Eu não quero ver você cuspindo ódio
Eu não quero ver você fumando ópio, pra sarar a dor
Eu não quero ver você chorar veneno
Não quero beber o teu café pequeno
Eu não quero isso seja lá o que isso for
Final de tarde nas ruas do Itaim Bibi. Carros bacanas circulam por entre casas e prédios, restaurantes e, hotéis de luxo. Tudo soa meio blasé pelas bandas do Itaim.
E quem são as pessoas que passeiam no Itaim?
Só sei que não são de outro mundo.
Um sorriso atraente, um olhar penetrante – azul da cor do mar – impossível resistir, e negar uma observação mais detalhada, apenas ‘pleno exercício de direito’ diriam alguns advogados.
Pelos cantos assisto ao desfile de meninos e meninas poeticamente perfeitos.
E como é linda a juventude!
Ouço da boca de alguém acostumada a lhe dar com a ponta oposta da pirâmide etária, o que torna a frase solta mais valiosa.
Na balada da hora, liberto pelo tempo e espaço ‘soft’ do Itaim, quase sem querer ouço uma conversa ríspida via celular entre um Apolo e seu pai Zeus:
-O senhor nunca me deixa falar, externar, aquilo que penso e sinto. Você me expulsou da sua casa, agora também vai me expurgar da sua vida? Eu ainda sou o seu filho, será que você se esqueceu disso?
A tristeza de Apolo comove, ele parece apenas reivindicar com aquela vontade de viver tão pertinente aos jovens, um canal mais eficaz e sincero de comunicação. É como se ele quisesse dizer: O que eu quero é honestidade Zeus!
Pai e mãe separados – qual a casa que esse mancebo chamará de lar?
Manoel Carlos diria que o Itaim é uma sucursal do Leblon – de fato daria um bom enredo de novela.
A noite cai e as luzes dos carros borram a minha visão junto com a chuva que cai sobre o Itaim, talvez as lágrimas do nosso Apolo, incompreendido e, empurrado tão cedo para a lacuna vazia do desamparo familiar, cada vez mais comum nessa sociedade viciada no consumo.
No final das contas quero intuir que Apolo fala através da sua rebeldia:
-Por favor, me deem pelo menos 150mg de afeto incondicional! Pai Zeus não me expulse do Olimpo, eu quero me apaixonar novamente por você!
-Apenas uma pílula de afeto, é tudo o que eu te peço!
3 comentários:
Jonathas, você acredita que depois de muitos anos indo e vindo de SP capital fui ao Itaim pela primeira vez na última sexta? Pois é, uma amiga estava hospedada no Clarion Jardin Europa e, ao acompanhá-la ao hotel, jantamos e ficamos até 2h da manhã no restaurante Ritz. Vi muitos Apolos e muitas Afrodites. Vi uma Ártemis. Não vi nenhum Zeus. Vi, porém não ouvi ninguém falando ao celular. Mas, senti a necessidade de afeto nas faces.
Agora, fazendo esse comentário, lembrei-me de Alexander(personagem de "Adeus, Lenin!" que comentei no poster abaixo). Em meio aos filhos dos deuses e das deusas, encontrei um Sísifo. Alexander e o "mito de Sísifo" se misturam. O Olimpo é aqui. O "mundo de Hades" também.
Tento me convencer que Deus é perfeito...pois deu dons para uns e outros não. A mesma imaem que viste eu vi,mas dela tiraste quase que "poesia" enquanto eu, conseui ver o lado tráico da vida. Bom, mas não devo ficar triste, devo "sorrir", como o post anterior, cisa que sei fazer muito bem, como disse minha tia "acho que vc foi feita sorrindo..." às vezes, acho isso ruim, as pessoas confundem, estar sorrindo sempre com falta de seriedade, mas esse é o meu jeito, meu "dom".
P.S. Esse teclado tá "comendo" a letra que vem antes de H e depois de E, hehehe.
Helena de Tróia
Oi Helena. Talvez eu tenha visto poesia. Caso contrário, você não teria lido poesia no meu comentário. Porém, eu escrevi que senti necessidade de afeto nas faces. Caso seja poesia, essa declaração é "poesia niilista". Seu sorriso sempre ecoa em minha memória como um "dom" realmente lindo. Sua tia tem razão. Seu sorriso tem a cor do mar da praia das fontes (Beberibe - CE). Eu estou convencido: Deus é perfeito!
Abraços.
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