segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Dismaland


Um artista ‘insolente’ que adora questionar
O belo mundo da alegria fabricada... dos contos de fada...

Viva Banksy e sua Dismaland!

Achei genial a ideia da contradição com a famigerada Disneylândia.... Hahahaha!!!


Vitrola: Heaven or Las Vegas - Cocteau Twins

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Acalanto...


Tudo que a gente deseja
é às vezes ser relevante
Mas...

Billy irá cantar mais uma vez “Just The Way You Are” e, pela enésima vez
ficarei martelando aqui dentro as minhas incertezas...

Vitrola: Billy Joel - Just The Way You Are


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Diferente? Maybe


Uma forma diferente de apreciar a música dita clássica...
Pode ser divertido, ou, não!
Só mesmo experimentando...



Vitrola: CLASSICAL MUSIC RAVE. MENGEL & BERG

domingo, 16 de agosto de 2015

Carnavais


O Aerosmith é o meu lado mais próximo do rock testosterona, já gostei bastante da banda e, penso que ainda merecem o meu respeito por sua história e ótimas composições.

Lembro-me de um carnaval há décadas atrás quando muitas coisas aconteceram de bom e também de errado, mas ‘o importante é que emoções eu vivi’, o resto é história...

Lady and gentlemen, let's welcome the Greatest Rock 'n' Roll Band in the World!

Aerosmith…

Rocks (1976)

(Edição Revista Bizz 103,Fevereiro de 1994)

O ano de 76 foi um divisor de águas no calendário do rock. Os primeiros acordes do punk marcaram a ruptura com o passado de um gênero que evoluiu além de suas medidas. Mas nem todos os grupos que surgiram no início da década ou antes, haviam virado dinossauros ou então trocado a rebeldia por aquelas soníferas progressões sinfônicas.
Herdeiro direto do passado do Led Zeppelin e dos Rolling Stones, o Aerosmith estava disposto a manter viva a tradição, com sua orgia de rock/adrenalina unindo seus amplificadores envenenados a distorções nos últimos limites.
O grupo surgiu em 70, como o trio Chain Reaction, em New Hampshire, EUA. Era composto por Steven Tyler (que na época era o baterista), Joe Perry (guitarra) e Tom Hamilton (baixo). ComTyler assumindo os vocais e a adição de Brad Whitford (segunda quitarra) e de Joey Kramer (bateria), eles encontraram a formação definitiva, que foi modelar seu som numa base que unia rock, blues, country, rhythm'n'blues e funk.
A discografia deles começou um tanto tímida com um par de álbuns: "Aerosmith" (72) e "Get Your Wings" (74), ficando promissora com "Toys In The Attic" (75). Mas foi em 76 que eles gravaram o álbum fundamental para seu vôo rumo ao estrelato. Unindo violência com sedução em doses arrebatodoras, Rocks produziu um efeito devastador na época de seu lançamento. Um disco pesado, mas bem balançado. O Aerosmith somava ótimas passagens melódicas e um punch vindo da música funk à selvageria explícita dos riffs.
A faixa de abertura, "Back In The Saddle" (com sua introdução ritualística, culminada pelos relinchos das guitarras), assim com "Sich As A Dog" tornaram-se clássicos.
Impossível apontar uma só música em todo o álbum que não atraísse o ouvinte a uma emboscada sem fuga de rock'n'roll. A voz esganiçada de Steven Tyler sugeria o grito de ordem de um sumo-sacerdote, comandando uma espécie de festival de imolações, angústias e tensões fulminantes.
A entrada macia de " Last Child" ameaçava uma balada, mas o baixo demolidor de Tom Hamilton confiscava a melodia inicial para os domínios do funk rock. Guitarras aceleradas davam a partida para o ritmo de "Rats In The Cella". A festa seguia quando "Combination" irrompia em uma levada sensual, com vocais à beira do gozo. "Nobody's Fault" entrava com a fúria de um touro no meio da arena e - no climax - a voz de Tyler cuspia uma seqŸencia de versos encadeados.
As tensões aquietavam-se no boogie de "Get The Lead Out", mas era retomada na floresta elétrica de "Lick And A Promise". Para encerrar, "Home Tonight" era uma última e desesperada tentativa de balada - desta vez bem sucedida. O que era uma descarga incessante de energia acabava em uma dilacerante canção de amor.
Um disco que celebrava o tempo todo o espírito de rebeldia e diversão juvenis numa voltagem tão intensa não poderia ter outro nome. Com "Rocks", o Aerosmith conquistou a fama de grande banda e conseguiu a forma definitiva para um som que iria seduzir multidões nos anos seguintes.

Eduardo Bastos

Vitrola: Aerosmith – Home Tonight

sábado, 15 de agosto de 2015

Ela


Ela irá surgir e desaparecer
com a mesma rapidez de um raio que cruza os céus
ela me encanta com seus olhos esverdeados
ela me leva para lugares que nunca sonhei em conhecer
e que talvez nunca venha a conhecer...

Ela me conduz a sensações humanamente inatingíveis
tudo nela é ímpar, lindo e humano
até mesmo a sua solidão
é passível de louvor
e ela não sai da minha mente,
pois ela é linda,
é simplesmente assim
e nada mais...

Vitrola: Elvis Costello – She


sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Television


Sonzeira…Solos de guitarra inspirados, boas lembranças!


Television

Marquee Moon (1977)

(Edição Revista Bizz de 22,Maio de 1987)

Malcolm McLaren sabia que os "pais da matéria" estavam nos EUA. Foi lá que ele buscou inspiração para que o movimento punk acontecesse - de forma concentrada - na Inglaterra. O que seria do punk sem o despojamento dos N.Y. Dolls, a demência dos Stooges, o antilirismo do Velvet e a agressividade do MC 5? E não foram só estas - todas elas, bandas extintas anos antes do punk - as fundamentais. Nova York fervilhava de bandas que acabariam traçando os moldes do que viria depois do punk. Eram as bandas new wave de Nova York e, dessas, a mais importante, ao lado dos Talking Heads e dos Voidoids de Richard Hell, foi o Television.
A história deles começa com o grupo Neon Boys, fundado por Tom Verlaine (guitarra/vocais) e Richard Hell (baixo/vocais) em 71. Richard Lloyd (guitarra) e Billy Ficca (bateria) completavam o grupo, que alguns anos depois mudaria de nome para Television. Hell saiu por volta de 74, e Fred Smith, ex-baixista da Blondie, foi chamado para substitui-lo. Em 74, o TV gravou um single e em 77 eles assinaram com a Elektra para gravar o "Marquee Moon", o primeiro LP.
Em meio à avalanche punk em que a maioria das bandas fazia um som rápido e primário (Ramones, Dead Boys) ou flertava com o pop (Blondie, Marbles), o Television optava por uma linha musical mais elaborada, com melodias harmoniosas, convivendo com ruídos e músicas longas que, ao vivo, se transformavam em verdadeiras jam sessions.
O som do TV remete a uma gama de referências musicais, que vão de Byrds a Neil Young, de Doors a Velvet Underground. Não que o TV soasse como uma das bandas citadas. Ela parecia querer ser todas elas ao mesmo tempo e um pouco mais.
A música de "Marquee Moon" é leve em seus ingredientes e pesada em sua atitude. Os instrumentistas não usam efeitos ou pedais. É rock'n'roll puro, de uma fluidez impressionante. Verlaine e Lloyd formam uma das duplas de guitarristas de rock que mais deram certo. Ambos solam, se alternam em riffs, bases e harmonias. Ambas as guitarras - principalmente a de Verlaine - alcançam sonoridades que às vezes parecem com guinchos, grunhidos e gritos. Ficca e Smith formam uma cozinha "à francesa" leve, com toques jazzísticos, sem abusos.
As letras - todas de Verlaine - sugerem mais do que dizem, como na faixa de abertura "See No Evil" ("Eu entendo tudo/ a destruição urge/ela parece tão perfeita/eu vejo/eu não vejo nenhum mal"). As texturas sonoras são molduras perfeitas para as letras, como na faixa seguinte, a balada "Venus", em que Verlaine cai "direto nos braços da Vênus de Milo". Em "Friction" o destaque vai para o solo esquizofrênico de Verlaine, assim como na comprida "Marquee Moon" (que, aliás, tem um belíssimo falso gran finale).
O lado B começa com uma jóia, "Elevation" ("A última palavra/é a palavra perdida/por que você não o diz então?"), onde o junkie Lloyd faz um solo emocionante. "Guiding Light" (única co-parceria de Verlaine no disco - com Lloyd) é mais uma balada que demonstra a sensibilidade harmônica de Verlaine. Em "Prove It", a combinação de base sonora simples com o caleidoscópio de images evocadas por Verlaine é mais uma vez perfeita. Em "Tom Curtain", a última música do disco, outra magnífica combinação: a voz chorosa de Verlaine relembra os anos passados, enquanto sua guitarra estridente rola suas lágrimas mais amargas.
Nem o Television (que acabou em 79) nem seus integrantes em carreira solo conseguiram fazer um disco à altura de "Marquee Moon" (que na edição nacional saiu com um ridículo carimbo de "punk rock" na capa). É este o disco que prova que eles eram, instrumentalmente, uma das bandas mais integradas da década de 70, e não há músico ou não-músico - de qualquer gênero - que, ao ouvir o disco, não se convença disto.

Celso Pucci/Thomas Pappon


Vitrola: Television - Elevation

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Meio Bossa Nova e Rock'n Roll


Filho da saudosa atriz Renata Fronzi e do radialista César Ladeira, o músico Renato Ladeira nos deixou ontem, após 63 anos de vida. Tecladista fez parte do grupo de rock Herva Doce na década de 80. Entre suas composições destaca-se a bela bossa “Faz Parte do meu Show” parceria com o amigo Cazuza.


Invento desculpas, provoco uma briga, digo que não estou
Vivo num clipe sem nexo
Um Pierrot retrocesso
Meio bossa nova e rock'n roll


E a vida segue...



Vitrola: Cazuza – Faz Parte do Meu Show

Divisor de Águas


Michael Jackson

Off the Wall (1979)

(Edição 96 Revista Bizz, Julho de 1993) 
O ano de 79 dividiu muitas águas. Ao mesmo tempo em que o punk pedia para alguém desligar os aparelhos na UTI, a disco music mostrava níveis nunca antes alcançados de manipulação de estúdio e aproveitamento máximo de tecnologia (tanto para o bem como para o mal). Era a vez dos anos 80: céticos, profissionais, estilosos e obcecados com a imagem. Como seria o pop dessa década? Superproduzido, sem vergonha de ser "um produto" e polivalente: não bastava ter música, tinha que ter bom clip, uma roupa legal, dançar bem, fazer um show mega etc. 
Quer, dizer o fim da atitude artística e da música em favor da grana e da imagem? Nem tanto. É aí que residia a autenticidade desse novo pop, que acabou levando esses conceitos à categoria de arte. 
Se isso acabou sendo bom o ruim é história para contar outro dia, mas isso era um reflexo natural do estágio de então na música pop: uma tentacular industria triliardária amparada por ultratecnologia, tanto no estúdio como na promoção de artistas, como provaram os símbolos da década de 80: Duran Duran, George Micheal, Janet Jackson, Whitney Houston, Madonna e - claro - Michael Jackson. 
Foi ele, em "Off The Wall", que lançou o marco zero deste novo conceito. Aperfeçoou tudo em 83, com "Thriller" (só lembrando, o disco mais vendido da história), mas a somente já estava em "Off The Wall", em que se apresentava como um artista que compunha, cantava, dançava, atuava em clips superproduzidos e lançava álbuns ultra-bem feitos e cheios de hits. 
Michael já vinha ensaiando seus passos solo desde 72 com hits como "Ben" e "Got To be There", mas sem assumir isso full time. Com a consolidação do sucesso do grupo The Jackson 5, Michael ia amadurecendo e as coisas começavam a mudar de figura. Em 76, a Epic comprou o passe dos Jacksons da Motown. Fizeram dois contratos: um para o grupo, que virou The Jacksons e outro para o jovem Michael. Era consenso de que os irmãos reunidos eram bons, mas que ia render mesmo a longo prazo seria aquele moleque prodígio. A Epic tratou de cuidar para que seu estouro solo fosse certeiro. 
Para a produção foi chamado o maestro Quincy Jones, multinstrumentista, arranjador e gênio de estúdio, com um currículo de bandleader, jazzista, compositor de trilhas e produtor de soul. 
Os músicos do disco foram pinçados entre a nata das chamadas "feras de estúdios" da época (como o baixista Louis Johnson e o tecladista Greg Phillinganes). Paul McCartney e Stivie Wonder contribuíram com duas baladas. "Girlfriend" e I "Can't Help It", respectivamente. Jones ainda recrutou um colaborador que se mostrou essencial para o resultado final: o inglês Rod Temperton. Líder da banda de disco Heatwave (que fez "The Groove Line"), Temperton tinha o dom de unir ritmos infalíveis, sempre com um efeito sonoro grudento. Acabou escrevendo "Rock With You", "Burn This Disco Out" e a faixa-título. Para ajudar na imagem "já-é-um-homenzinho" do disco, Michael co-produziu três faixas: "Don't Stop Til You Get Enough", "Working Day And Nigth" e "Get On The Floor". 
"Off The Wall" saiu uma coleção sem falhas, fluente, de pop disco e baladas soul pop. "Rock With You" entrou na minha lista de melhores singles de todos os tempos pela virada de bateria que abria a faixa, pelo clima dos violinos e pelo fato de que quando você achava que sabia como era a melodia, ela tomava um rumo novo, mais cool, até cair num solo de teclados simulando sopro. "Working Day And Night" abria com uma percussão rapidinha e um loop de alguém ofegando que não devia nada a equivalentes atuais feitos com samplers. "Girlfriend" mostrava que Michael sabia jogar com economia uma voz doce numa balada, sem melar o resultado. O disco estabeleceu a figura solo de Michael Jackson, rendeu hits mundiais e vendeu mais de dez milhões ao redor do mundo. E fez jus ao clichê número um dessa seção: "Depois dele, o pop nunca mais foi o mesmo". 

Camilo Rocha

Vitrola: Michael Jackson - Rock With You





quarta-feira, 12 de agosto de 2015

40 Anos - Inesquecível


Arte! Um encontro fantástico do rock com a arte e suas vertentes. O Queen em 1975 alcançou o topo, ultrapassou todas as expectativas e cravou um dos álbuns mais lembrados do rock ainda hoje, 40 anos após o seu lançamento.

Me recordo com nitidez do impacto deste disco na minha humilde visão sobre a música, foi algo realmente mágico!


Queen – A Night at the Opera (1975)

(Edição Revista Bizz 84,Julho de 1992)

Rock como objeto de culto. Disco como conceito, grande arte. Foram desvios inesperados - e, pensando bem, um pouco ridículos - para um tipo de música desencanada que começou animando bailinhos teen.
Mas os anos 70 foram mesmo inesperados, e todo mundo que cresceu nessa época é meio esquisito. Não vejo a hora de elegermos nosso primeiro presidente da República... alguém que saiba quem é o Space Ghost e tenha sonhado com uma calça Topeka.
De qualquer forma: se essa pretensão roqueira toda se justificou alguma vez, foi na primeira metade dos 70. Dark Side Of The Moon, Physical Graffiti, Ziggy Stardust - naquela época gigantes caminhavam sobre a Terra, ou assim parecia.
Dentre esses inesquecíveis pedaços de plástico, nenhum alcançou a sobrevida de A Night At The Opera. Porque o Queen nunca parou de produzir, porque mudou de estilo, porque eles eram imensos no palco, porque Freddie Mercury foi o primeiro superastro a morrer de Aids, porque...
Principalmente, acho, pela variedade. Opera tem um pouco de tudo para todos. Metal cromado ("I'm In Love With My Car"), vingativo ("Death On Two Legs") e burro ("Sweet Lady", a coisa mais Kiss que o Kiss não fez). Brilhantes baladas: a alegrinha "You're My Best Friend", a quase country-épica "39" e, mama mia, "Love Of My Life". Cabaré variado: "Seaside Rendezvous", "Good Company", "Lazing On A Sunday Afternoon". Um épico progressivo "viajante", "The Prophet's Song". E coisas indefiníveis e emocionantes, como a peça central do disco, "Bohemian Rhapsody".
Art rock era isso: tudo exagerado, ambicioso, superproduzido, bem escrito e incrivelmente bem tocado (no synthethizers!). Os quatro tocavam, cantavam, compunham. "You're My Best Friend" é de (e com) John Deacon, o baixista. "39" e "Good Company", a mesma coisa com o guitarrista Brian May, "I'm In Love With My Car", idem com o baterista Roger Taylor. Sem falar em Freddie. Que banda em atividade hoje tem tanta gente talentosa?
No Brasil, o "disco branco" do Queen marcou demais (o "preto", seguinte, é A Day At The Races; ambos os títulos tirados de filmes dos irmãos Marx). Junto com News Of The World, formavam a dupla tiro-e-queda de qualquer discoteca que se prezasse - porque Queen, naquela época e lugar, era sinônimo de rock; quem não gostava do Queen, boa gente não era.
E tinha boa gente pra caramba neste país - o suficiente para lotar o Morumbi, no primeiro megashow de rock a que o Brasil já assistiu. Não existiam telões, a trilha de Flash Gordon tinha acabado de sair, as garotas não usavam sutiã, os meninos usavam tênis All-Star e todo mundo sabia o repertório inteiro do show de cor.
Nós éramos os campeões. God Save The Queen.

André Forastieri


Vitrola: Queen – Bohemian Rhapsody

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Discoteca Básica - Saudades da Revista Bizz


Na pós-graduação em jornalismo cultural - ensaiei um monografia sobre a Revista Bizz, que de certa forma possuiu sua importância na história da música popular no Brasil. No final de cada edição existia a seção “Discoteca Básica” sempre trazendo um texto sobre algum disco clássico do rock, pop, jazz, samba, ou MPB.

Bateu saudade e aqui presto a minha homenagem a essa Revista - reproduzindo o texto sobre o disco maravilhoso de Marvin Gaye (What's Going On), de autoria do jornalista José Augusto Lemos -vale a pena a leitura!

Discoteca Básica – Revista Bizz – (Edição 39,Outubro de 1988)

Marvin Gaye

What's Going On (1971)

Quando, em 85, o staff do NME elegeu este "O Melhor LP de Todos os Tempos", houve alguma surpresa e nenhuma contestação. Afinal, a primeira coisa que se pode dizer sobre o disco é que nunca houve tamanha síntese - gospel, rhythm'n'blues, jazz e doo-wop na mútua fertilização de uma soul music 24 quilates e 1.001 filigranas.
Marvin Gaye atravessara a década de 60 como um curinga no celeiro/linha-de-montagem da Motown - além de gravar como cantor, participava aqui e ali como compositor, arranjador, produtor e instrumentista (além de piano, toca bateria em vários dos hits das Supremes). Todos os contratados da gravadora tinham, porém, de se encaixar no rígido molde pop ditado e concebido por Berry Gordy Jr. Do repertório ao vestuário, passando por aulas de dicção e "boas maneiras", todas as "arestas" de negritude eram aparadas em nome de um romantismo platônico e doce (mas nunca meloso). O transe carnal dos blues e espiritual do gospel ainda estava lá, mas em baixíssimos teores.
Com essa fórmula, Gordy - tendo iniciado seu selo independente a partir de sua loja de discos - tomou conta das eletrolas e radinhos de pilha do universo. Pop clássico, eterno - mas uma camisa-de-força para talentos como Marvin Gaye e Stevie Wonder, cujo potencial só seria revelado no começo dos anos 70, quando conquistaram sua autonomia dentro da gravadora.
What's Going On foi a primeira batalha ganha nessa guerra e custou todo o cacife do cantor. O lançamento atrasou alguns meses porque a Motown não queria editá-lo de jeito nenhum, alegando que as músicas (a) eram longas demais; (b) não tinham começo, nem meio, nem fim; (c) não falavam de "amor" , e sim de religião, política, drogas, ecologia. Marvin ameaçou não gravar mais uma nota sequer pela gravadora, e fez pé firme. Ganhou estourando a banca. Três das faixas - a título, mais "Mercy, Mercy Me" e "Inner City Blues" - viraram hits singles e, até hoje, as vendas do LP somam oito milhões de cópias só nos EUA.
Venceu, assim, a visão de um gênio que confessou ter passado a segunda metade dos 60 atormentado com a "irrelevância" do que estava gravando, diante da revolução de consciência que ocorria no mundo e do surgimento do selo Stax, afiando todas as arestas que a Motown limara. Dirigindo-se, desde os primeiros sulcos, aos "brothers" e "sisters", Marvin compõe um manifesto panorâmico da vida no gueto - pobreza, violência e drogas - antes de atacar as "questões universais" que tinham arrepiado a diretoria da Motown.
Musicalmente, não existe nada mais doce. As faixas se interligam numa só levada, lânguida e hipnoticamente esticada numa espécie de suíte. Tudo flui numa textura de cordas e metais que Paddy McAloon, do Prefab Sprout, definiu como "Mozart de patins". Marvin não escrevia, mas contornou o problema gravando fitas e fitas assobiando as frases dos violinos, transcritas então pelo regente/orquestrador David van DePitte. Produzido pelo próprio cantor, o disco exibe uma maestria instrumental certamente assimilada no trabalho com Norman Whitfield, que um dia ainda será reconhecido como um dos maiores gênios da música do século XX. Sua entrada na Motown como compositor/arranjador/produtor redefiniu o pop como a marca registrada da gravadora, principalmente com os Temptations. Com Marvin, desenvolveu o monumento "I Heard It Through the Grapevine", o que já bastaria como credencial. Em What's Going On, porém, Marvin mostra que já não precisava dele, nem de ninguém. Os vários canais de gravação são utilizados num show vocal, algo como um grupo doo-wop de um homem só, em contracantos e harmonias que talvez só Sam Cooke poderia igualar, houvesse em sua época tecnologia para isso.

José Augusto Lemos

Vitrola: Marvin Gaye - What's Going On


Último Take



You can't turn back the clock you can't turn back the tide
Ain't that a shame
I'd like to go back one time on a roller coaster ride
When life was just a game
No use in sitting and thinkin' on what you did
When you can lay back and enjoy it through your kids
Sometimes it seems like lately I just don't know
Better sit back and go with the flow…


Vitrola: Queen - These Are The Days Of Our Lives


segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Belle e Sebastian





Lembrando os meus tempos de ‘critico musical’, uma brincadeira é claro....
Bons tempos!

Vitrola: For the Price of a Cup of Tea

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Ausente


Uma cena que de tão singela comove...

Às vezes eu sou a avenida vazia na manhã da metrópole
quase um deserto 
e as vitrines da Tiffany’s parecem igualmente ausentes
avisto apenas a profundidade daquela avenida
ficarei mesmo aqui pela metade
o sol já acordou de mansinho
enquanto eu caminharei sem rumo
até chegar em casa...

(Sobe música)

Vitrola: Breakfast at Tiffany's Opening Scene




terça-feira, 4 de agosto de 2015

Deprê...


Eu olho o atropelo das pessoas no metrô
E não entendo nada
Pra onde vão com tanta pressa
O que pretendem com esse ritmo
Alcançar o céu?
Rastejarem pelos subterrâneos de SP?
Não sei, sob a ótica da deprê
Não consigo entender quase nada
É só mais um dia
Preciso de uma dose de Lexapro...

A Cia. Das Letras acaba de lançar um diário escrito por Renato Russo  - “Só Por Hoje e Para Sempre - Diário do Recomeço”. O livro é composto por escritos de Renato durante sua internação na Clinica Vila Serena no Rio de janeiro em 1993 e, esses textos  são parte integrante do tratamento.

Ali a gente entende que o ser humano de fato cria as suas mascaras para sobreviver, mas lá no fundo é possível encontrar a alma, mesmo que doente revelando outros quadros, ainda intactos.

Renato Russo estava enfim na busca de sua sanidade, lutando pra valer contra o que lhe afligia e o perturbava. A coincidência é que eu mesmo adoraria neste instante encontrar uma espécie de “Vila Serena” para dar um tempo em tudo e cuidar da minha própria alma, mas que não nasce rico não pode ser dar a esse luxo, então a “Vila Serena” pode ser um vagão do metro combalido da histérica São Paulo, os famoso trilhos da esperança...

A depressão não poupa ninguém, menos ainda quem já possuí um histórico anterior.
O que muda são as percepções com o tempo e, desta vez resolvi não pagar pra ver, fui logo atrás de ajuda, reconhecendo a minha incapacidade de lutar contra esse monstro sozinho, o que já é um alento.

Olhando as letras que Renato compôs logo após seus 29 dias de tratamento, é possível atestar o quanto essa busca lhe fez bem, embora na época uma boa parte da critica tenha torcido o nariz para o conteúdo, mas e daí, cada um sabe onde aperta o calo.

Renato nos anos seguintes a sua internação produziu certamente dois discos emblemáticos e que provam o quanto essa redescoberta lhe proporcionou benefícios:

O belíssimo “The Stonewall Celebration Concert” (1994) é o primeiro disco solo de Renato Russo, gravado entre fevereiro e março de 1994. Interpretado totalmente em inglês, foi uma homenagem aos vinte cinco anos da Rebelião de Stonewall em Nova Iorque. Seus royalties foram doados para a campanha do sociólogo Betinho na campanha contra a fome daquele ano.

Em 1995 ele lança “Equilibrio Distante"  segundo álbum solo cantado em italiano, uma homenagem a sua família, quase um pedido de desculpa pelos anos de terror que suas atitudes causavam ao seio de sua família nuclear.

Sem dúvida que essa leitura trará alguns contrapontos e outros olhares, exatamente em um momento delicado, porém a vida seguirá em frente de um jeito, ou, de outro.


Perdi vinte em vinte e nove amizades
Por conta de uma pedra em minhas mãos
Me embriaguei morrendo vinte e nove vezes
Estou aprendendo a viver sem você
(Já que você não me quer mais)

Passei vinte e nove meses num navio
E vinte e nove dias na prisão
E aos vinte e nove, com o retorno de Saturno
Decidi começar a viver.

Quando você deixou de me amar
Aprendi a perdoar
E a pedir perdão.
(E vinte e nove anjos me saudaram
E tive vinte e nove amigos outra vez)


Vitrola: Legião Urbana – Vinte e Nove