domingo, 8 de maio de 2016

Das Cinco às Sete


Houve um dia
Aconteceu uma vez
Sabe aquele encontro acidental
Daqueles que assistimos no cinema
Às vezes entregues e embasbacados
Noutras incrédulos e duros na queda:

-Isso é apenas poesia
-É arte somente
-é um charme discreto para tapiar a vida...

Sim existe esse dia
O do acaso
Desses encontros às cegas
Do romance trôpego
Irreal, sedutor
Do imprevisível amor
Do inevitável destino:

Ele avista ela
Seus olhos se cruzam pela primeira vez
Então ele atravessa a rua
E tudo acontece
A vida gera um novo milagre
Uma espécie de magia
Um ponto de partida

E ouvimos então a melodia de Mahler
Que nos enche de esperança
Marejando os olhos e a alma
Nos fazendo sonhar frente a grande tela
Desejando aquilo para a nossa
Tão miúda e frágil vida cotidiana

Sofrida
Sem fé
Sem paz
Sem graça...

Mas não, isso é o cinema
É a ilusão simbólica 
Uma hora tudo acaba
E a nossa vida recomeça de onde paramos

sem encontros das 5 às 7
sem emoções
sem o afeto
sem as palavras
sem vislumbres do céu

Mas sempre tem o porém
O real não dito
O olhar que não foi perdido
O pequeno gesto da criança
O sorrir sem medo
Mostrando os dentes
Desafiando essa vida sem filtros
Com a mesma gana
De quem
Só come uma vez no dia
pois é assim que prosseguimos carregando aquele olhar

Aquele encontro
Aquele acaso
Aquele amor
Pra sempre

Aqui dentro
No silêncio de uma madrugada
Antes que o sol desperte
E ascenda em nossos olhos
o próximo amanhecer.

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