quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Piano Man



Durante um tempo em minha vida era assim: um bar, uma dose de uísque e, outra de Campari. Um homem ao piano solfejando canções para mexer com as dores do passado e do presente.

Na noite conhecemos a fundo a decrepitude humana, não se engane, aquele cara com boa pinta, dinheiro, um carrão e rodeado de mulheres está ali pagando todas porquê é alguém infeliz.

‘Esqueceu’ sua mulher em casa, trancafiou suas irritações e frustrações em algum canto da angústia de que tanto foge. Bem... os filhos... Ah, os filhos estão por aí.

Ele maltrata os garçons, fala alto, gesticula, parece ser o centro das atenções daquele recinto fechado. A noite avança, a temperatura sobe e, antes que seja tarde demais suas garotas lhe avisam:

-Já está na hora! Peça a conta por favor.

O homem ao piano está cansado, os garçons já não servem mais nada, o salão está vazio, mas ele ainda gesticula e fala bem alto.

Foi embora enfim, e a casa ficará fechada até a noite seguinte quando um outro clone como ele ressurgirá para brindar a farsa da sociedade civilizada.

Aquele cara é a escória que tanta gente bajula em troca de algum favor, de alguma compensação material.

O homem do piano traga seu último cigarro, fecha o instrumento e ganha a rua.

Esta era a minha ciranda noite após noite, até a noite em que cansei. Deu no saco. Era uma espécie de  experimento das vaidades humanas: fala a fala, gesto a gesto, cartão de crédito sobre cartão de crédito, uma senhora rotina massacrante para os olhos do poeta.

Billy Joel então resolveu ficcionar a realidade...


It's nine o'clock on a Saturday
The regular crowd shuffles in
There's an old man sitting next to me
Making love to his tonic and gin

Trilha Sonora
Artista: Billy Joel
Música: Piano Man

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