“Pensamos
em demasia e sentimos bem pouco. Mais do que de máquinas, precisamos de
humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem
essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido. ”
Charles Spencer Chaplin
Na
cena final, eles caminham por uma estrada ao amanhecer, em direção a um futuro
incerto, mas esperançoso. Quantas vezes em minha vida já me senti andando por essa estrada, mas sempre tenho a nítida certeza, de que sou indigno para tal. Afinal de contas, não sou nem
Ellen e tampouco Carlitos...
E nesses dias de angustias e opressão,
a canção parece expressar o que vai aqui dentro, triturado pela tristeza de não
conseguir enxergar um sol, uma paisagem mais livre e alegre...
Mas andar com fé eu vou
Porque a fé n’ao costuma
falhar...
Quero um barco meio mar
Um meio, não achei, não
veio
Pra sair do charco feio
Quero um barco meio mar
Um porto meio lar
Um corpo feito pra se
amar e sem receio
Meio assim doente, de
repente
Cheio desse olhar
ausente
Meio louco
Meio um sufoco
Meio coca-cola
Meio mal dá bola
Meio inconsequente
Como se no meio da
cidade
Na velocidade
Na saudade
Na maldade à toa
Nessa claridade, tanta
coisa boa se desmancha feito um picolé no sol
E feito um picolé no
sol eu quero estar agora
Pra esquecer do mal que
tá lá fora
Me esperando pra cobrar
a taxa
Tá com a mão toda suja
de graxa
Tô ficando meio assim
xarope
Dessa lenga lenga, já
amarrei o bode
Pode crer que tudo tem
a ver com tudo
Tem a ver com o mundo
Tem a ver com ser
perfeito
Tá na rua, tá na banca
de revista
Tô na pista e não te
desconcerta
Sempre alerta
Na notícia esperta
Nesse compromisso
Numa dose certa
Veio como onda, bomba
Longa história nua e
sem certeza, sobre a mesa tua
Crua e sem semente,
mente me confunde
Funde a minha e a tua
neste instante, ante
Vejo um pôr do sol
brilhante
Como nunca dantes me
arriscara e fui tomar a cara
Um primeiro passo
Dum segundo passo
Dum terceiro passo, eu
acho
No caminho dessa
descoberta, não tem compromisso
Com trilhar o que já
foi trilhado
Deixo tudo ali do lado
e parto cego e sempre em frente
Meus nervos vão gritar mais alto
E mesmo sem te ver
O teu cheiro varre a madrugada em mim...
Fazia
frio e o sereno dispersava seu brilho úmido sobre as antigas pedras de paralepipido,
à meia luz, quase fim de madrugada e, ela sozinha caminha sem destino certo,
tal qual órfã longe de abrigo...
Vejo adormecer e repetir um dia de saudade...
A
alvorada não traria tanta esperança e luz desta vez,
E se você ouvisse
alguém dizer que não cometeu suicídio na fase mais sombria de sua vida, apenas
porque se estivesse morto não poderia mais beber.
O que você faria?
Bem, eu ficaria quieto,
pois cada um sabe o tamanho e a profundidade da sua dor, de suas incapacidades,
traumas, impotência frente a problemas e muros que a vida nos impõe diariamente,
enfim cada um de nós convive com sua própria tragédia pessoal e, infelizmente não
há muito como fugir disso.
A frase em questão foi
de Eric Clapton, no auge de sua depressão e alcoolismo. Sim parece difícil acreditar
que alguém tão talentoso e sensível artisticamente possa um dia ter dito isso.
Nem tanto, afinal o
artista quando sofre parece sofrer mais do que nós, levando a fundo a carga
pesada do sofrimento.
Após um hiato de alguns
anos sem gravar e nem realizar shows, o guitarrista ressurgiu durante os anos
70 para registrar talvez a melhor fase de sua música. Com o seminal Derek And
The Dominos gravou um disco pra lá de bonito, repleto de canções marcantes como
a lindíssima Bell Bottom Blues e a antológica e inesquecível Layla.
Anos mais tarde Eric passaria
por mais uma tragédia pessoal com a morte prematura de seu então único filho, Conor
de quatro anos.
Um pouco dessas
referencias e historias estão retratadas no documentário "Life In 12
Bars", sobre a vida pessoal desse gênio das guitarras, que faz questão de
não dissociar seu trabalho e talento de seus momentos dolorosos, prestando
deste modo um relevante serviço a quem imagine por ventura que a vida de um artista esteja imune a um cotidiano repleto de dissabores, dificuldades e até mesmo trágicas passagens nada
glamorosas.
Clapton é humanizado
como pouco vezes o cinema conseguiu, gerando sem dúvida uma empatia direta com o
público, fãs ou não de sua maravilhosa obra artística.