Era
uma sexta-feira daquelas em que clamamos a todos os santos pela providencial chegada
da segunda-feira.
Afrouxei
a gravata e adentrei no elevador sem muita pressa. Ganhei o rumo da rua – um
solitário sonhador em meio ao rush da Avenida Paulista, mais um na multidão,
perdido na procissão dos pecadores da seis da tarde com um nó enorme preso na garganta.
Um
vento frio vindo a leste batia contra o meu rosto e a garoa caía formando um
balé esfumaçado junto às luzes na fria noite paulistana, enquanto meu mp3
executava “No Surprises” do Radiohead.
A
cena parecia melancólica – ainda mais com o eco das buzinas de carros e motos
no sentido da Consolação, mas não existe consolo algum no anonimato solitário
da metrópole.
Era
tudo que eu buscava naquela noite, um antidoto contra a indiferença, ante a
monotonia cotidiana de nossos pequenos e colossais dilemas existenciais.
Radiohead
- No Surprises