Cena do longa de Jonathan Demme “Filadélfia” (1993), e música cantada pela voz imortal de Maria Callas, a combinação não poderia dar em outra coisa, a não ser em uma cena memorável.
Abaixo uma
resenha assinada por Bia Abramo em 1994.
"Filadélfia"
combate preconceito com didatismo e honestidade
BIA
ABRAMO
DA REDAÇÃO
DA REDAÇÃO
"Filadélfia" não foi levado muito a sério pela crítica quando
entrou em circuito comercial. Foi agraciado com adjetivos como convencional e
preconceituoso.
O grande mérito do filme tem origem justamente no que foi apontado com seu
defeito principal. Jonathan Demme acertou na mosca em fazer um filme
"careta", que tem como recurso dramático básico uma das formas mais
caras e consagradas do cinema americano –o filme de tribunal. O fato é que
"Filadélfia" consegue tratar com justiça e de forma didática um
assunto espinhoso.
A luta do advogado homossexual Andrew Beckett (Tom Hanks, Oscar de melhor ator
em 93) para provar que foi demitido por ser soropositivo expõe os preconceitos
em relação aos gays, mostra o estigma relacionado a Aids e revela as
dificuldades que as minorias enfrentam para garantir os seus direitos básicos.
O didatismo –por cálculo ou por limitação estética–, funciona para atrair e
seduzir um público avesso ou mesmo simplesmente envergonhado. O segundo lugar
na pesquisa Datafolha (veja quadro nesta página) parece confirmar essa hipótese
–retirar um vídeo na locadora é um ato mais anônimo do que ir ao cinema para
assistir um filme que pode ser considerado "gay" no senso comum.
Outro truque eficiente de Demme foi a escolha de um ator negro (Denzel
Washington) para interpretar o advogado de defesa Joe Miller. É de sua boca que
saem algumas das frases mais duras (e uma das piadas mais bem-humoradas também)
sobre a opção sexual de Beckett. Só um negro –ou seja, também membro de uma
minoria– pode ser tão politicamente incorreto no país que inventou as patrulhas
da correção.
Claro que exibir uma pessoa (neste caso, o ator-símbolo do homem comum
americano) definhando de uma doença tão devastadora como a Aids proporciona
terreno fértil para pieguice e Demme não faz esforço combate isso. Mas é menos
importante do que a honestidade de mostrar.
Detalhe: a trilha sonora, com "Streets of Philadelphia", de Bruce
Springsteen (Oscar de canção), e por uma belíssima música de Neil Young é de
primeira.
Produção: EUA, 1993
Direção: Jonathan Demme
Elenco: Tom Hanks, Denzel Washington, Jason Robards
Vitrola: Maria Callas - La Mamma Morta (Philadelphia - 1993)
Nenhum comentário:
Postar um comentário