Gênio da raça, Moacir Santos comanda a sexta-feira de boas vibrações astrais e, não astrais deste blog.
Uma vez ouvi um músico explicando o método de criação do Moacir. Fantástico! Em uma música, por exemplo, o cara invertia a noção cristalizada do que é música hoje: ele escrevia as notas graves para conduzir a melodia (em primeiro plano) e as agudas para fazer a base rítmica, e funcionava!
Só por isso, já vale a pena ouvir algum registro do saudoso maestro pernambucano.
Uma das bandas mais indecifráveis dos anos 80, o Cocteau Twins, marcou época apesar de não ter frequentado assiduamente as paradas de sucesso.
Seu disco mais acessível talvez seja o belo, “Heaven Or Las Vegas” (1990), um pequeno oásis sonoro estrelado pela voz hipnótica de Elizabeth Fraser e, o duo guitarra/baixo de Robin Guthrie e Simon Raymonde.
100 melhores empresas. Aonde? Quem souber me avisa!
100 melhores discos. Já escutou? Ainda não? Como assim?
100 melhores livros. Já leu? Olha a vida é curta!
100 melhores filmes. Já assistiu uma vez pelo menos? O quê?
100 maneiras de ser feliz. Bem...
Existem muito mais possibilidades de ser feliz do que apenas uma centena. Não concorda? Ah!...hum…
Ouvi ontem e gostei: “Somos bebida forte. Temos rejeição. Na vida, quem não tem rejeição é porque é água morna", disse um político uruguaio. Tudo bem que isso dito em um contexto político causa publicidade maior do que deveria, mas na vida não existe caminho duro sem rejeição.
Acho que sou assim e, talvez a Sheryl Crow também.
Porque no fundo a vida não é nada didática. Ponto final.
Depois de viver o suficiente, sentou no banco da praça em uma tarde qualquer, mas era segunda-feira.
Como de costume abriu seu jornal por entre braços surrados pelo quase escambo de cinquenta anos ininterruptos junto ao cais do porto.
A manchete do noticioso trazia em letras garrafais: “Fraude no INSS Leva ao Colapso à Previdência Social”.
Deu um suspiro curto de conformismo enquanto suas mãos automaticamente dirigiram-se para o caderno de esportes. Do burburinho na praça ouvia-se o alarido sobre a mazela que tomara de assalto aquele grupo sempre descartado por parte maciça da sociedade.
Naquele fim de tarde ele preferiu continuar a passar seus olhos pelas letras miúdas do jornal, como espécie de revolta ante ao nefasto destino. Apenas parou para recordar de alguém que já não estava tão perto, mas fazia-se sentir ali, tal como o vento que não vemos, mas sentimos.
É quando a história ganha vida, real sentido.
As luzes dos postes centenários da imponente praça foram acesas e, o sol então começou a partir. Era hora de levantar-se, empunhar seu chapéu panamá tomar o rumo norte e vagarosamente marchar pela movimentada rua.
De longe a cena suscitava um senhor franzino vestindo um terno de linho branco amarrotado contrastando com um céu alarajando, luz natural amiúde, enquanto ele partia a noite chegava.
Eram seis da tarde na antiga rua de paralelepípedos da praça, no palco da vida, por entre pombos, mendigos e crianças cheirando cola.
Alguns dias atrás eu recebi a triste noticia: a Maria Helena partiu.
Existem encontros deste lado da vida (e são poucos), que nenhum dinheiro, nenhum emprego, nenhuma viagem, nenhuma ostentação, nada, nada, nada pagaria!
Na mensagem o Humberto dizia: “ela gostava muito de vocês, sempre estava falando em vocês”!
É...
Isso desmonta.
Arruína a alma.
Morava em São Luís com a Lidce, até que em um belo dia um ex-colega nosso de trabalho, o Humberto, nos ligou dizendo que estaria visitando a cidade e, lógico gostaria de ver-nos.
Foi quando conhecemos a Maria Helena – um doce daqueles que você só de olhar já sente o seu sabor delicado – alguém que simplesmente nos adotou como amigos porque a recebemos com simpatia em nosso lar. E o mundo anda tão louco ultimamente que esquecemos que gestos simples como este são capazes de serem perpetuados nos corações generosos de alguém como a Maria Helena.
De lá pra cá infelizmente não pudemos mais encontra - lá. Ficou um vazio, um peso, uma tristeza por sua partida repentina.
Das boas lembranças me lembro nitidamente da visita ao “Bar do Leo” em São Luís, lugar perfeito para os amantes da boa música. Ouvimos de Roberto Carlos a Aracy de Almeida, passando pela imortal voz de Dolores Duran.
Neste vídeo raro vemos Milton Nascimento cantando o samba-canção “A Noite do Meu Bem” composição de Dolores Duran no programa “Bar Academia” da extinta TV Manchete em 1984, um momento sublime!
Sábado ao som do Cake em uma de suas divertidas covers, aqui "Guitar Man" gravada originalmente pelo Bread nos anos 70, e que por algum motivo me faz recordar da minha ‘velha’ infância.
Saía de casa às 4h da manhã todos os dias. Caminhava por entre a névoa da alvorada, ouvindo apenas o tremor dos próprios lábios, e seus apressados passos.
Sua primeira provação diária era aquele coletivo lotado de seres como ele, a procura do sustento e da manutenção da dura vida. Durante os quarenta minutos do percurso a sua única sensação era a saudade da infância, onde os dias eram mais ensolarados e a neblina cedia espaço para um céu azul radiante. Lembranças já perdidas no tempo e no espaço da labuta diária.
Seu destino temido se aproxima. São cinco horas de uma manhã qualquer, e naquela estação a sua face irá se unir a outras milhares, quase todas sem feições, mas repletas das marcas da vida e ostentando ainda algum esboço persistente de fé.
A cidade antes calada, vazia e preguiçosa, agora acorda fixando seus olhos no plural de sonho, tristeza, acalanto, resignação, esperança e desespero.
Nossa personagem ainda caminha, não ouve mais seus passos, não percebe mais o frio, apenas aguarda a execução da sua sentença diária.
Depois do coletivo, do trem e da caminhada, eis que avista ao longe a Meca – imponente, repressora e transgressora da sensibilidade humana – onde dali a pouco repetirá por horas centenas de vezes o mesmo movimento, a mesma cena usurpadora de ontem, de hoje e do amanhã.
São 7h de uma sexta-feira, e nesse dia nosso anti-herói decide se rebelar contra as imposições do império e da vida. Então corre para a sala de comunicação, abre caminho à base do seu soco inglês, guardado devidamente em sua marmita. Com ele alvejou dois seguranças e três colegas que tentaram impedi-lo de tomar de assalto os microfones que comandam milhares de mentes cotidianamente.
-Atenção repetidores a ordem é parar as máquinas! Parem todas as máquinas, desliguem todos computadores, quebrem os seus cartões de ponto, e saiam da Meca! Vamos sair para o pátio externo, é hora da diversão!
Atônitos, seguranças, patrões e empregados olham horrorizados aquele ser subvertendo qualquer ordem, e mais a frente o golpe final e certeiro:
- Hoje em vez das máquinas, vocês irão ouvir música, do erudito ao popular, de Bach, a Madonna, de Cartola a Villa-Lobos, eu não quero ver ninguém parado, dancem, cantem, vamos rodear e cercar Meca!
A imprensa logo surge em polvorosa ávida por uma entrevista exclusiva com o rebelde do império. A polícia sempre ao lado do poder instituído já cerca os muros de Meca, preparando sua invasão impura e violenta.
Foi quando ao som de “Another Brick In The Wall” do Pink Floyd, que João ouviu sonolento sua Maria gritando:
-Acorda João tá na hora de ir pro trabalho! Já são 4 da manhã!
Com frio, e empunhando seu guarda-chuva, João não parecia o mesmo naquele alvorecer. Despede-se de Maria como fazia todas as manhãs, e segue seu rumo em direção a Meca, com a devoção e a fé de quem necessita de um milagre por dia.
Sorria ao lembrar do seu último trailer, da projeção inconsciente dos seus maiores anseios, e cantarolava canções que naquela madrugada representavam em seu universo a plena liberdade!
João morreu na trágica tarde daquela sexta-feira de janeiro. Ele foi tragado pelo chão no metrô Pinheiros em São Paulo. Foi traído pela cobiça humana, pelo desafeto e desamor ao próximo, pela sagacidade do pequeno grupo que continua a comandar e a usurpar os trabalhadores da grande Meca!
E quando ouço nas ruas frases soltas, “ah! Eu te disse que precisávamos melhorar o nosso planejamento estratégico...”, coisas assim tão modistas, tão rarefeitas e sem sentido.
Quando olho pela janela as crianças brincando e sorrindo, o sol batendo, o vento zunindo, as flores brotando como deveria ser na primavera, um mundo mais alegre e despreocupado com pequenos detalhes sem graça, eu começo a entuir que o mundo anda mesmo um tanto aborrecido.
Planejamento estratégico virou onda. Daqui a pouco ouviremos: para você ir ao banheiro é necessário um planejamento estratégico assado. Para comprar pão na padaria utilize o planejamento estratégico y. E por aí segue o enterro.
Aí, eu vejo o Rufus Wainwright cantando “Going To A Town”, mas ele não canta apenas, ele emociona, ascende uma chama lá dentro onde nenhum verbete empresarial da moda, ou qualquer coisa do tipo auto-ajuda conseguiria alcançar, transpor, luzir!
E logo então, “I'm going to a town that has already been burned down/I'm going to a place that is already been disgraced/I'm gonna see some folks who have already been let down./I'm so tired of America”, como tudo faz sentido.
E Chaplin renova esta sensação.
Poema da Noite
Já chorei vendo fotos e ouvindo musica;
Já liguei só para ouvir uma voz;
Me apaixonei por um sorriso;
Já pensei que fosse morrer de saudade;
E tive medo de perder alguém especial... (e acabei perdendo)
Já pulei e gritei de tanta felicidade;
Já vivi de amor e fiz muitas juras eternas... "quebrei a cara muitas vezes!"
Já abracei para proteger;
Já dei risadas quando não podia;
Já fiz amigos eternos;
Amei e fui amado;
Mas também já fui rejeitado;
Fui amado e não amei...
“Tell me do you really think you go to hell for having loved?”
Falta mesmo mais verão no cotidiano capitalista das pessoas.