terça-feira, 29 de maio de 2018

Marvin soltando o verbo



O seminal álbum do cantor e compositor Marvin Gaye “What’s Going On” – lançado em 1971, é passeio obrigatório a quem admira a sonoridade do soul e R&B norte-americano. 

Com ele o artista conseguiu alterar sua trajetória musical, saindo das canções de cunho meramente triviais sobre o cotidiano e adentrando no terreno arenoso e profundo das lutas sociais e políticas do seu país, entremeado por referências espirituais e, como toda grande obra de arte, ainda hoje seus conteúdos permanecem universais.

É como se o disco fosse narrado por um combatente da Guerra do Vietnã que acaba de retornar aos Estados Unidos, descobrindo então que os soldados americanos sacrificados na Ásia foram somente joguetes nas mãos inescrupulosas dos senhores da guerra e de seus interesses capitalistas.

Aqui uma releitura dos irlandeses do U2, que nunca esconderam a importância da influência da música negra norte-americana em seu trabalho.  

U2  – “What’s Going On”


Marvin Gaye – “What’s Going On”


segunda-feira, 28 de maio de 2018

Heróis do Mar



Realizando uma espécie de arqueologia do rock português, uma maneira de tomar contato com um pouco do passado cultural recente deste país que agora tento aos poucos desbravar, mas na realidade os verdadeiros desbravadores são eles e disso já sabemos a mais de 500 anos.

Formada no início da década de 80, a banda suscitaria algumas polêmicas por seu visual incomum para época, sendo inclusive acusada de fascistas.
Participarão do grupo Paulo Pedro Gonçalves (guitarra), Carlos Maria Trindade (teclas), Tozé Almeida (bateria), Pedro Ayres Magalhães (baixo) e Rui Pregal da Cunha (voz).

A sonoridade dos Heróis do Mar encontram eco nas vertentes em voga naquele período no cenário musical europeu e norte-americano: Pop rock; synth pop; new romantic; new wave, ecletismo que renderam 6 discos em sua carreira que foi findada em 1989.

Ainda hoje são lembrados nas rádios portuguesas por sua influência e importância para a cena do rock português. Em 1983 foram eleitos como a melhor banda de rock na europa continental


 Heróis do Mar – Paixão

sábado, 26 de maio de 2018

A Música Esquecida do RPM


Esquecida pelo tempo (como quase tudo no Brasil), a canção "Juvenília" do grupo RPM pode ser classificada na categoria de músicas subestimadas por seu tempo.

Felizmente, esse mesmo tempo é um antídoto capaz de redimir certos equívocos (mas não todos), e nesse caso ouvir Juvenília na era Temer/Patos Amarelos enquanto olhamos para a situação surreal na qual o país mergulhou (talvez afundou seja o termo mais adequado) – graças sobretudo, as mãos preconceituosas e a ignorância latente da nossa classe média (não poderíamos alterar para classe abaixo da média?); torna essa missão quase que naturalmente óbvia.

A grande questão, no entanto é saber se a juventude brasileira atual é capaz ainda de interpretar textos, compreender contextos históricos, apreciar poesias, ou mesmo uma simples letra de música que na época dava voz a um sentimento de não pertencimento, estranhamento, insatisfação dos jovens daquele país que tentava sair da UTI após duas décadas e meia de ditadura militar, sim a mesma que tantos agora clamam para retomar o comando de um Brasil chafurdado na lama da hipocrisia, injustiça social e desenfreada corrupção. 

Aqui qualquer semelhança não é mera coincidência!

Cada qual possui a sua própria resposta e motivos para elencar essa sequência infindável de fatos reais, que por vezes supõe e beiram a irrealidade.  

Mas enfim, as frases que mais me pegam nessa síntese melancólica sobre um país seus desmandos e consequentes desdobramentos são:

“Sinto um imenso vazio e o Brasil/que herda o costume servil/não serviu pra mim”, ou ainda, “Parte o primeiro avião/e eu não vou voltar/e quem vem pra ficar/pra cuidar de ti/terra linda/sofre ainda a vinda de piratas/mercenários sem direção/e eu até sei quem são, sim eu sei/e você sempre faz confusão, diz que não/e vem, vem chorando/vem pedir desculpas/vem sangrando/dividir a culpa entre nós”.

Quem dera Juvenília fosse apenas e tão-somente uma canção ingênua, uma modinha de uma época já passada, um hit radiofônico que tivesse dado bastante dinheiro aos seus músicos e produtores e pronto.

Não é esse o caso, primeiro porque é uma bela canção, que passou sim, despercebida durante o furacão RPM nos anos 80, época que tantos ainda insistem em denominar de geração perdida (o que falar então dos dias atuais), e segundo por sua força motriz residir exatamente no contexto histórico-político-literário de sua letra.

E assim seguimos cantarolando aqui e ali com o RPM, enquanto uma maioria esmagadora prefere desafinar gritando a sofrência dos neos sertanejos, emergentes sociais que tão bem representam uma elite que continua a ignorar a literatura, a arte, a filosofia, a história, até porque para eles o que importa no final das contas é mesmo o o trivial biombo status/dinheiro.

RPM - Juvenília

quinta-feira, 24 de maio de 2018

A dor da Saudade




Before you cross the street
Take my hand
Life is what happens to you
While you´re busy making other plans

 
No lugar que estou agora penso tanto em ti
pequeno e lindo garoto  
e a vida segue mesmo que a tristeza da saudade 
venha a doer todas as noites antes de dormir  

pois é doce esse amor entre pai e filho  
belo e lindo garoto.

John Lennon

Beautiful Boy                                                                                            








terça-feira, 8 de maio de 2018

Um Forasteiro



Nos últimos meses venho sentindo cada vez mais a sensação incômoda de ter me tornado um forasteiro em meu próprio país. 

Após décadas de luta pela democracia, por uma distribuição de renda mais justa, por maior igualdade social, ficou evidente o retrocesso que o país sofreu nos últimos três anos, logo após o primeiro de diversos golpes impetrado por representantes da elite vil que domina está terra a mais de quinhentos anos. 

O Brasil não é para amadores já dizia o intelectual! 

Desemprego, queda da renda, desilusão com tudo e quase todos, apenas aumentaram a minha nítida sensação de solidão, de estar alijado da sociedade, de estranhamento de tudo que acontece ao redor, e isso evidentemente causa logo uma depressão em todos e quaisquer sentidos. 

Enfim, esmureci, assim como muito dos meus amigos de geração! O desencanto é latente, pois o país mergulhou em uma escuridão de conservadorismo, de pilhagem jamais vista antes em nossa história. 

Neste período ouvi dezenas de nãos, milhares de talvez, zilhões de bem feito, de pessoas das mais variadas áreas, inclusive, algumas que certamente habitam o inferno e ainda não foram comunicadas de sua condição quase mórbida em plena vida! Azar delas, quero apenas distância desse tipo de gente mal amada, preconceituosa, defeituosa da alma e ruim, muito ruim da cabeça.

Mas enfim é o que tenho para hoje, e parafraseando a minha querida Marina Lima em recente entrevista, me sinto um forasteiro em meu próprio país! É triste, mas é real, e dói! 

E quando isso acontece você tem duas opções: ficar no país e começar tudo de novo, buscando, teimando em construir alguma ponte para alguma nova e tênue esperança.

Ou então simplesmente partir para longe, também para recomeçar do nada, levando consigo uma pontinha de ânimo de pelo menos sentir-se resignado em poder dar ao seu filho a oportunidade de crescer em um lugar onde haja o mínimo de algo que no Brasil virou mera e pálida ilusão:
Fraternidade, igualdade e liberdade. 

Exatamente os pilares que inauguraram a modernidade no ocidente, e tudo o que o Brasil perdeu nos últimos meses e não sei  enquanto um pequeno conhecedor da história se algum dia voltaremos a ter nessa terra, que trata muito mesquinhamente seus filhos que não nasceram ricos. 

E ser rico é o sonho da maioria da classe média tupiniquim, custe o que custar! Isso é de uma pobreza intelectual e social sem precedentes, e empurra para o charco qualquer ideia diferente e que coloque de alguma maneira em risco essa mentalidade que bem representa a elite do atraso, que rasgou a constituição, com a ajuda de políticos e empresários corruptos, além da nova casta judiciária do país para satisfazer sua sanha perversa de explorar e escravizar a maioria dos seus cidadãos, mantendo assim os seus interesses acima de qualquer outro direito.

A miséria é o lugar do povo! Assim pensam esses canalhas!

Atravessar o oceano, atravessar as incertezas, sobretudo atravessar a desconfiança da maioria, mas se há algo que me move adiante é perceber que apesar de tudo ainda existe poesia, cá dentro do meu peito, da minha alma!

Que Deus me ilumine neste novo caminho, que tire daqui de dentro qualquer ódio, magoa ou tristeza desmedida, para que enquanto um imigrante, um forasteiro em terra estranha eu consiga amar a vida e superar os obstáculos, lutando sim mas sem perder a ternura jamais. 

Marina Lima

Fullgas