terça-feira, 4 de agosto de 2015

Deprê...


Eu olho o atropelo das pessoas no metrô
E não entendo nada
Pra onde vão com tanta pressa
O que pretendem com esse ritmo
Alcançar o céu?
Rastejarem pelos subterrâneos de SP?
Não sei, sob a ótica da deprê
Não consigo entender quase nada
É só mais um dia
Preciso de uma dose de Lexapro...

A Cia. Das Letras acaba de lançar um diário escrito por Renato Russo  - “Só Por Hoje e Para Sempre - Diário do Recomeço”. O livro é composto por escritos de Renato durante sua internação na Clinica Vila Serena no Rio de janeiro em 1993 e, esses textos  são parte integrante do tratamento.

Ali a gente entende que o ser humano de fato cria as suas mascaras para sobreviver, mas lá no fundo é possível encontrar a alma, mesmo que doente revelando outros quadros, ainda intactos.

Renato Russo estava enfim na busca de sua sanidade, lutando pra valer contra o que lhe afligia e o perturbava. A coincidência é que eu mesmo adoraria neste instante encontrar uma espécie de “Vila Serena” para dar um tempo em tudo e cuidar da minha própria alma, mas que não nasce rico não pode ser dar a esse luxo, então a “Vila Serena” pode ser um vagão do metro combalido da histérica São Paulo, os famoso trilhos da esperança...

A depressão não poupa ninguém, menos ainda quem já possuí um histórico anterior.
O que muda são as percepções com o tempo e, desta vez resolvi não pagar pra ver, fui logo atrás de ajuda, reconhecendo a minha incapacidade de lutar contra esse monstro sozinho, o que já é um alento.

Olhando as letras que Renato compôs logo após seus 29 dias de tratamento, é possível atestar o quanto essa busca lhe fez bem, embora na época uma boa parte da critica tenha torcido o nariz para o conteúdo, mas e daí, cada um sabe onde aperta o calo.

Renato nos anos seguintes a sua internação produziu certamente dois discos emblemáticos e que provam o quanto essa redescoberta lhe proporcionou benefícios:

O belíssimo “The Stonewall Celebration Concert” (1994) é o primeiro disco solo de Renato Russo, gravado entre fevereiro e março de 1994. Interpretado totalmente em inglês, foi uma homenagem aos vinte cinco anos da Rebelião de Stonewall em Nova Iorque. Seus royalties foram doados para a campanha do sociólogo Betinho na campanha contra a fome daquele ano.

Em 1995 ele lança “Equilibrio Distante"  segundo álbum solo cantado em italiano, uma homenagem a sua família, quase um pedido de desculpa pelos anos de terror que suas atitudes causavam ao seio de sua família nuclear.

Sem dúvida que essa leitura trará alguns contrapontos e outros olhares, exatamente em um momento delicado, porém a vida seguirá em frente de um jeito, ou, de outro.


Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou aprendendo a viver sem você
(Já que você não me quer mais)

Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove, com o retorno de Saturno
Decidi começar a viver.

Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar
E a pedir perdão.
(E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez)


Vitrola: Legião Urbana – Vinte e Nove

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