Depois de viver o suficiente, sentou no banco da praça em uma tarde qualquer, mas era segunda-feira.
Como de costume abriu seu jornal por entre braços surrados pelo quase escambo de cinquenta anos ininterruptos junto ao cais do porto.
A manchete do noticioso trazia em letras garrafais: “Fraude no INSS Leva ao Colapso à Previdência Social”.
Deu um suspiro curto de conformismo enquanto suas mãos automaticamente dirigiram-se para o caderno de esportes. Do burburinho na praça ouvia-se o alarido sobre a mazela que tomara de assalto aquele grupo sempre descartado por parte maciça da sociedade.
Naquele fim de tarde ele preferiu continuar a passar seus olhos pelas letras miúdas do jornal, como espécie de revolta ante ao nefasto destino. Apenas parou para recordar de alguém que já não estava tão perto, mas fazia-se sentir ali, tal como o vento que não vemos, mas sentimos.
É quando a história ganha vida, real sentido.
As luzes dos postes centenários da imponente praça foram acesas e, o sol então começou a partir. Era hora de levantar-se, empunhar seu chapéu panamá tomar o rumo norte e vagarosamente marchar pela movimentada rua.
De longe a cena suscitava um senhor franzino vestindo um terno de linho branco amarrotado contrastando com um céu alarajando, luz natural amiúde, enquanto ele partia a noite chegava.
Eram seis da tarde na antiga rua de paralelepípedos da praça, no palco da vida, por entre pombos, mendigos e crianças cheirando cola.
How does it feel
How does it feel
To be on your own
With no direction home
Like a complete unknown
Nenhum comentário:
Postar um comentário