Eu fecho os meus olhos e ouço uma voz deliciosa, confiante e, alegre: Shingai Shoniwa é o nome da voz que empolga com o punk blues do Noisettes, banda londrina que faz jus ao termo pop.
I'll never forget you
They said we'd never make it
My sweet joy
Always remember me
Isto gruda no ouvido como chiclete, que belo refrão.
Trilha Sonora Artista: Noisettes Música: Never Forget You
Ele entrou na sala
Bateu a porta
Tirou a camisa
Ascendeu um cigarro
No gargalo o último gole
Da sua bebida destilada
E com ele
Fugiu-lhe a sabedoria
Insone pela ditadura
Do politicamente correto
Foi ao quarto
Olhou pela janela
Viu a chuva
Pensou na amada
Sentiu saudades e,
Ao mesmo tempo riu sozinho
Pela prece do amigo:
-Santo das causas impossíveis abre o caminho deste jovem varão para o amor...
E foi assim que conheceu alguém
Com quem conversou a noite inteira sem parar
De mirar naqueles olhos acastanhados
Mas podia ser qualquer outra cor
O efeito seria o mesmo
Sempre assim
Um dia
Uma noite
Uma tarde em nossas vidas
E quando vemos
Estamos sozinhos
Debruçados na janela
Vendo uma fina garoa
Borrando
Nossos desejos
Nossas ilusões
E dizendo: para abrir os olhos...
Adeus
Já é de manhã
A estrada espera
Já é de manhã...
Trilha Sonora Artista: Vanguart Música: Para abrir os Olhos
Cantora de voz doce e, costumeiro desempenho cativante sobre o palco, a mineira Marina Machado continua esbanjando talento por onde passa. Já foi a outras paisagens lúdicas longínquas do planeta, mas seus pés estão fincados mesmo por essas bandas.
Lembro-me dela em um show na capital maranhense pelo projeto Pixinguinha – algo maravilhoso. Fala mansa, olhar atento, Marina é uma artista apaixonada pela vida, pela estrada. No vídeo uma versão para “Grilos” composição da dupla Carlos, Roberto e Erasmo.
Os Strokes moldaram as guitarras, baixos e batidas da primeira década do novo século e, isso é inegável.
“Hard To Explain” é uma das faixas do seu álbum de estréia “Is This It” (2001), uma espécie de manual para composição moderna no rock’n’roll. Lá estão os elementos de um rock garagem, sujo, coeso e bastante melódico.
Julian Fernando Casablancas é o rapaz que canta, encanta e, dá voz aos Strokes – lançou recentemente seu primeiro disco-solo “Phrazes For The Young” (2009) – registro digno que flerta com a sonoridade dos anos 80.
Depois deles Nova Iorque nunca mais foi a mesma e, nós agradecemos.
Trilha Sonora Artista: The Strokes Música: Hard to Explain
Chico Buarque comprova a tese: Você pode ser alguém de 80 anos com espírito de 20, ou, um jovenzinho de 20 e poucos com o espírito de 200. O que envelhece é o espírito.
Conheço músicos jovens, roqueiros convictos que derretem-se por Chico – por sua erudição, sua voz torpe, seus lindos olhos,e sobretudo sua magistral música e escrita.
Em “Noites Tropicais” o escritor e jornalista Nelson Motta cita uma passagem de Chico Buarque no período de aperto da ditadura militar. Chico compôs para o musical Calabar inúmeras canções, e quase todas foram censuradas. Chico decidiu então alterar as letras, sem obrigatoriamente redimensionar o sentido. Foi assim que o "Julinho de Adelaide" driblou malandramente a ignorância armada.
“Tatuagem” é dessa leva, uma música belíssima de conteúdo autobiográfico:
Quero ficar no teu corpo
Feito tatuagem
Que é pra dar coragem
Pra seguir viagem
Quando a noite vem...
Linda metáfora! Amor, ódio, medo, insegurança, está tudo ali descrito.
Lembro-me com precisão quando assisti ao primeiro grande show de Maria Rita. Foi durante a febre Maria Rita/Elis Regina no começo da década. A cantora tentava e, ao mesmo tempo nem tanto, desvencilhar-se da sombra da mãe famosa.
“Cupido” é uma das melhores faixas do seu primeiro e homônimo disco, composição de Cláudio Lins, filho de Ivan Lins. A batida quase marcial da bateria é um destaque na estrutura harmônica da canção.
Depois disso Maria Rita andou escorregando aqui e ali, mas prometia mais do que apenas uma publicidade maciça. Seu álbum de debute ainda hoje continua sendo o melhor de sua ainda iniciante carreira.
Bom mesmo continua o seu par de pernas - que infelizmente não aparece neste vídeo - hum... que coisa linda!
Ele sorri desajeitado, envergonhado, com suas bochechas rubras foge ao doce olhar de sua Julieta. Na escola senta-se ao lado da amada e, sempre que pode arranja uma desculpa para puxar conversa. O professor já o advertiu inúmeras vezes:
-Romeu preste atenção na aula!
Ah Romeu! Que lindo é o amor na infância...
Será que o sol nascerá na manhã seguinte a morte dos poetas e sonhadores?
E os pássaros voarão livres com a mesma beleza descrita em prosa e verso?
Quem alcançara a lua com a mesma intensidade?
Alguém vai chorar na cama o amor desfeito?
Mas há de existir no mundo algum vilarejo singelo e quieto
Onde uma criança olhará o céu e redescobrirá a força universal das palavras
Dos pequenos gestos
Das pequenas maravilhas
Do raio multicor
Ao cantar do passarinho
Das folhas que caem no outono
E renascem na primavera
Não será o alvorecer da civilização
Que arruinará
O amor do nosso Romeu
Que agora apenas sonha com o dia
Em que seus dedos entrelaçarão
As mãos macias de Julieta.
Trilha Sonora Artista: David Gilmour Música: Smile
E o diabo não veste mais Prada. Ele resolveu vestir outra marca bem menos conhecida é verdade. Acontece cada coisa bizarra neste planeta. Como pode alguém que se diz empresário ser tão obtuso?
O cara faz a personagem de Meryl Strip em “O Diabo Veste Prada” parecer uma fada madrinha tamanho a sua falta de tracejo social. Azar o dele. Não posso contar mais detalhes, mas aconteceu na minha frente e com testemunhas. Incrível como a ignorância é mesma vizinha da maldade.
Trilha Sonora Artista: Jamiroquai Música: Seven Days In Sunny June
Ah quanta melancolia!
Quanta, quanta solidão!
Aquela alma, que vazia,
Que sinto inútil e fria
Dentro do meu coração!
Que angústia desesperada!
Que mágoa que sabe a fim!
Se a nau foi abandonada,
E o cego caiu na estrada -
Deixai-os, que é tudo assim.
Sem sossego, sem sossego,
Nenhum momento de meu
Onde for que a alma emprego -
Na estrada morreu o cego
A nau desapareceu.
Fernando Pessoa, 3-9-1924.
Haja o que houver...
Espero por ti.
Trilha Sonora Artista: Madredeus Música: Haja o que Houver
Saudade quero ver pra crer
Saudade de te procurar
Na vida tudo pode acontecer
Partir e nunca mais voltar
Como um bom barco no mar
Eu vou, eu vou
No tengo medo es la verdad
Y lo que sucederá
Podría perderme en esta felicidad
Cuando estás comigo
La distancia y el silencio
Son solo un instante que ya terminó
Saudade quero ver pra crer
Saudade de te procurar
Na vida tudo pode acontecer
Partir e nunca mais voltar
Como um bom barco no mar
Eu vou, eu vou
Trilha Sonora Artista: Otto e Julieta Venegas Música: Saudade
Brett Anderson o meu poeta suburbano preferido registrou uma série de vídeos intitulada “You tube Series”. Aqui o moço canta uma versão para “Beautiful” sucesso na voz de Christina Aguilera, tudo foi gravado em sua casa, cada canção em um cômodo diferente e “Beautiful” não ao acasso foi filmada no porão. Piano e voz e uma melodia que trisca a tristeza na busca de um pouco de alento.
Trilha Sonora Artista: Brett Anderson Música: Beautiful
Alguns anos atrás li uma matéria sobre estes caras. Fiquei impressionado porque para tocar rock’n’roll no Irã é preciso uma verdadeira operação de guerra. Escondidos nos porões das casas noturnas da capital Teerã, a Hypernova arrebanhou os seus primeiros fãs, realizando depois várias turnês no circuito underground europeu.
A punição para quem for pego tocando rock no Irã é ser chicoteado em público, coisa que não combina muito com o espírito transgressor do velho e bom ‘roll’.
Pois bem, aí estão eles depois de um álbum lançado realizando um sonho que parecia distante da realidade. Mudaram-se do seu país de origem e vivem hoje nos Estados Unidos.
O som é pulsante e coeso, o visual bacana e a história da banda é surreal. Precisa mais?
Vou dizer o quê sobre Cássia Eller? Tudo o que for dito provavelmente soará redundante. Guardo as lembranças dos shows que vi, do inicio de sua carreira com seus cabelos ainda longos e uma postura eletrizante sobre o palco – o que era aquilo? Que força, que raça, que desbunde!
Depois um outro show maravilhoso, ela estava amamentando seu filho, parecia serena, violão e voz em boa parte do espetáculo, a fera quase domada.
Partiu tão cedo, deixo-nos a saudade.
Esta canção é linda em sua voz – Renato dizia que Cássia havia incorporado cada centímetro de emoção de “Por Enquanto”, ainda hoje emociona.
Trilha Sonora Artista: Cássia Eller Música: Por Enquanto
O The Clash foi de certa forma uma antítese ao conteúdo padrão do movimento punk. Letras politizadas, atitudes não autodestrutivas, e aproximação com outros estilos musicais, sendo o reggae o seu melhor exemplo.
Seu vocalista,Joe Strummer, continua sendo reverenciado enquanto um dos principais roqueiros ativistas da história do rock. Álbuns como “London Calling” (CBS, 1979), foram obras-primas cultuadas por mais de duas gerações de trabalhadores ingleses, e sua herança musical parece ser perpétua.
Trilha Sonora Artista: The Clash Música: Train In Vain
Às vezes eu me sinto a Susan Boyle naquele show de calouros. Chego de mansinho e ninguém percebe, ou, pior, apenas aponta para os defeitos. Eu sei que a vida é feita de oportunidades e que a gente tem que expor os nossos talentos em algum momento da vida.
Neste sentido a história de Susan é repleta de simbolismo, metáforas, ensinamentos, etc e tal. Mas e a minha vida como fica?
Ninguém tem o direito de insinuar que eu desista de um sonho, seja ele qual for. Como menciona a letra de “I Dreamed A Dream” somente a própria vida pode ‘matar’ esse sonho. O que ninguém ensina e, nem poderia, é como cada um de nós pobres mortais consegue achar o caminho para alcançar o tal sonho. E aí as dúvidas aparecem, ou quando pior, persistem...
E assim caminha a humanidade, cantando seus sonhos e infortúnios como Susan Boyle, por quem ninguém apostava sequer um mísero centavo.
Depois de quase um ano eu me rendo a esta mulher de 48 anos que nunca desistiu do sonho de manter-se, apesar de tanto sofrimento e provações, plenamente viva.
Trilha Sonora Artista: Susan Boyle Música: I Dreamed A Dream
Pop latino da moça simpática que passeia pelas ruas de Tókio cantarolando frases sapientes sobre o tal do amor e do tempo.
Estou numa fase bem latina, adoro o cinema latino, sobretudo o argentino, e de um tempo pra cá a sua musicalidade me chama até mais atenção do que a nossa (que heresia).
São ciclos, vão e vem sem cerimônia, alegria e tristeza, euforia e calmaria. Não somos máquinas mas precisamos de constantes reparos, sempre.
Eis o sotaque pernambucano (eu adoro este sotaque é muito sexy) de Karina Buhr abrindo alas para que mais gente conheça o seu trabalho.
Baiana radicada em Pernambuco – Karina mora em Sampa há mais de uma década. Caiu nas graças do diretor de teatro Zé Celso Martinez Corrêa porque também é atriz: “você há de cantar nas praças de todas as paixões porque teu canto batido é mais que humano, é divino”, atesta Zé Celso.
É humano e, por isso divino. Chega ao seu primeiro ELEPÊ solo revelando maturidade artística – coisa rara em estréias fonográficas – resultado natural após tantas experiências cênicas, musicais – urbanas e rurais.
Ouça também a balada “Mira Ira”, “tá tudo padronizado no nosso coração/nosso jeito de amar/pelo jeito não é nosso não”, frases inspiradoras e reflexivas que vão monopolizando a nossa atenção.
Karina Buhr é um sopro de ar fresco que sacode a pasmaceira que às vezes estaciona ao lado da nossa música pop riscando sua pintura e amassando a lataria.
Trilha Sonora Artista: Karina Buhr Música: Eu Menti Pra Você
Durante um tempo em minha vida era assim: um bar, uma dose de uísque e, outra de Campari. Um homem ao piano solfejando canções para mexer com as dores do passado e do presente.
Na noite conhecemos a fundo a decrepitude humana, não se engane, aquele cara com boa pinta, dinheiro, um carrão e rodeado de mulheres está ali pagando todas porquê é alguém infeliz.
‘Esqueceu’ sua mulher em casa, trancafiou suas irritações e frustrações em algum canto da angústia de que tanto foge. Bem... os filhos... Ah, os filhos estão por aí.
Ele maltrata os garçons, fala alto, gesticula, parece ser o centro das atenções daquele recinto fechado. A noite avança, a temperatura sobe e, antes que seja tarde demais suas garotas lhe avisam:
-Já está na hora! Peça a conta por favor.
O homem ao piano está cansado, os garçons já não servem mais nada, o salão está vazio, mas ele ainda gesticula e fala bem alto.
Foi embora enfim, e a casa ficará fechada até a noite seguinte quando um outro clone como ele ressurgirá para brindar a farsa da sociedade civilizada.
Aquele cara é a escória que tanta gente bajula em troca de algum favor, de alguma compensação material.
O homem do piano traga seu último cigarro, fecha o instrumento e ganha a rua.
Esta era a minha ciranda noite após noite, até a noite em que cansei. Deu no saco. Era uma espécie de experimento das vaidades humanas: fala a fala, gesto a gesto, cartão de crédito sobre cartão de crédito, uma senhora rotina massacrante para os olhos do poeta.
Billy Joel então resolveu ficcionar a realidade...
It's nine o'clock on a Saturday The regular crowd shuffles in There's an old man sitting next to me Making love to his tonic and gin
Trilha Sonora Artista: Billy Joel Música: Piano Man
Eu espero que haja alguém
Para tomar conta de mim
Quando eu morrer...
Porque quando eu olho
Em direção ao oceano
Eu sinto que um dia
Não estarei mais aqui
Neste lugar às vezes tão lindo e
Paradisíaco
Outras vezes cruel e
Desolador
Como as notas desta canção
Engraçado...
Somos frágeis
Como os grãos de areia
E ao mesmo tempo
Arrogantes quando esquecemo-nos
Da nossa finitude
Por isso,
Eu espero ter alguém por perto
Quando eu morrer...
Para que eu não pareça mais desamparado
Do que sou
Nem mais triste do que os meus olhos
Tentam esconder
É...
Todos nós queremos o amor
E quantos de nós já sofremos amargamente por ele?
Somos um oceano
Rodeado pelas luzes da noite
Percorrendo as ruas vazias da cidade
A pé, ou, motorizados
Confrontados pelo medo da solidão
Da incompreensão
Pela angústia em partir
Não gostaria de me desintegrar facilmente
Afinal,
Eu ainda consigo
Enxergar
Por de trás daquelas montanhas
Existe um oceano majestoso
E nele apenas desejo navegar
Navegar...
Pra sempre... navegar...
Bem lá no fundo do oceano.
Mais que coisa meiga olhar a super, hiper, mega, top model Gisele Bundchen escancarando como foi, ou, deixou de ser o parto do seu primeiro filho.
“Foi na banheira, parto normal, sem anestesia e sem dor”.
Ora, pergunto: e o kiko com isso?
Quantas mulheres neste Brasil varonil pariram seus filhos sem as opções da celebridade? Quantas mulheres morreram e sentiram muita dor porque não tiveram a mesma sorte de nascerem tão magras quanto a referida modelo?
Enche o saco a futilidade destas celebridades, Giseles, Ivetes, Claúdias da vida que precisam sempre estar em evidência, repetindo suas retóricas vazias, ridículas às vezes, muito mais interessadas em seus egos inflados e nos lucros comerciais do que propriamente em divulgar seus talentos. (?)
Coragem mesmo Gisele tem a minha mãe que pariu cinco filhos há décadas e nem por isso transformou essa experiência tão bonita e marcante na vida de uma mulher em algo banal, piegas, insosso e vazio.
Cazuza dizia, “só as mães são felizes”, mas eu emendo: nem todas.
Tenho um carinho despido
Por esse menino travesso
Que vejo quando olho no espelho
Em dias de muito calor
Que esconde, que fica vermelho
E finge que odeia o cupido
E vira uma idéia do avesso
Só pra complicar a dor
Tenho um medo transparente
Um desejo inconseqüente
De matar esse vampiro
Que vejo quando olho de frente
Pra trás do fundo do espelho
Em cada noite de chuva
Fico dando conselhos
A uma cabeça viúva
De um coração apagado
Na ponta do dedo da luva
Trilha Sonora Artista: Simone Capeto Música: Doody II
A adolescência e suas dúvidas. Crescemos rápido até demais para depois aos poucos ceder espaço a certa contemplação, os anos trazem a serenidade. É como me sinto quando vejo Michael Stipe emitir som na balada “At My Most Beautiful”.
O hiato entre juventude e velhice, então observe... O cantor canta hoje como não cantava antigamente. Sereno, sua intuição ainda é a mesma? Sim. Sua beleza está lá intacta, e o R.E.M. sobreviveu dia após dia.
No meu momento mais bonito
Eu conto seus cílios, secretamente
A cada um, sussurro "eu te amo"
E deixo você dormir.
Trilha Sonora Artista: R.E.M. Música: At My Most Beautiful
Nunca mais ouvi Heaven Knows I'm Miserable Now
Parei de ter coragem?
Solidão a dois de dia...
Entoava o jovem poeta
Herdeiro da masmorra prateada
Operário da subcultura pop
Esgueirando-se pela matinê do subúrbio
Agindo incessantemente contra as regras
De um jogo marcado
Com hora, dia e vencedores comprados.
Nunca mais sonhei com Rhett Butler
Nem admirei a força ambiciosa de Scarlett O’Hara
Procuro olhar através da neblina
Da paisagem branca na estrada vazia
Onde atravessa a melancolia
Ante o desespero de nunca
Ter amado ninguém
E ouço...
Um estalo seco no ar
Escuto a voz que clama
Por redenção
São tantos códigos cifrados
-Qual o sentido de viver para terminar em pó?
Quanta perversão...
Fugira ele do hospício dos sonhadores esquecidos?
Corra de volta
Cerca a dúvida
Descortina o sabor
Da traição.
Trilha Sonora Artista: Wilco Música: At Least That's What You Said
O video, a canção, a voz, a perfeita tradição pop. A Noruega exportou para o mundo em 1985 este trio electro-pop com um senso estético aprimorado.
O A-ha havia batido na trave duas vezes anteriormente, e já por desistir da aventura pop eis que surge a terceira e definitiva versão para “Take On Me”. Ajudados pela revolução da MTV em meados daquela década, a banda estourou nas paradas de sucesso com o promo vídeo – algo incipiente para época.
Deu certo, porque eu não estaria aqui vinte e cinco anos depois citando o hit e o belo vídeo – que fazia o vocalista Morten Harket sair dos quadrinhos para flertar com uma garota do mundo real, caso o álbum Hunting High And Low (Warner Bros 1985) não tivesse alcançado o status de clássico pop.
Curiosamente a banda realiza este ano a sua turnê de despedida, que inclui o Brasil. (clique aqui e confira uma versão de "The Sun Always Shines On TV" Ao Vivo). Em 1985 todas aquelas camadas de sintetizadores conectados a uma melodia de fácil assimilação, aliados aos falsetes e a beleza física de Morten faziam a diferença entre um neon aceso e uma lamparina.
Leve-me ao chão
Não acredito mais na luz
Apenas enxergo destruição
E pelas ruas
Pareço procurar por alguém
Que um dia
Deu-me
A exata sensação
De flutuar com os meus pés no chão
Parecia tão real...
Leve-me aos céus
Desbravarei caminhos desertos
Faça-me esquecer
Que estou na cidade fria
Em qual semáforo
Devo atravessar?
Todos parecem fechados
Agora para nós
E quando não há mais luz
Restam-nos somente...
Ruínas
E se o sol raiasse novamente
E com ele rompesse este frio atroz
Iluminando as paisagens
Dantes mortas
E se o azul do céu
Fulgurasse como teus olhos
Nos meus
Talvez
Pudesse eu ouvir os arcanjos
Novamente
Tocando as trombetas
Na imensidão azul
Tal qual um céu
De outono.
Trilha Sonora Artista: Smashing Pumpkins Música: Take Me Down
Porque "Lost Coastlines" dos Okkervil River é um delicioso vício, necessário para contar os dias mais alegres, embora a canção carregue lá no fundo uma pontinha de melancolia. Certas canções já nascem duradouras.
Afortunados e
Desafortunados
Homens deste século
Que perderam a razão
Por descrédito
Incrédulos sem paixão
Não conseguem ouvir
Os acordes majestosos
Nascido das entranhas
Da alma
Do artista
Sem cor
Nem classe social
Que tão somente
Expressa
Arte
Com sua costumeira dor
Brota ali na nascente
De um rio de águas turbulentas
A emoção represada
Despedaçada,
Retorcida e
Amarrotada
Do poeta
Quem um dia
Conversou com Deus
E burilou
Alguns versos
Destinados a todos os fracassados
Desta terra miserável
Que morrem amingua
Desidratados,
Sem força
E sem a luz
Do único conforto que ainda reluz
A claudicante vida:
O insuperável amor.
