Eu olho o
atropelo das pessoas no metrô
E não
entendo nada
Pra onde vão
com tanta pressa
O que
pretendem com esse ritmo
Alcançar o
céu?
Rastejarem
pelos subterrâneos de SP?
Não sei, sob
a ótica da deprê
Não consigo
entender quase nada
É só mais um
dia
Preciso de
uma dose de Lexapro...
A Cia. Das Letras
acaba de lançar um diário escrito por Renato Russo - “Só Por Hoje e Para Sempre - Diário do
Recomeço”. O livro é composto por escritos de Renato durante sua internação na
Clinica Vila Serena no Rio de janeiro em 1993 e, esses textos são parte integrante do tratamento.
Ali a gente
entende que o ser humano de fato cria as suas mascaras para sobreviver, mas lá
no fundo é possível encontrar a alma, mesmo que doente revelando outros
quadros, ainda intactos.
Renato Russo
estava enfim na busca de sua sanidade, lutando pra valer contra o que lhe
afligia e o perturbava. A coincidência é que eu mesmo adoraria neste instante
encontrar uma espécie de “Vila Serena” para dar um tempo em tudo e cuidar da
minha própria alma, mas que não nasce rico não pode ser dar a esse luxo, então
a “Vila Serena” pode ser um vagão do metro combalido da histérica São Paulo, os
famoso trilhos da esperança...
A depressão
não poupa ninguém, menos ainda quem já possuí um histórico anterior.
O que muda
são as percepções com o tempo e, desta vez resolvi não pagar pra ver, fui logo
atrás de ajuda, reconhecendo a minha incapacidade de lutar contra esse monstro
sozinho, o que já é um alento.
Olhando as
letras que Renato compôs logo após seus 29 dias de tratamento, é possível
atestar o quanto essa busca lhe fez bem, embora na época uma boa parte da
critica tenha torcido o nariz para o conteúdo, mas e daí, cada um sabe onde
aperta o calo.
Renato nos anos
seguintes a sua internação produziu certamente dois discos emblemáticos e que
provam o quanto essa redescoberta lhe proporcionou benefícios:
O belíssimo “The
Stonewall Celebration Concert” (1994) é o primeiro disco solo de Renato Russo,
gravado entre fevereiro e março de 1994. Interpretado totalmente em inglês, foi
uma homenagem aos vinte cinco anos da Rebelião de Stonewall em Nova Iorque.
Seus royalties foram doados para a campanha do sociólogo Betinho na campanha
contra a fome daquele ano.
Em 1995 ele
lança “Equilibrio Distante" segundo álbum
solo cantado em italiano, uma homenagem a sua família, quase um pedido de
desculpa pelos anos de terror que suas atitudes causavam ao seio de sua família
nuclear.
Sem dúvida
que essa leitura trará alguns contrapontos e outros olhares, exatamente em um
momento delicado, porém a vida seguirá em frente de um jeito, ou, de outro.
Perdi vinte
em vinte e nove amizades
Por conta de
uma pedra em minhas mãos
Me
embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou
aprendendo a viver sem você
(Já que você
não me quer mais)
Passei vinte
e nove meses num navio
E vinte e
nove dias na prisão
E aos vinte
e nove, com o retorno de Saturno
Decidi
começar a viver.
Quando você
deixou de me amar
Aprendi a
perdoar
E a pedir
perdão.
(E vinte e
nove anjos me saudaram
E tive vinte
e nove amigos outra vez)
Vitrola: Legião
Urbana – Vinte e Nove
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