quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Um Conto de Natal



Alvoroço na pequena Bedford Falls, onde as crianças corriam por entre ruelas ascendendo velas e cantando alegremente cantigas natalinas, pois já era véspera de natal.

Ele não era o baluarte da vila, ao contrario, despertava olhares e comentários maldosos em virtude da sua peculiar transparência infantil.

Naquele final de tarde juntou-se a outras crianças para flanar livremente pelas ruas estreitas do vilarejo. Escondia-se da mãe – já envelhecida por uma vida aflita e repleta de sobressaltos.

- Dante... Dante...

Clamava a voz rouca da mãe à sua procura.

Já passava das seis da tarde e o nosso pequeno intrépido esquecera-se do relógio, da noção ‘adulta’ e responsável do famigerado tempo. Brincava sem timidez entre meninos e meninas sorridentes – dentes branquinhos e as habituais janelinhas dos sete anos de idade.

A noite aproximava-se rapidamente e com ela o frio de dezembro que soprava um vento gélido à soleira, deixando ainda mais úmida a humilde casa. A mãe de Dante preocupava-se com a teimosia do pequeno varão, pois o padrasto do garoto já dava suas truncadas passadas rumo àquele lar. Gostava de ter a doce ilusão de que todos em casa estavam ali diariamente exclusivamente à sua espera, confundindo medo com afeto, presença com obediência e, faltando-lhe por completo o amor.

Alheio ao perigo, Dante conversava com Camila – uma lourinha magricela com um lindo par de olhos azuis e abundante sardas espalhadas por um rosto angelical:

-Como será o natal em sua casa Dante? O que você pediu ao Papai Noel?

Perguntara a festiva Camila.

-Ah! Camila, meu padrasto não gosta muito de natal e, eu tenho que dormir cedo.
-Você não ganha nenhum presente?
-Eu não... E você ganha? Quantos?

A conversa despreocupada entre as duas crianças sugeria a dura realidade do pequeno Dante. Era assim: Ao badalar da meia-noite o garoto saía escondido do seu quarto em direção a saleta de sua casa. De lá, por entre uma pequena fresta observava com olhos arregalados e de queixo caído os festejos de natal pelas ruas da pequena vila.

Gostava das luzes coloridas, dos fogos, da correria das crianças, um verdadeiro labirinto de emoções, mas o garoto pensava em Francesco, seu irmão mais velho – vítima de poliomielite e que vivia entrevado sobre uma cama, e por isso, raramente ausentava-se do seu quarto, o último e mais sombrio do casebre da esquina.

À noite antes de dormir Dante sempre rezava baixinho apalpando a escuridão de olhos fechados e joelhos fincados no chão gelado e úmido em seu singelo quartinho:

- Senhor Jesus obrigado pela vida, pela saúde e por tudo o que tenho. Por favor, tome conta do Francesco, da mamãe e do meu padrasto. Amém!

Naquela véspera de natal, entretanto algo diferente aconteceu. Seu padrasto adormeceu repentinamente após bebericar alguns copos de run, e foi então que a magia acordou para a luz.

-Dante meu querido, vamos trazer Francesco para a sala, pois hoje é noite de natal! Vamos aproveitar enquanto o senhor Scrooge dorme pesadamente o pesadelo de sua não vida.

E assim Dante, Francesco e Matilda puderam desfrutar do primeiro natal juntos em suas vidas.

Cantaram baixinho e alegremente por toda noite, recitaram versos, enfeitaram um pinheirinho com bolinhas coloridas e comeram das rabanadas preparadas por Matilda.

Dela ouviram um conto sobre um garoto que morrera de frio próximo a uma lareira na vila em uma véspera de natal tempos atrás.

Dante presenteou Francesco com um cachecol felpudo que ganhara de Camila naquela tarde.

- É para que você não sinta tanto frio à noite Francesco.

-Obrigado Dante! Infelizmente não tenho nada para te dar! Mas, venha até aqui, por favor.

Ao se aproximar de Francesco, o pequeno Dante acostumado às surras do padrasto estranhou quando o irmão estendeu sua mão gelada tiritando de frio e pediu-lhe um abraço.

Deu-se um abraço longo e intenso, colado, caloroso e infinito...

-Pronto meu irmão! Este é o único presente que eu posso lhe dar.

A mãe comovida sorriu e desejou que os natais seguintes pudessem ser um retrato do que seus olhos ali presenciavam. Então desceu ao porão para buscar mais lenha.

Naquele natal, no casebre humilde daquele vilarejo, ninguém apanhou e, ninguém chorou por falta de afeto.

O natal de Dante, Francesco e Matilda era o espelho de outra história que não envelhece, e que também fala do insuperável valor da doação, e da paz que inexplicavelmente se faz eterna.

Um comentário:

Santa Klaus disse...

Hooo hooo hooo,

Feliz natal a todos!