terça-feira, 8 de maio de 2018

Um Forasteiro



Nos últimos meses venho sentindo cada vez mais a sensação incômoda de ter me tornado um forasteiro em meu próprio país. 

Após décadas de luta pela democracia, por uma distribuição de renda mais justa, por maior igualdade social, ficou evidente o retrocesso que o país sofreu nos últimos três anos, logo após o primeiro de diversos golpes impetrado por representantes da elite vil que domina está terra a mais de quinhentos anos. 

O Brasil não é para amadores já dizia o intelectual! 

Desemprego, queda da renda, desilusão com tudo e quase todos, apenas aumentaram a minha nítida sensação de solidão, de estar alijado da sociedade, de estranhamento de tudo que acontece ao redor, e isso evidentemente causa logo uma depressão em todos e quaisquer sentidos. 

Enfim, esmureci, assim como muito dos meus amigos de geração! O desencanto é latente, pois o país mergulhou em uma escuridão de conservadorismo, de pilhagem jamais vista antes em nossa história. 

Neste período ouvi dezenas de nãos, milhares de talvez, zilhões de bem feito, de pessoas das mais variadas áreas, inclusive, algumas que certamente habitam o inferno e ainda não foram comunicadas de sua condição quase mórbida em plena vida! Azar delas, quero apenas distância desse tipo de gente mal amada, preconceituosa, defeituosa da alma e ruim, muito ruim da cabeça.

Mas enfim é o que tenho para hoje, e parafraseando a minha querida Marina Lima em recente entrevista, me sinto um forasteiro em meu próprio país! É triste, mas é real, e dói! 

E quando isso acontece você tem duas opções: ficar no país e começar tudo de novo, buscando, teimando em construir alguma ponte para alguma nova e tênue esperança.

Ou então simplesmente partir para longe, também para recomeçar do nada, levando consigo uma pontinha de ânimo de pelo menos sentir-se resignado em poder dar ao seu filho a oportunidade de crescer em um lugar onde haja o mínimo de algo que no Brasil virou mera e pálida ilusão:
Fraternidade, igualdade e liberdade. 

Exatamente os pilares que inauguraram a modernidade no ocidente, e tudo o que o Brasil perdeu nos últimos meses e não sei  enquanto um pequeno conhecedor da história se algum dia voltaremos a ter nessa terra, que trata muito mesquinhamente seus filhos que não nasceram ricos. 

E ser rico é o sonho da maioria da classe média tupiniquim, custe o que custar! Isso é de uma pobreza intelectual e social sem precedentes, e empurra para o charco qualquer ideia diferente e que coloque de alguma maneira em risco essa mentalidade que bem representa a elite do atraso, que rasgou a constituição, com a ajuda de políticos e empresários corruptos, além da nova casta judiciária do país para satisfazer sua sanha perversa de explorar e escravizar a maioria dos seus cidadãos, mantendo assim os seus interesses acima de qualquer outro direito.

A miséria é o lugar do povo! Assim pensam esses canalhas!

Atravessar o oceano, atravessar as incertezas, sobretudo atravessar a desconfiança da maioria, mas se há algo que me move adiante é perceber que apesar de tudo ainda existe poesia, cá dentro do meu peito, da minha alma!

Que Deus me ilumine neste novo caminho, que tire daqui de dentro qualquer ódio, magoa ou tristeza desmedida, para que enquanto um imigrante, um forasteiro em terra estranha eu consiga amar a vida e superar os obstáculos, lutando sim mas sem perder a ternura jamais. 

Marina Lima

Fullgas 




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