quarta-feira, 12 de agosto de 2015

40 Anos - Inesquecível


Arte! Um encontro fantástico do rock com a arte e suas vertentes. O Queen em 1975 alcançou o topo, ultrapassou todas as expectativas e cravou um dos álbuns mais lembrados do rock ainda hoje, 40 anos após o seu lançamento.

Me recordo com nitidez do impacto deste disco na minha humilde visão sobre a música, foi algo realmente mágico!


Queen – A Night at the Opera (1975)

(Edição Revista Bizz 84,Julho de 1992)

Rock como objeto de culto. Disco como conceito, grande arte. Foram desvios inesperados - e, pensando bem, um pouco ridículos - para um tipo de música desencanada que começou animando bailinhos teen.
Mas os anos 70 foram mesmo inesperados, e todo mundo que cresceu nessa época é meio esquisito. Não vejo a hora de elegermos nosso primeiro presidente da República... alguém que saiba quem é o Space Ghost e tenha sonhado com uma calça Topeka.
De qualquer forma: se essa pretensão roqueira toda se justificou alguma vez, foi na primeira metade dos 70. Dark Side Of The Moon, Physical Graffiti, Ziggy Stardust - naquela época gigantes caminhavam sobre a Terra, ou assim parecia.
Dentre esses inesquecíveis pedaços de plástico, nenhum alcançou a sobrevida de A Night At The Opera. Porque o Queen nunca parou de produzir, porque mudou de estilo, porque eles eram imensos no palco, porque Freddie Mercury foi o primeiro superastro a morrer de Aids, porque...
Principalmente, acho, pela variedade. Opera tem um pouco de tudo para todos. Metal cromado ("I'm In Love With My Car"), vingativo ("Death On Two Legs") e burro ("Sweet Lady", a coisa mais Kiss que o Kiss não fez). Brilhantes baladas: a alegrinha "You're My Best Friend", a quase country-épica "39" e, mama mia, "Love Of My Life". Cabaré variado: "Seaside Rendezvous", "Good Company", "Lazing On A Sunday Afternoon". Um épico progressivo "viajante", "The Prophet's Song". E coisas indefiníveis e emocionantes, como a peça central do disco, "Bohemian Rhapsody".
Art rock era isso: tudo exagerado, ambicioso, superproduzido, bem escrito e incrivelmente bem tocado (no synthethizers!). Os quatro tocavam, cantavam, compunham. "You're My Best Friend" é de (e com) John Deacon, o baixista. "39" e "Good Company", a mesma coisa com o guitarrista Brian May, "I'm In Love With My Car", idem com o baterista Roger Taylor. Sem falar em Freddie. Que banda em atividade hoje tem tanta gente talentosa?
No Brasil, o "disco branco" do Queen marcou demais (o "preto", seguinte, é A Day At The Races; ambos os títulos tirados de filmes dos irmãos Marx). Junto com News Of The World, formavam a dupla tiro-e-queda de qualquer discoteca que se prezasse - porque Queen, naquela época e lugar, era sinônimo de rock; quem não gostava do Queen, boa gente não era.
E tinha boa gente pra caramba neste país - o suficiente para lotar o Morumbi, no primeiro megashow de rock a que o Brasil já assistiu. Não existiam telões, a trilha de Flash Gordon tinha acabado de sair, as garotas não usavam sutiã, os meninos usavam tênis All-Star e todo mundo sabia o repertório inteiro do show de cor.
Nós éramos os campeões. God Save The Queen.

André Forastieri


Vitrola: Queen – Bohemian Rhapsody

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