Michael Jackson
Off the Wall (1979)
(Edição 96 Revista Bizz, Julho de 1993)
O ano de 79 dividiu muitas águas. Ao mesmo tempo em
que o punk pedia para alguém desligar os aparelhos na UTI, a disco music
mostrava níveis nunca antes alcançados de manipulação de estúdio e
aproveitamento máximo de tecnologia (tanto para o bem como para o mal). Era a
vez dos anos 80: céticos, profissionais, estilosos e obcecados com a imagem.
Como seria o pop dessa década? Superproduzido, sem vergonha de ser "um
produto" e polivalente: não bastava ter música, tinha que ter bom clip,
uma roupa legal, dançar bem, fazer um show mega etc.
Quer, dizer o fim da atitude artística e da música
em favor da grana e da imagem? Nem tanto. É aí que residia a autenticidade
desse novo pop, que acabou levando esses conceitos à categoria de arte.
Se isso acabou sendo bom o ruim é história para
contar outro dia, mas isso era um reflexo natural do estágio de então na música
pop: uma tentacular industria triliardária amparada por ultratecnologia, tanto
no estúdio como na promoção de artistas, como provaram os símbolos da década de
80: Duran Duran, George Micheal, Janet Jackson, Whitney Houston, Madonna e -
claro - Michael Jackson.
Foi ele, em "Off The Wall", que lançou o
marco zero deste novo conceito. Aperfeçoou tudo em 83, com "Thriller"
(só lembrando, o disco mais vendido da história), mas a somente já estava em
"Off The Wall", em que se apresentava como um artista que compunha,
cantava, dançava, atuava em clips superproduzidos e lançava álbuns ultra-bem
feitos e cheios de hits.
Michael já vinha ensaiando seus passos solo desde 72
com hits como "Ben" e "Got To be There", mas sem assumir
isso full time. Com a consolidação do sucesso do grupo The Jackson 5, Michael
ia amadurecendo e as coisas começavam a mudar de figura. Em 76, a Epic comprou
o passe dos Jacksons da Motown. Fizeram dois contratos: um para o grupo, que
virou The Jacksons e outro para o jovem Michael. Era consenso de que os irmãos
reunidos eram bons, mas que ia render mesmo a longo prazo seria aquele moleque
prodígio. A Epic tratou de cuidar para que seu estouro solo fosse certeiro.
Para a produção foi chamado o maestro Quincy Jones,
multinstrumentista, arranjador e gênio de estúdio, com um currículo de
bandleader, jazzista, compositor de trilhas e produtor de soul.
Os músicos do disco foram pinçados entre a nata das
chamadas "feras de estúdios" da época (como o baixista Louis Johnson
e o tecladista Greg Phillinganes). Paul McCartney e Stivie Wonder contribuíram
com duas baladas. "Girlfriend" e I "Can't Help It",
respectivamente. Jones ainda recrutou um colaborador que se mostrou essencial
para o resultado final: o inglês Rod Temperton. Líder da banda de disco
Heatwave (que fez "The Groove Line"), Temperton tinha o dom de unir
ritmos infalíveis, sempre com um efeito sonoro grudento. Acabou escrevendo "Rock
With You", "Burn This Disco Out" e a faixa-título. Para ajudar
na imagem "já-é-um-homenzinho" do disco, Michael co-produziu três
faixas: "Don't Stop Til You Get Enough", "Working Day And
Nigth" e "Get On The Floor".
"Off The Wall" saiu uma coleção sem
falhas, fluente, de pop disco e baladas soul pop. "Rock With You"
entrou na minha lista de melhores singles de todos os tempos pela virada de
bateria que abria a faixa, pelo clima dos violinos e pelo fato de que quando
você achava que sabia como era a melodia, ela tomava um rumo novo, mais cool,
até cair num solo de teclados simulando sopro. "Working Day And
Night" abria com uma percussão rapidinha e um loop de alguém ofegando que
não devia nada a equivalentes atuais feitos com samplers. "Girlfriend"
mostrava que Michael sabia jogar com economia uma voz doce numa balada, sem
melar o resultado. O disco estabeleceu a figura solo de Michael Jackson, rendeu
hits mundiais e vendeu mais de dez milhões ao redor do mundo. E fez jus ao
clichê número um dessa seção: "Depois dele, o pop nunca mais foi o
mesmo".
Camilo Rocha
Vitrola: Michael Jackson - Rock With
You
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