Hoje eu lembrei o dia inteiro do Maluco Beleza, Raul Seixas. Quando me deparo com sua história e a sua coragem de ter registrado toda sua vida escrita à mão em folhas de cadernos, “eu sentia que eu estava marcando as minhas pegadas na vida”, dizia ele, então eu penso:
Esse cara era mesmo especial, ou espacial!
O Baú guardando suas reminiscências foi aberto no dia de sua morte, e daí foi revelado entre tantas coisas que o garoto Raul queria ser como Roy Rogers quando crescesse. Ainda na infância esse cometa em estado bruto escreveu em seu caderno:
“A vida é um palito de fósforo que
vai se queimando até se apagar
para sempre”.
Vez por outra postarei alguns desses manuscritos aqui no blog, penso ser essa uma homenagem delicada a esse homem que não passou impune por esta vida.
Abaixo o derradeiro registro dessa metamorfose ambulante, veja na íntegra:
A coisa mais gostosa que tem é falar alto sem ninguém pra me ouvir exceto eu mesmo. A minha voz ecoando nos ares da minha solidão enorme. Eu sei que amanhã (dia de show) vou rir do que escrevi. É que a vida é uma coleção de momentos.
Vou esquentar meu peixe, pois a TV tem som e imagem.
Me capta mais que o gravador, que o rádio, que a radiola.
Eu quero assistir televisão mas estou pensando que não vou aguentar. Assistir até tarde. Vou ver o jogo.
Agora!! Estou com a TV ligada, que me anuncia um show.
Sofrendo uma crise de solidão. É horrível.
Aí, a TV me recomenda um filme, Promessa de Sangue, entre as irmãs Galvão.
Eu boto um disco de New Orleans orquestrado e sento no fogão à espera da panela quente. E eu canto no fogão. Eu canto à Beira do Pantanal (do fogão) à espera do rango que eu tô cozinhando.
*Em 20 de Agosto de 1989 - véspera de sua morte!
Trilha Sonora
Artista: Baia
Música: Ouro de Tolo (Show Baú do Raul)