Há dois anos atrás muita coisa nova aconteceu em minha vida …
Olá Mundo!
Nasci numa noite típica do outono paulistano e na mais
paulista de suas avenidas. Conheci mamãe e papai às 20h55 da terça-feira 26 de
março do ano da graça de 2013. Nasci medindo 50,5 cm e pesando 3,500 g. Meu pai
me disse no meu ouvido que eu sou um garoto tranquilo, um pouco resmungão como
ele, mas muito calmo e, principalmente fofo!!!
Esse mundo é imenso e parece um pouco confuso, mas estando
perto do papai e da mamãe ficarei em paz.
A cada dia
me sinto um estranho, me sinto alguém que foi paulatinamente perdendo afinidade
com as pessoas ao redor, não consigo conversar com ninguém sobre política, meus
amigos, ou ex amigos parecem viver em algum lugar do século XV - pois o assunto
quando é politica sempre caí inevitavelmente no preconceito, nas manifestações seculares
de ódio contra as camadas menos favorecidas economicamente – algo típico de nossas
elites, e o pior de tudo, quem a reproduz são pessoas como eu que não nasceram
ricas e nunca serão... A ignorância é mesmo vizinha da maldade!
Ninguém quer
saber de uma boa leitura, é novela, reality shows e daí pra pior...
Acho que
está chegando a hora de buscar outros horizontes, conhecer novas culturas, ter
o desafio de viver onde eu não nasci e, portanto em algum lugar onde o
sentimento de pertencimento provavelmente nunca existirá, mas o mundo é grande
e a gente vive apenas uma vez...
Até que se
prove o contrário o homem é mesmo nômade por natureza...
What does this city have to offer
me?
Everyone else thinks it's the bee's
knees
What does this city have to offer
me?
I just can't see
I just can't see
Aceito dicas
e convites para me auto exilar.
Vitrola: Camera Obscura - Let's Get
Out Of This Country
"As pessoas estão cada vez mais idiotas, mas cheias de
opinião." Não sei o que vem por aí, é cedo para vaticínios sombrios, mas
posso antever um mundo povoado por covardes anônimos e cheios de opiniões. O
sujeito se sente participando da "vida coletiva", integrado ao mundo,
quando dá sua opinião sobre o que quer que seja: a cantora que errou o
"Hino Nacional", o discurso do presidente, a contratação milionária
do clube, o novo disco do velho artista, etc. Julga-se um homem de atitude se
protesta contra tudo e todos em posts no blog de economia e comentários abaixo
do vídeo no YouTube. Faz tudo isso no escuro, protegido por um nickname, um
endereço de e-mail, uma máscara. Raivosa, mas covarde”.
Passagem do livro "A Marca Humana", de Philip Roth.
Esguia, de lábios carnudos, olhar meio perdido, voz rouca...
Já faz tanto tempo e hoje escutando uma canção de um K7 que te presentei naquela época, você
ressurgiu bailando aqui na minha mente e foi uma lembrança deliciosa...
Me disseram que você hoje é muito feliz, é uma notícia que
me deixa radiante...
Estou ministrando palestras de como não ser feliz, é isso
mesmo, não se espante. O que mais ouvimos nos dias atuais são receitas de como
ser feliz no amor, no trabalho, na vida enfim.
As igrejas estão com pessoas saindo pelo ladrão (e outras
ficando lá dentro mesmo), os marqueteiros criam sempre peças publicitárias
falando dela, a felicidade. Lair Ribeiro rodou o país falando da importância de
ser feliz, e as músicas que mais vendem no mundo tecem uma variação sobre o
tema.
A felicidade está focada no poder aquisitivo, em quanto você
possui em sua conta bancária, em tudo que esse dinheiro poderá te render
materialmente, é sempre a mesma ladainha do pragmatismo, o discurso
motivacional da vitória, da superação, de como chegar a felicidade.
Pois bem, na minha filosofia de botequim, a impressão que
tenho é que o homem nasceu para atender outras questões mais urgentes antes de
ter tempo para racionalizar a tal felicidade e suas implicações.
Mas desconfiem
do meu discurso, pois sou tipicamente alguém que costuma ser do ‘contra’,
negativo para outros, mas na real não é nada disso, apenas não faço parte do
coro dos contentes, que costuma sorrir de tudo e de todos.
A felicidade tal qual vendem por aí é aborrecida, egoísta e
superficial. Na verdade o que mais ouvimos no mundo hoje são mentiras de todos
os estilos, tamanhos e variações. Não sei aonde se escondeu a verdade, mas as
mentiras estão soltas por aí, prestes a pegar você, principalmente no golpe da
felicidade.
Nessa me recordei da antiga canção de Raul (toca Raul) e de
repente me peguei em dúvida:
-Será que eu sou
Um sábio chinês
Que sonhou
Que era uma borboleta
Ou serei uma borboleta
Sonhando que era um sábio chinês...
Ps: Jamais moraria em uma rua, bairro, ou cidade com nomes
de Felicidade, Jardim da alegria, recanto
da alma feliz e por aí vai...
Estamos no final de março, e podemos observar lá embaixo sobre a metrópole, que o outono chegou...
Dói um pouco
Depois um pouco menos
Mesmo assim ainda é dor...
No final de tarde Mari suspira enquanto caminha sozinha pela
rua. Observa que as flores vão desaparecendo dos canteiros, bem como, das
árvores centenárias da grande avenida, ao mesmo tempo em que as folhas secas e
avermelhadas vão espalhando-se pelo chão da cidade num colorido que anuncia o início
do outono.
É uma tarde cinzenta e de frio, por isso seus passos são
curtos e rápidos, há pressa de alcançar a estação mais próxima do metro, e ela ainda
espera pelo milagre do efeito das gotas de Buscopan, na esperança que aquela
dor chata simplesmente cesse.
Ao passar pela porta do “The Mills” uma lanchonete ali do
bairro, ela escuta “Georgia On My Mind” de Ray Charles, isso de cara remete
suas lembranças ao seu ex-namorado - Akira, que naquela hora provavelmente está
bem longe dali, vivenciando seus primeiros dias em Xangai, na China, para onde
foi estudar Mandarim.
De qualquer jeito,
não serão aquelas gotas do remédio que irão cicatrizar sua angústia por ter
recusado seguir com Akira até Xangai, e da mesma maneira que todas as folhas
das arvores da cidade cairão ao longo do outono, seu sorriso será escasso e
raro durante o restante do ano.