Em “A Minha Versão do Amor” Paul Giamatti encarna mais um anti-herói em sua carreira. Desta vez vive Barney, uma daquelas personagens que terminam nos cativando por sua verossimilhança com a realidade.
Se a vida é incerta com ela encontramos um enorme pacote de fracassos, erros, duvidas, e alguns acertos. Barney sou eu, é você, somos nós em primeira instancia.
Conheci alguém e o seu nome é Peter. Ele me conduziu até uma rua chamada piedade e mostrou-me um bando de homens e mulheres chorando. A rua da piedade era bem sórdida, um mau cheiro de ralo de esgoto exalava por todos os cantos, mas ninguém ali parecia incomodar-se com isso. Era um mundo tão real...
Alguns lamentavam coisas sobre o amor, a falta de irmandade do mundo atual e de como o sexo e as drogas acabaram com seus sentimentos, tal qual um câncer a destruir alguém em poucas semanas.
Havia outros tantos que tão somente, incessantemente, apenas choravam, compulsivamente só faziam chorar.
Foi então que Peter olhou para cima e, como numa tremenda mágica daquelas que ninguém compreende nada, saímos daquele beco – literalmente sem saída e – em instantes alcançamos um novo cenário.
Ao vislumbrar o horizonte mal pude crer que logo ali a minha frente estava o mar. Foi bem estranho e de repente Peter começou a cantar uma delicada canção, uma poesia musicada com todo o sentimento daquelas pessoas presas naquele beco, a rua da piedade...
mercy, mercy, looking for mercy
Foi a última vez que estive com Peter, dizem que ele nunca existiu. Será?
É uma frase curiosa, certamente uma convicção se olhar para trás e descobrir que não poderei apertar o botão rewind, o que foi feito é o que está aí, não adianta pensar que poderia...não poderia, a vida é um eterno cais...
Existem encontros fortuitos que alteram o curso de uma vida. O impensado, o acaso do acaso, o imponderável, o destino, um acidente, chame como quiser.
Existem encontros que alteram a pulsação de um coração, o fluxo da corrente sanguínea, a percepção do olhar, o visual de um cabelo, a vitalidade de uma vida, e mais do que isso tudo:
Muda a história pessoal de alguém.
Existem ainda os desencontros. É quando nada conspira a favor:
É o avião que nunca irá chegar, um trem que atrasa, uma carta ou um e-mail perdido, aquele desencontro no Empire State Building em “Tarde Demais Para Esquecer”, ou, numa mesma rua num mesmo dia, mas separados pela crueldade das horas...
Existe a fatalidade de nunca mais conseguir ser feliz nesses encontros e desencontros. É inevitável nessa jornada que pensamos ser a vida.
Trilha Sonora
Artista: The Jesus and Mary Chain - Just Like Honey live Oslo 2007
Nossa que novidade falar do Suede aqui neste blog!
Mas eis Brett Anderson levando seus fãs à loucura no festival de Coachella 2011. Dizem que foi uma apresentação emocionante, dá até para arrepiar assistindo New Generation e ouvindo as vozes da moçada que teve o privilégio de ver a banda ao vivo em grande estilo.
Eu faltaria no emprego, cabularia qualquer aula, deixaria de namorar, faria qualquer coisa para ver Brett e o Suede ali cara a cara.
Emoção! Acho que é pouco!
Trilha Sonora
Artista: Suede
Música: New Generation (Live Coachella 2011)
Hoje é sexta-feira santa, é santa por que é sexta? Não, não é isso!
Antes que esse papo fique qualquer coisa pra lá de Marrakech vou falar do “novo folk” do Mumford and Sons. Também não é novo coisa nenhuma, mas é bacaninha, vale o registro em uma sexta-feira que também é santa!
Os metais conferem um colorido especial a música no final. O que acham?
Bruno Batista é um sujeito afável, simpático e meticuloso em seu trabalho, sua arte, sabe muito bem o que quer. Fiquei contente ao ouvir o seu segundo álbum – Eu Não Sei Sofrer em Inglês – que traz criatividade para muito além do titulo. Com produção assinada por Guilherme Kastrup e Chico Salem, Eu Não Sei Sofrer em Inglês é composto por 12 faixas autorais, que permeiam o universo pop bem variado do seu jovem autor.
O novo disco traz participações afetivas de Zeca Baleiro (Acontecesse) e Tulipa Ruiz (Nossa Paz) e, revela um compositor desbravando caminhos – como os novos ares da musicalidade paulistana mescladas a sólida ponte de Caetano, Marley, Bowie, Dylan, Luiz Gonzaga, Leonardo Cohen dentre outros poetas da música popular.
Adorei a canção homônima ao titulo do disco – “Eu não sei sofrer em inglês” - porquê me lembra um carrossel em movimento – pode ser o De La Tour Eiffel em Paris, ou, qualquer outro de um parquinho do subúrbio do Rio, São Paulo ou São Luiz.
Essa sensação deliciosa não é gratuita, mas sim fruto de um arranjo pensado para ser leve, um deleite, pois no fundo a vida não deixa de ser um carrossel de emoções, alternando altos e baixos, acelerações e movimentos mais lentos.
Em sampa faz um lindo céu azul nesta manhã preguiçosa de outono e, eu, posso até vislumbrar o jovem poeta pinçando palavras e sonoridades delicadas e sensoriais para desnudar a vida.
Todos precisamos de nossos segredos, nossas próprias decisões, acertos e erros. O que seria de nossas vidas sem os segredos?
“World Secret” é uma balada adorável do Tears for Fears, aqui ao vivo na Alemanha (penso eu) com direito a um trechinho de uma canção de Paul McCartney.
“Acredito que a vida na Terra está cada vez mais ameaçada de ser extinta por um desastre, que pode ser nuclear, ou devido a um vírus geneticamente criado, ou alguma outra desgraça. A meu ver, a raça humana só tem futuro se for para o espaço.”
A 7º Virada Cultural de São Paulo cravou lá seus momentos épicos. Era sábado à noite e mais uma vez a cidade estava passeando pelas ruas do centro. Certamente isso é o melhor da virada, é muito legal olhar aquele mar de gente perambulando pelos palcos das atrações do evento. Não faltaram as barraquinhas de pasteis e o palco dito “brega” no Largo do Arouche.
E foi lá que me reencontrei com um mago do pop rock nacional, o britânico mais brasileiro da historia da nossa música: Ritchie!
Um dos discos que mais contribuições técnicas trouxe ao nosso rock foi exatamente “Voo de Coração” (1983) o primeiro solo de Ritchie.
Para além de um belo registro fonográfico havia as canções pop que pareciam perfeitas “Menina veneno”, “A vida tem dessas coisas”, “Pelo Interfone”, “Casanova” e “Voo de coração”. Todas foram devidamente encenadas por Ritchie e sua banda num show retrô redondo, empolgante. Tive certeza da minha felicidade de escolha quando Ritchie brindou-nos com a balada “Voo de Coração” – o Arouche inundado por uma luz intensa parecia ainda mais bonito, talvez porque está canção seja um retrato do pop maiúsculo do inglês/carioca:
No canto da sala o seu holograma você parece sorrir
Você me pisca o olho, você me manda um beijo
Parece estar mesmo aqui
Mas eu só, no apartamento, escrevendo
Memórias no velho computador
Nas asas do tempo, vertigem do momento
Voo de coração, meu amor,,,
Sinceramente, na semana do U2 Ritchie foi o cara, e foi de goleada!
“Prestes a completar 40 anos sem ter realizado nada do que pretendia realizar – sem jamais ter alcançado a criatividade profunda à qual me dediquei todo esse tempo –, me sinto ocupando uma posição menor, débil e obscura, a que cheguei não por destino, mas por culpa minha, como se me tivessem faltado, a certa altura do caminho, o espírito e a coragem necessários para me encaixar com competência nos moldes que iam surgindo. Penso em Leander[1] e em todos os outros. Não é por serem histórias de fracasso; não é isso que assusta. É que esses registros são banais, eles não têm a menor importância; é porque Leander, caminhando no jardim ao entardecer, padecendo de uma paixão violenta, não interessa a ninguém. Não importa. Não importa...”
John Cheever
E lá estava eu no meio da multidão para prestigiar o U2 pela segunda vez na vida. De cara veio uma nítida impressão de grandeza, imponência e limites tecnológicos que parecem nunca intimidar os irlandeses. Esse talvez seja o ponto alto da carreira e da longevidade da turma do U2.
No show as colagens artísticas comuns ao universo da banda, da pintura à arte eletrônica, da cultura do videoclipe a estética holografica, pois no final das contas, o palco e seus telões acoplados são a disseminação desta porção tridimensional da cultura cibernética do presente século.
O show então é uma viagem espacial – desde sua introdução ao som de David Bowie “Space Oddity” (linda/maravilhosa) até o epilogo quando no telão a banda homenageia Elton John e Yuri Gagarin na balada “Rocket Man” – porém é uma jornada nas estrelas sem arredar os pés deste planeta, ou seja, sem um diário estelar.
Há momentos em que nos pegamos enraizados e enfeitiçados de maneira tão profunda que não conseguimos esquecer concretamente da nossa própria existência. E para isso basta olhar para Bono, The Edge, Adam e Larry em ação em canções como “I Will follow”, “Sunday Blody Sunday”, a memorável “I still haven't found What I'm looking for” – quando Bono praticamente não cantou, pois os shows na América do Sul não são feitos por eles (U2), mas sim por nós espectadores, advertiu o cantor.
Enfim, basta recordar que há trinta anos eles já faziam parte da vida de quase todos que estavam naquele estádio, e daí parte a certa melancolia de si olhar no espelho e ter a certeza que o tempo passou, para você e também para o U2.
Em meio a mensagens sociopolíticas de engajamento e ao trivial e previsível jogo de cortejo aos tupiniquins, “eu sou brasileiro e não desisto nunca!”, solta um Bono bastante rouco, com uma voz que em nada faz lembrar o vigor da década de 80. E assim o baixinho foi tocando o show à sua maneira, às vezes no piloto automático para seu próprio conforto e a alegria das gerações mais novas (por vezes mais complacentes, se preferir mais leves a nós quarentões chatos), outras com alguma pálida energia criativa que ainda lhe resta por trás da figura caricata da qual se tornou refém de si mesmo nos últimos anos.
Vieram canções emblemáticas e feitas para grandes arenas como “City Of Blinding Lights”, “Walk On”, “Pride” e outras com adornos de contemporaneidade como “Crazy Tonight” com direito a trechos de “Relax” hit dos anos 80 do Frankie Goes To Hollywood, além de uma participação de Seu Jorge cantando com Bono, (os dois bem desafinados por sinal) na versão bossa-nova de “Model” dos alemães do Kraftwerk.
Talvez o único momento que tenha fugido ao script certinho do show foi a inserção no setlist de “Zooropa” que há anos não era executada pela banda ao vivo. Essa é uma canção profética que permeia como a tecnologia e o consumismo vão rondando e engolindo multidões ao redor do planeta, curiosamente parece servir como antítese para o próprio show do U2 em 2011.
Depois de duas horas e pouco de show chega a hora do adeus com “Moment of Surrender”, e à minha frente eu antevejo um Bono que poderia ser eu mesmo em meus momentos de instabilidade temendo sair do palco e encarar a própria imagem em seu camarim. Por isso tudo não consegui evitar a lembrança das lentes perturbadoras do escritor John Cheever (citação acima).
Meia-noite no Morumbi, luzes acessas, é hora de encarar a multidão nas ruas, só que eu não sou o Bono, por isso mesmo demorei um pouquinho pra chegar em casa e olhar o espelho.
Outro dia ouvi esta canção sendo executada por uma big band em um município paulista, achei bem bacana.
Claudinha Telles fez muito sucesso com “Fim de Tarde” nos anos 70, pegando carona no auge de Diana Ross – observe o inicio da canção, a semelhança não deve ser mera coincidência e, mesmo assim trata-se de uma canção de boa harmonia e melodia redonda.
A outra metade do Suede, o guitarrista e compositor Bernard Butler um mago na criação de guitarras com levadas sinuosas e melódicas. Comparado a outra fera, Johnny Marr dos Smiths, Butler construiu uma carreira solida no underground britânico após sua saída do Suede.
Aqui vemos o Duque de Suede cantando uma de suas canções do álbum People Move On de 1998. Bonito videoclipe com direito a trenzinho de brinquedo e a felinos.
Pois bem, o hit é Planet Earth, o ano é 1981 e o figurino e a estética dos rapazes ingleses foi toda arquitetada para alcançar o topo. Chegou apenas ao 12º posto nas paradas, mas era apenas o inicio da carreira dos ‘bonitinhos do rock’ inglês.
Entretanto, os primeiros acordes de Planet Earth nunca foram esquecidos. É mesmo um hit.
Quantas vezes você já se sentiu invisível em sua vida?
Eu recordo que durante a minha infância por diversas vezes pensei ser um portador de algum poder mágico, porque de repente eu ficava invisível, ninguém me via e, ninguém conversava comigo, sobretudo as garotas mais lindas do colégio. Mas eu sobrevivi!
Alguém me disse que isso ocorria porque eu sou um sessenta ponto seis – personalidade ansiosa – acho que é por isso que eu gosto de tomar uma dose diária de Frontal, embora a dose hoje em dia seja pequena, eu até voltei a sonhar...
É tão bom ser notado quando não interessa mais, é tão melhor curtir o tempo, a vida, a poesia...
Vejo pessoas que são visíveis até demais, muitas, ou todas, perdendo tempo em fugir de si mesmas, da vida que elas próprias tornam massacrante. Por tão pouco forjam uma guerra, sempre em posição defensiva como se todos quisessem aquela vidinha medíocre delas...
Vou relaxar mais um pouco, a vida continua mesmo sem nós, então penso que já encontrei a cura para o 60.6!
Esta letra é direta, confessional, me faz lembrar de muita gente que de fato está tentando viver da melhor maneira possível. Não é muito fácil ter clareza na vida pós-moderna. Eu sinto que de certa maneira me encaixo neste labirinto, embora não seja alguém que se encaixe nos moldes dessa sociedade dita civilizada. A sorte é minha com certeza!
Enfim,
eu tou tentando remar o meu barco...
...eu tou tentando ficar com Deus
eu tou tentando que ele fique comigo...
Não há salvação mais plena do que a sua própria liberdade de escolha, sempre.
Eles estão chegando. Teremos uma overdose de U2 nos próximos dias. Não sei ao certo o que quero ouvir dia 13 no Morumbi. Das canções antigas talvez realmente eu queira ouvir Bad, Even Better than the Real Thing, e certamente as belas Ultraviolet (Light My Way), e Love is Blindness que eu adoro.
É... parece que eu já sei qual seria mais ou menos um set bacana para este show, mas surpresas virão, resta esperar.
E o poeta adverte:
A fotografia
nos dá a versão fotográfica do real.
Há outras versões.
Os gravadores
inventam o real
e nem por isso sua versão do real
será menos real.
Por isso também
pode-se dizer
que há um real que só Rubem Grilo inventa
-Um real cuja essência é gráfica
e de tal intensidade
que suas formas
limpas de falso afeto
nos cortam como lâminas.
Ferreira Gullar
Trilha Sonora
Artista: U2
Música: Love is Blindness and Can't Help Falling In Love
Para aqueles que possuem
a audácia de um pequenino gesto
A radiografia da alma do pior ser humano sobre a face da terra
ainda poderá surpreender
revelar algo belo
escondido
retido
em algum lugar
por onde o beija-flor
jamais voou
Trilha Sonora Artista: Bruce Springsteen Música: Backstreets
No litoral paulista o outono é marcado pela chuva. Alguém disse que Deus está na chuva, de fato deve ser verdade, como eu gosto da chuva!
Domingo lento, preguiçoso, arredio a qualquer movimentação mais intensa, a não ser a da própria alma.
Dizem também que o tempo nublado com a predominância da ausência de cores mais vivas traz um pouco de melancolia. Em a “A Era do Gelo 3” vemos o adorável Scrat em sua eterna peregrinação, quase uma obsessão por sua noz. Lá pelas tantas Scrat encontra o seu amor e, Lou Rawls embala este encontro impagável com sua voz aveludada e sensual.
You'll Never Find Another Love Like Mine é um tema perfeito para hoje, porque me parece ser uma canção acolhedora, própria para um dia como hoje.