quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Gabriel's Oboe



Será loucura?
já não ouço mais nada além
desse som
dessa música pertubadora
que insiste em me pegar
pelo braço
à meia luz desta noite
ardente
em paz

Ela está tão longe
está tão perto
é grandiloquente
invade os meus poros
me abraça
inunda a minha alma
o meu espirito
arrebata qualquer tristeza
põe no lugar as minhas
pequenas ideias 
tinge toda geografia
ao meu redor

estou no chão?
no bosque?
na sala escura?
no divã?
em órbita?
na Lua?
em Marte?
no Gólgota?

não...
definitivamente
não...

A música
parece divina (é)
a própria voz do Deus
é o sonho
é o céu
e eu sinto amor
sinto fé
sinto...
sinto...

sinto que já não sou eu
sou apenas música
e lágrimas

Se alguém pode ouvir a luz
como expressão maior da poesia cósmica
talvez seja isso aqui
essa sinfonia intangível
inexplicável

ouça...
ouça...
apenas ouça
no contraditório
silêncio

Trilha Sonora
Artista: Yo-Yo-Ma (Ennio Morricone)
Música: Gabriel's Oboe

4 comentários:

albert disse...

a música é lindíssima! a poesia idem. a interpretação de yo-yo-ma é de uma ternura e perfeição dignas de serem apresentadas diante de Deus! que post maravilhoso...intocável!

eu era um adolescente cinéfilo quando estava sentado em um cinema do recife e acompanhei na tela as sagas do padre gabriel (interpretado pelo excelente jeremy irons) e de rodrigo mendonza (robert de niro). naquela época mal poderia imaginar que todas as vezes em que ministrasse uma palestra sobre trasntorno obsessivo compulsivo (toc), obsessivamente, eu teria que exibir os 45 minutos inciais de "a missão".

a relação entre o mito de sísifo (mundialmente conhecido como símbolo do toc) e a simbologia do "trabalho de sísifo" no sacrifício praticado por rodrigo mendonza (aos 40 minutos da película) é fascinante.

alidado a tudo isso, essa trilha inesquecível do eterno morricone.

hoje não posso e nem mereço me chamar "profeticamente" gabriel. antes do alvorecer de um novo dia, resta-me o pseudônimo e as palavras de albert camus sobre o mito de sísifo:

"se esse mito é trágico,
é porque o seu herói é consciente.
onde estaria a sua tortura
se, a cada passo,
a esperança de conseguir
o ajudasse?
sísifo, impotente e revoltado,
conhece toda a extensão de sua condição e solidão.
é nela que pensa durante a descida."

eu amo gabriel e miguel...

flávio disse...

a poesia desse post me pertuba com seu contraditório silêncio. preciso pensar em um sísifo feliz...

...deixo sísifo no sopé da montanha! encontramos sempre o nosso fardo. mas sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. ele também julga que tudo está bem. esse universo enfim sem dono não lhe parece estéril nem fútil. cada grão dessa pedra cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de noite, forma por si só um mundo. a própria luta para atingir os píncaros basta para encher um coração de homem. é preciso imaginar sísifo feliz.

in: camus, albert: "o mito de sísifo, ensaio sobre o absurdo".

é preciso imaginar sísifo feliz!!

sísifo disse...

jonathas

é por existirem pessoas como você que nunca serei "constante ou centrado". pois, prefiro esse desequílibrio que me inunda com obras de arte como as que você consegue em postagens como essa. nela temos uma junção pertubadora de poesia e música capaz de deixar um homem como eu profundamente triste e, como escrevera camus, profundamente feliz...essa contradição e pertubação, talvez, seja a loucura contida na primeira frase do seu texto. eu "odeio" você por isso...

agora, deixa eu carregar novamente a pedra de mármore até o topo da montanha. ao contrário de camus, não consigo visualizar felicidade. mas, no fundo, no fundo sei que ele também não enxergava felicidade. ele perseguia o absurdo. ele queria uma "salvação" para o pensamento suicida. como rodrigo naquela prisão antes da chegada de gabriel...

..."sempre temos que nos apegar a algo."

Lidce disse...

Lembro-me bem que naquelas épocas de descoberta do mundo, onde pensamos que temos todo o tempo para viver, encantada com a música, que me foi apresentada por meu pai através de filmes de cowboy, aprendi a apreciar a música instrumental,passei a comprar os lps,todos me chamavam de maluca, uma adolescente gostar de música instrumental? mas eu adorava, depois fui descobrindo a música clássica, ópera... Já "maiorzinha" fui em um sebo,e tinha um senhor ouvindo YoYoMa...adorei!era a mais pura poesia...não comprei o cd, mas ficou na memória e no coração.Obrigada por me fazer relembrar, aquele cheiro, aquela sensação maravilhosa em estar ouvindo algo tão celestial.