Havia alguma
palavra perdida em sua mente durante a noite escaldante de verão. Doravante
suas noites insones regadas a poesia, séries de tevê e música, já não mais
resolviam sua procura quase insana por vestígios de um passado, não remoto e
tão pouco recente.
Tudo
caminhava assim, até que então em uma tarde quase perdida, ele a reconheceu por
acaso quando a viu andando sozinha pela rua do comércio, próximo ao cinema da
cidade. Sim era ela, avistada ao longe com seus cabelos loiros, sua pele semi
bronzeada, seu olhar ainda de criança, sua boca carnuda realçada por um batom
vermelho, o mesmo andar de outrora, aquele sabor de um charme estonteante.
Após quase
uma década sem notícias, e nenhuma aparição, ele tremeu ao vê-la, quase
tropeçou, não teve forças nem para acreditar no que os olhos produziam, quiça
para mover-se. A palavra esquecida praticamente despencou em sua língua, vindo
enfim à tona: Refrigério.
Retornou
para seu pequeno apartamento, apenas pensava que tudo aquilo era ilusão, mais uma
brincadeira sem graça do destino.
De quando em
quando uma súbita dor irrompia em seus compartimentos mais secretos e reclusos,
em outras ocasiões o álcool e as amantes casuais preenchiam suas rotas
solitárias e vazias. Enfim, olhando para o quadro descrito não restava dúvida,
isso tudo era o que sobrara após anos de autoengano, fuga, e de complacência.
A derradeira
certeza naquele instante: Após a tempestade não haveria bonança e, muito menos
refrigério algum.
Começou e terminou a madrugada ouvindo “You Don't Know What
Love Is”, e não teria mesmo outra companhia – além do copo de gim e, da música
de Chet Baker – até enfim cair em sono profundo.
Chet Baker – “You Don't Know What Love Is”
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