrega e, se revela como poucos sobre o palco e, em suas letras.
À frente dos vocais da banda britânica
Placebo, o dândi Molko construiu uma reputação respeitável no cenário do indie rock.
Esta canção, “Peeping Tom”, carrega em si um turbilhão de sentimentos, em uma terna e comovente interpretação de Molko.
Me faz lembrar um amigo poeta, Nivandro Vale, que curiosamente também canta, compõe e sabe muito bem traduzir as emoções que carregamos na alma. Ele adora o Placebo.
E quem nunca viveu uma história semelhante a do romance “Norwegian Wood” do japones Haruki Murakami? Quem nunca se apaixonou pela namorada do melhor amigo? Assunto um tanto espinhoso, mas ao mesmo tempo instigante.
Formado por Luiz Bueno e Fernando Melo, o Duofel, é mais que meramente um dueto instrumental: é um estado de espírito. A dupla mistura Beatles com viola caipira e, elementos distintos de diversos universos musicais. Ouvir "Do Outro Lado do Oceano" sossega e renova a alma.
Uma ótima pedida para uma sexta-feira tranquila...tranquila...
Essa foi a minha primeira postagem neste blog. Adoro a canção, gosto do texto, por isso o repeteco.
Existem músicas que devoram a sua alma, corrompem os seus sentidos, e te fazem perder o rumo. A canção “This Time” da banda inglesa Suede, é um bom exemplo destes casos.
O Suede foi uma das mais bem articuladas bandas dos anos 90, revivendo os melhores dias do glam rock inglês da década de 70 e, de quebra, dando o pontapé incial ao Britpop.
Antes mesmo de Blur e Oasis atingirem o topo das paradas, a gênese criativa de Brett Andresone Bernard Butlerinvadiu o cenário pop da juventude cosmopolita londrina durante os últimos anos do século XX. Fortemente influenciados pelo camaleão David Bowie, o Suede deixou para posteridade pelo menos dois grandes álbuns: Suede (Março de 1993, Nude Records) e, Dog Man Star (Outubro de 1994, Nude Records).
A sonoridade de “This Time”, gravada no álbum duplo Sci-Fi Lullabies (Nude 1997) - uma compilação de lados B registrada já sem o vigor dos riffs da guitarra de Bernard Butler - é cortante, uma balada movida por uma emoção delicada. O piano de Neil Codling é simplesmente comovente, se você estiver então em um dia ruim, nem ouça! As lágrimas certamente cairão como a chuva no meio de uma tempestade.
A doçura na voz límpida e sedutora de Brett Anderson é também responsável por esta menção honrosa a esta linda balada:
"Oh, Day after day, every morning/The city sighs and cars collide"
Canta Brett respaldado pelas singelas palavras que abrem uma constatação premente a nós jovens urbanos: o tempo se esvai quando não estamos com quem amamos.
Já pensou o que faz um jovem inglês aos domingos? Pois bem, por lá o sol não costuma dar as caras, e mesmo em um dia nublado um passeio por um dos belos parques da cidade de Londres certamente fica mais interessante e gostoso ao lado da pessoa amada. Mas e quando não se tem alguém para dividir esse passeio?
A canção destroça o que restou dos nossos corações no solo final da guitarra de Richard Oakes, machucando por entre a melodia tristonha, e pintando em nosso imaginário um dia nublado, chuvoso e marcado pela solidão e indiferença das grandes cidades urbanas.
Por fim, a canção descreve bem em verso, prosa e, melodia o que a ação do tempo produz sobre nós seres humanos.
Falar de amor pode até ser clichê, mas em “Apenas o Fim” (2009) o amor é quase um atestado de idoneidade entre dois jovens universitários da classe média carioca.
Em plena faculdade Antônio (Gregório Duvivier) é procurado por sua namorada (Erika Mader), que lhe avisa que pretende fugir de casa e recomeçar a vida em outro local. Ele tenta convencê-la do contrário, sem sucesso. Os dois concordam em passar a próxima hora juntos, relembrando momentos do passado e imaginando o futuro.
Primeiro filme dirigido por Matheus Souza, “Apenas o Fim” é composto pela simplicidade. Uma única locação, o campus da PUC no Rio de Janeiro, pouco dinheiro investido para um longa, boas idéias e longos e divertidos diálogos que podem esconder aspirações maiores que apenas entreter o público em uma sala de projeção de cinema.
Cheio de referências ao universo pop de uma geração, como "Cavaleiros do Zodíaco", "Power Rangers" e Backstreet Boys, o cineasta e roteirista afirma que o filme é para ser visto por todos.
E lá pelas tantas quando parece que o filme vai murchar, surgem frases que comprovam a estirpe de um bom roteiro:
- Você é uma fraude, sabia? Uma fraude!
Bem bonitinha, mas uma fraude.
- Você foi feliz comigo de verdade?
- Não. Mas a culpa é minha!
- O que você mais gosta de mim?
- Eu gosto do jeito que você toca flauta com o nariz.
- Você não é tão diferente assim, preciso te informar isso.
- Boa parte desse monstro que sou hoje é culpa sua.
- Eu sou aquela vontade que dá, de repente, de tomar Fanta Uva.
- Você é o Menthos.
- Qual o homem mais bonito do mundo pra você?
- Chico e o Johnny Depp.
- Não pode ser outro?
- Você vê filmes demais. Vai acabar me amando pra sempre.
- A gente se perdeu no momento em que a gente se encontrou.
- Vocês mulheres tem uma visão completamente equivocada do que nós pensamos sobre as mulheres. Qual a mulher que a gente mais respeita? Não é a nossa mãe que mostra o peito pra gente logo no primeiro encontro?
- Descobrir que a vovó Mafalda era homem
foi traumático para toda uma geração.
- Eu vou sentir falta das suas mãos quentinhas.
- E eu do seus pés, sempre gelados.
- Você acha que iria gostar de mim se eu não fosse tão complicada?
- Acho. Gostaria sim.
- A única diferença entre a arte e a terapia
é que se eu deixar de escrever um dia, não pago a sessão.
- Você é meu chicletinho mastigado.
- O único lado bom de morrer de amor
é que você continua vivo.
- Você acredita em Deus?
- O problema não é saber se ele existe ou não.
É saber quando ele tá blefando.
- Desculpe. Eu não sei o que é ficar cansado de você.
- O que você acha mais importante: amor ou sexo?
- A primeira opção. Mas qual foi mesmo a primeira coisa que você falou?
- Se você ficasse eu faria de tudo para eliminar todos os meus defeitos,
mesmo não sabendo direito quais são.
E já no final do filme uma revelação devastadora:
- Isso é só o fim. O que importa já foi feito.
- E agora? Agora é o resto das nossas vidas.
Daí sobe a música dos Los Hermanos, Antônio então senta-se e assisti a namorada partir enquanto a melancolia vira arte.
Pois é...
-Você me ama?
- Falar sobre amor é clichê.
- Falar que falar sobre amor é clichê é que é clichê.
Na dúvida é melhor assistir de novo, porque em "Apenas o Fim" Matheus Souza conseguiu ir além do mero entretenimento.
Trilha Sonora Artista: Los Hermanos Música: Pois é
Eu fecho os meus olhos e vejo Suzanne Vega cantando Luka. Uma história de surras, torturas, violência em pleno seio familiar. Suzanne Vega alcançou o estrelato com esta canção de melodia doce e, letra melancólica e ácida sobre espaçamento infantil. Muita gente nem percebeu e achava que se tratava de uma canção romântica. Isso é bem genial nela, bingo!
Corria o ano de 1987, já faz um certo tempo é verdade, mas a canção sobreviveu ao tempo, e Suzanne continua sendo uma grande artista.
Ouvia esta canção ao lado de uma querida amiga. A gente tinha bons motivos para acreditar que a dor da juventude doía mais em nossa própria carne.
Sinto saudades daquelas tardes de conversa, de poesia, música, histórias alegres, outras bem tristes. Era a mistura de incertezas, olhares profundos, palavras fortes, sentimento genuíno, transparência...
Eu não sei por onde anda a Paula, mas existem momentos na vida da gente que nunca serão esquecidos. Essa é uma certeza que eu guardo comigo.
Eu digo boa noite “todos os dias” (sentiram o drama) para um sujeito que eu ainda não sei o nome. Pacato, singelo e, muito educado. Será que ele é bem pago por sua educação? Provavelmente não. Ele deve ser visto “apenas” como o guardador de carros da academia, o vigia, o segurança improvisado, ou, qualquer coisa que o valha.
Isso incomoda.
Na rua de cima mora uma família de cinco pessoas. Todos adultos. Cada um tem o seu carro próprio, e isso pra eles é o máximo! Eita classe média deslumbrada!
Eu particularmente acho o filho mais novo um porre de pedante, além do que, o cara sempre sai a mil por hora e qualquer dia desses ainda mata alguém na rua.
Nojento não? A relação: o que somos com o que temos. Não curto isso.
Eu ainda prefiro mil vezes o sujeito sem nome educado, que não possuí nenhum carro e, é magro, do que a família “rodas” com seus cinco automóveis e prá lá de 1 tonelada bem dividida, já que todos sem exceção são obesos.
A vida é isso?
Preferências, eu gosto desse e não gosto daquele, gosto disso e não suporto aquilo?
Certamente nossas escolhas e preferências são pessoais e dizem algo sobre nós, talvez muito.
Por algum motivo, fútil, eu me lembrei de um livro de Jean-Paul Sartre (1905-1980).
O titulo é Náusea, “La Nausée” (1938) que conta a história de um escritor frustrado e suas peripécias. Bem, eu não sou Antoine e, também não pretendo escrever livros, mas vez ou outra sempre bate aquela pontinha de dúvida: Será que eu faço mesmo alguma coisa certa nesta vida? (nossa que drama!).
Melhor mesmo é ouvir o gospel do Queen “Somebody to Love” um clássico que manda qualquer frustração aparente pro espaço.
No último domingo o show de Norah Jones foi um bálsamo para os ouvidos mais exigentes. A ‘pequena notável’ é uma moça muito simpática, até certo ponto tímida sobre o palco, mas canta como poucas.
O céu carrancudo de São Paulo até deu uma trégua quando Norah apareceu no palco vestindo um mini vestido vermelho e um par de botas marrom. Sua banda é impecável, do rock ao pop, do country ao jazz com direito a toques da tradicional ‘Asa Branca’ de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Tudo meticuloso e com um sabor irresistível de alegria.
Foi um show memorável, apesar da ‘turma’ que foi ao show errado quase ter estragado o clima pacifico da ocasião. A tarde de primavera foi regada a bons sons e, a doçura encantadora de Norah Jones.
Ellen teve enfim o seu dia de glória. Estava impecavelmente ornada por um vestido Givenchy. Desfilava pela rua trajando uma elegância insuspeita. Oscilava como o pendulo do relógio, ora ouvia suspiros de encantamentos, ora recebia olhares de inveja da farta massa feminina daquele elegante endereço em bairro nobre.
Foi aí que surgiu a sua única dúvida do dia, e quem não as tem?
Passando por ela um jovem loiro de corpo atlético, olhos esverdeados e sorriso maroto, não resistiu ao vislumbrar Ellen e soltou:
- Nossa! Com todo respeito, mas que coroa gostosa...
Ellen franziu a testa, resistiu e não olhou para trás, embora uma duvida ainda rondasse sua mente:
-Isso terá sido um elogio, ou um gracejo beirando o insulto?
Dessa incerteza Ellen até hoje abre um sorriso e sempre prefere ficar com a primeira hipótese, pois afinal naquele dia de glória nem mesmo a fina chuva do final da tarde borrara a sua maquiagem fina importada.