domingo, 15 de novembro de 2009

Summer Of ' 83



Ele descobriu algo de novo: o amor. Aos treze anos pela primeira vez sentia aquilo que faz a vida valer a pena.

Como um passe de mágica experimentou o aroma da fragrância do Jasmim e, percebeu que era o mesmo que exalava no caminho para a casa de sua Julieta. Mas Julieta na verdade chamava-se Sofia e, era uma jovem vinda de outra cidade para passar as férias daquele verão.

Era um verão escaldante, sol a pino, temperaturas causticantes. Tudo corria como outrora até que numa bela tarde seus olhos conheceram aquela garota loira, de olhos levemente esverdeados, esguia, com sardas, extremamente charmosa, corpo desenhado e de lábios bem carnudos. Seria a bela da tarde de Buñuel?

Essa foi a primeira imagem de Sofia que ele congelou em sua retina.

Ele não sabia muito bem como dizer – ou se – era realmente necessário converter aquela sensação trepidante em palavras. Seria possível traduzir um sentimento avassalador?

Passou os primeiros dias travando um embate surdo consigo mesmo. Seu maior adversário: a sua própria timidez.

No fundo sabia que era correspondido, pois o olhar perdido e, o sorriso radiante de Sofia não disfarçava que ali entre ambos havia um desejo mútuo.

Passaram três semanas em uma casa de veraneio junto a uma multidão de jovens e adultos. Naquela atmosfera às vezes febril era certo encontrá-los próximos fosse brincando, jogando conversa fora ou, até mesmo brigando por pequenas tolices da idade. A provocação e a sedução eram recíprocas.

Acordavam cedo e logo estavam seguindo o trajeto entre a casa e a praia. Os dois transformavam aquele trivial instante em uma espécie de jornada, uma autêntica exploração sensorial.

Durante as noites na hora de dormir a luz que irradiava da rua, iluminava os olhos dos dois apaixonados. Em seus sonhos aquele era o momento perfeito, quem sabe ali o primeiro e eterno beijo de amor.

As férias terminaram e Sofia retornou para sua cidade. A distância motivava aquele romance velado não consumado (será mesmo?).

Foram cartas e mais cartas meses a fio – enquanto “a realidade mais delicada e mais difícil, menos visível a olho nu” batia à porta dos dois jovens enamorados.

Assim como uma tela de Cézanne perdida em algum sótão empoeirado e ordinário, onde sua beleza não podia ser apreciada, o tempo tratou de estancar aquela irresistível aventura.

Após anos sem noticias ele a reencontrou em uma viagem a sua cidade. Sofia estava casada e era mãe de três filhos.

Observou que a sua juventude continuava quase intacta, e por alguns instantes não hesitou em colocar-se no lugar do seu marido, mas preferiu guardar as boas recordações de uma década e meia atrás.

Sofia era a lembrança mais gratificante de um verão em sua juventude, talvez o melhor verão da sua vida.

Trilha Sonora
Artista: The Carpenters
Música: We've Only Just Begun

2 comentários:

Karen Anne disse...

talvez, no mesmo verão em que você descobriu o amor, aos 13 anos, eu, aos 32, descobri, em um severo inverno, a eternidade. ouvindo minha voz em sua postagem, percebo que definitivamente tudo é eterno. abraços em seu coração.

Richard disse...

Eu sai do inverno. Fui a um término de verão (onze anos depois do seu). Em 1994, descobri o que é realmente está vivo. Não precisei mais de soníferos para dormir. Não mais fui internado em clínicas de reabilitação. Mas, tudo foi muito rápido. O reencontro, 14 anos depois, não me fez preferi guardar as lembranças de um passado que quase não existiu. Pelo contrário, eu quis o presente. Como quis! Porém, o presente é resignação. Agora, eu não prefiro absolutamente nada. Eu descobri, pela primeira vez e no final da quarta década da minha vida, o que é viver em constante estado de resignação. Mas, quem não irá ao encontro de Karen? Quer resignação mais pura do que essa? Na verdade, todos os seres humanos vivem em eterno "estado de resignação". No início desse inverno, escuto agora "Verão de 42"! Sofia, eu...