sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

O Haiti



“Como os pássaros, que cuidam de seus filhos ao fazer um ninho nas árvores e nas montanhas, longe de predadores, ameaças e perigos, e mais perto de Deus, deveríamos cuidar dos nossos filhos como um bem sagrado, promover o respeito a seus direitos e protegê-los”.

Estes são os últimos versos do discurso que a médica sanitarista e pediatra Zilda Arns Neumann, 75, fazia em Porto Príncipe na última terça-feira, quando a cidade desmoronou.

Dona Zilda, como era carinhosamente chamada, morreu trabalhando no que acreditava ser a sua multiplicação dos pães. E era.

À frente da Pastoral da Criança conseguiu difundir pelo Brasil e por diversos países da América Latina atos simples como, lavar as mãos e tomar banho. Multiplicou assim o que anda escasso mundo afora: o amor.

Difícil não ficar profundamente triste e, até sentir certa revolta, quando um ser humano como Dona Zilda Arns deixa o mundo e o país órfãos de cidadãos fluentes e tão firmes de caráter. E quando a gente lê o noticiário político e, já sem estômago, vê noticias sobre os Arrudas e Sarneys da vida, uma ponta de raiva bate em nossos corações. Mas este tipo de sentimento não combinava com Zilda e com nenhum ser humano imbuído de uma missão real de transformação neste mundo.

Só não devemos esquecer que uma boa parte da desgraça que grassa socialmente o Haiti, também habita inúmeros recantos deste solo brasileiro. E a pergunta continua sendo a mesma: até quando suportaremos calados a tudo isso?

Trilha Sonora
Artista: Cateano Veloso
Música: Haiti

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