Arte! Um
encontro fantástico do rock com a arte e suas vertentes. O Queen em 1975
alcançou o topo, ultrapassou todas as expectativas e cravou um dos álbuns mais
lembrados do rock ainda hoje, 40 anos após o seu lançamento.
Me recordo
com nitidez do impacto deste disco na minha humilde visão sobre a música, foi
algo realmente mágico!
Queen – A
Night at the Opera (1975)
(Edição Revista
Bizz 84,Julho de 1992)
Rock como
objeto de culto. Disco como conceito, grande arte. Foram desvios inesperados -
e, pensando bem, um pouco ridículos - para um tipo de música desencanada que
começou animando bailinhos teen.
Mas os anos
70 foram mesmo inesperados, e todo mundo que cresceu nessa época é meio
esquisito. Não vejo a hora de elegermos nosso primeiro presidente da República...
alguém que saiba quem é o Space Ghost e tenha sonhado com uma calça Topeka.
De qualquer
forma: se essa pretensão roqueira toda se justificou alguma vez, foi na
primeira metade dos 70. Dark Side Of The Moon, Physical Graffiti, Ziggy
Stardust - naquela época gigantes caminhavam sobre a Terra, ou assim parecia.
Dentre esses
inesquecíveis pedaços de plástico, nenhum alcançou a sobrevida de A Night At
The Opera. Porque o Queen nunca parou de produzir, porque mudou de estilo,
porque eles eram imensos no palco, porque Freddie Mercury foi o primeiro
superastro a morrer de Aids, porque...
Principalmente,
acho, pela variedade. Opera tem um pouco de tudo para todos. Metal cromado ("I'm In Love With My
Car"), vingativo ("Death On Two Legs") e burro ("Sweet Lady",
a coisa mais Kiss que o Kiss não fez). Brilhantes baladas: a alegrinha
"You're My Best Friend", a quase country-épica "39" e, mama
mia, "Love Of My Life". Cabaré variado: "Seaside
Rendezvous", "Good Company", "Lazing On A Sunday
Afternoon". Um épico progressivo "viajante", "The
Prophet's Song". E coisas indefiníveis e emocionantes, como a peça central
do disco, "Bohemian Rhapsody".
Art rock era
isso: tudo exagerado, ambicioso, superproduzido, bem escrito e incrivelmente
bem tocado (no synthethizers!). Os quatro tocavam, cantavam, compunham.
"You're My Best Friend" é de (e com) John Deacon, o baixista.
"39" e "Good Company", a mesma coisa com o guitarrista
Brian May, "I'm In Love With My Car", idem com o baterista Roger
Taylor. Sem falar em Freddie. Que banda em atividade hoje tem tanta gente
talentosa?
No Brasil, o
"disco branco" do Queen marcou demais (o "preto", seguinte,
é A Day At The Races; ambos os títulos tirados de filmes dos irmãos Marx).
Junto com News Of The World, formavam a dupla tiro-e-queda de qualquer
discoteca que se prezasse - porque Queen, naquela época e lugar, era sinônimo
de rock; quem não gostava do Queen, boa gente não era.
E tinha boa
gente pra caramba neste país - o suficiente para lotar o Morumbi, no primeiro
megashow de rock a que o Brasil já assistiu. Não existiam telões, a trilha de
Flash Gordon tinha acabado de sair, as garotas não usavam sutiã, os meninos
usavam tênis All-Star e todo mundo sabia o repertório inteiro do show de cor.
Nós éramos
os campeões. God Save The Queen.
André
Forastieri
Vitrola: Queen
– Bohemian Rhapsody
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