Arnaldo Jabor com sua ironia cínica e corrosiva deu a partida: “Seja um idiota, a idiotice é vital para a felicidade”. Então sejamos idiotas, fechemos nossos olhos, “o que os olhos não veem/o coração não senti”, ignoremos pelo menos por alguns instantes a dura realidade cotidiana:
Sorria, o nosso país é o único da América Latina capaz de perdoar os assassinos e torturadores fardados da ditadura militar;
Dê risada afinal somos pródigos – conseguimos emitir mais carteiras de habilitação do que novos registros nas carteiras de trabalho.
Vamos celebrar o pré-sal, celebrar os acordos do sistema elétrico que o país fez com a Bolívia e com o Paraguai;
Vamos celebrar o apagão e, viva o ministro Lobão que entende tudo e um pouco mais sobre energia elétrica, o cara é um expert também em explicações razoáveis sobre o motivo do blecaute;
Mas que maravilha! Vamos sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas, e mesmo antes do ínicio já somos ouro em algumas categorias:
- Melhor obra superfaturada – somos imbatíveis, e dessa vez estamos nos superando!
- Melhor suplementação de verbas federais – não existe no mundo um Governo tão bonzinho quanto o nosso, o dinheiro acabará cedo, mas Lula e o próximo presidente serão solidários ao esporte!
- Melhor tiro ao alvo – o Rio de Janeiro é a Bagdá da América Latina, será que os atletas usarão coletes antibalas? Quem sobreviver verá!
- Melhor infraestrutura e planejamento – é bem possível que haja um pequeno atraso na entrega das obras, mas nada que comprometa a competição: Um dia antes está bom pra você?
- Somos medalha de ouro também na categoria confundir conceitos e idéias, daí a grande falácia de chamar direito do consumidor de cidadania, coisa ainda inexistente neste gigante por natureza;
- E o que dizer então do uso privado da esfera pública, da roubalheira institucionalizada, e se você é honesto é porque você é um banana, um pobre burro, um grande otário! Ou seja, o brasileiro é um povo extremamente competitivo – adora tirar vantagem em tudo, custe o que custar!
- No próximo quesito somos os campeões do mundo, do universo, e de todas as galáxias conhecidas até hoje:
- Melhor povo boa praça - pacífico, gentil, alegre por natureza! O mundo desabando em nossas cabeças, os caras (políticos) sacaneando com o país inteiro e ninguém parece preocupado, somos tão tranqüilos, serenos e compreensíveis! No Brasil de norte a sul ninguém gosta da palavra debate, não sabemos debater idéias sem que a coisa seja levada para o lado pessoal.
Adoramos novelas, os Big Brothers da vida, e a vida vazia das celebridades porque somos campeões da fofoca, da bisbilhotice e de enfiar o nosso nariz no doce alheio. Mas somos incapazes de sair às ruas e reivindicar os nossos direitos por conta própria, jamais! A não ser que a Rede Globo por algum interesse insinue tais ações, como no caso Collor.
Podemos até sair para protestar contra a visita do Bush ao Brasil, mas não temos culhão para exigir o fim da bandalheira lá de Brasília, a saída do Sarney, ou vociferar contra o massacre impiedoso de uma criança inocente no Rio de Janeiro, só pra citar alguns exemplos recentes.
Preferimos mesmo uma vida de sonhos: Pode ser com a TV de Plasma de 49 polegadas, com o condomínio fechado, blindado e seguro, com o carro zero quilômetros, com a viagem ao exterior, é tão mais fácil, afinal de contas não iremos mesmo mudar a situação de quem mal come, mal estuda, e não tem perspectiva alguma de vida.
Celebremos então o nosso eterno egoísmo com uma salva de palmas para a nossa classe média que é uma beleza! Embarca de primeira em qualquer barca furada, e dá à vida em troca de um ‘ingênuo’ sonho de consumo!
Se solte, sorria, e depois dê aquela gargalhada rasgada porque, “somos os filhos da revolução/somos burgueses sem religião/nós somos o futuro da nação/geração Coca-Cola”.
Um brinde a nossa capacidade étnica, a nossa coragem invejável, aos nossos devaneios! Saúde, povo brasileiro!
Somos a mistura perfeita das raças, o país do futebol e do samba. Somos o eterno futuro que teima em não chegar, mas o “pulso ainda pulsa!
Trilha Sonora Artista: Legião Urbana
Música: Mais do Mesmo
Jack White entra fácil em qualquer lista de melhores da década. Guitarrista, compositor, cantor e produtor musical, se notabilizou com o duo White Stripes no início dos 00, mas seu trabalho vai além.
Aqui com um dos seus projetos paralelos, The Raconteurs, executa o hit "Steady, As She Goes".
Trilha Sonora
Artista: The Raconteurs
Música: Steady, As She Goes
Passeio pela calçada
Esbarro em olhares fortuitos
Respiro a fuligem
Em um dia de sol a pino
Na loja da esquina
Alguém tentou matar outro alguém
Ninguém morreu,
Mas não foi por falta de insanidade
E na vizinhança
Um ator decrépito passeia de Havaianas
Bêbado, sujo, desamparado
Agredindo verbalmente
A quem não conhece seu passado
Ah! Decadência
Traz-me lembranças do auge
Porquê no final das contas
Todos nós um dia
Iremos decair
Flor a flor
Pétala a pétala
Pó sobre pó
Até definhar
E dizer
Chega...
Trilha Sonora
Artista: The Verve Música: Weeping Willow
Alvoroço na pequena Bedford Falls, onde as crianças corriam por entre ruelas ascendendo velas e cantando alegremente cantigas natalinas, pois já era véspera de natal.
Ele não era o baluarte da vila, ao contrario, despertava olhares e comentários maldosos em virtude da sua peculiar transparência infantil.
Naquele final de tarde juntou-se a outras crianças para flanar livremente pelas ruas estreitas do vilarejo. Escondia-se da mãe – já envelhecida por uma vida aflita e repleta de sobressaltos.
- Dante... Dante...
Clamava a voz rouca da mãe à sua procura.
Já passava das seis da tarde e o nosso pequeno intrépido esquecera-se do relógio, da noção ‘adulta’ e responsável do famigerado tempo. Brincava sem timidez entre meninos e meninas sorridentes – dentes branquinhos e as habituais janelinhas dos sete anos de idade.
A noite aproximava-se rapidamente e com ela o frio de dezembro que soprava um vento gélido à soleira, deixando ainda mais úmida a humilde casa. A mãe de Dante preocupava-se com a teimosia do pequeno varão, pois o padrasto do garoto já dava suas truncadas passadas rumo àquele lar. Gostava de ter a doce ilusão de que todos em casa estavam ali diariamente exclusivamente à sua espera, confundindo medo com afeto, presença com obediência e, faltando-lhe por completo o amor.
Alheio ao perigo, Dante conversava com Camila – uma lourinha magricela com um lindo par de olhos azuis e abundante sardas espalhadas por um rosto angelical:
-Como será o natal em sua casa Dante? O que você pediu ao Papai Noel?
Perguntara a festiva Camila.
-Ah! Camila, meu padrasto não gosta muito de natal e, eu tenho que dormir cedo.
-Você não ganha nenhum presente?
-Eu não... E você ganha? Quantos?
A conversa despreocupada entre as duas crianças sugeria a dura realidade do pequeno Dante. Era assim: Ao badalar da meia-noite o garoto saía escondido do seu quarto em direção a saleta de sua casa. De lá, por entre uma pequena fresta observava com olhos arregalados e de queixo caído os festejos de natal pelas ruas da pequena vila.
Gostava das luzes coloridas, dos fogos, da correria das crianças, um verdadeiro labirinto de emoções, mas o garoto pensava em Francesco, seu irmão mais velho – vítima de poliomielite e que vivia entrevado sobre uma cama, e por isso, raramente ausentava-se do seu quarto, o último e mais sombrio do casebre da esquina.
À noite antes de dormir Dante sempre rezava baixinho apalpando a escuridão de olhos fechados e joelhos fincados no chão gelado e úmido em seu singelo quartinho:
- Senhor Jesus obrigado pela vida, pela saúde e por tudo o que tenho. Por favor, tome conta do Francesco, da mamãe e do meu padrasto. Amém!
Naquela véspera de natal, entretanto algo diferente aconteceu. Seu padrasto adormeceu repentinamente após bebericar alguns copos de run, e foi então que a magia acordou para a luz.
-Dante meu querido, vamos trazer Francesco para a sala, pois hoje é noite de natal! Vamos aproveitar enquanto o senhor Scrooge dorme pesadamente o pesadelo de sua não vida.
E assim Dante, Francesco e Matilda puderam desfrutar do primeiro natal juntos em suas vidas.
Cantaram baixinho e alegremente por toda noite, recitaram versos, enfeitaram um pinheirinho com bolinhas coloridas e comeram das rabanadas preparadas por Matilda.
Dela ouviram um conto sobre um garoto que morrera de frio próximo a uma lareira na vila em uma véspera de natal tempos atrás.
Dante presenteou Francesco com um cachecol felpudo que ganhara de Camila naquela tarde.
- É para que você não sinta tanto frio à noite Francesco.
-Obrigado Dante! Infelizmente não tenho nada para te dar! Mas, venha até aqui, por favor.
Ao se aproximar de Francesco, o pequeno Dante acostumado às surras do padrasto estranhou quando o irmão estendeu sua mão gelada tiritando de frio e pediu-lhe um abraço.
Deu-se um abraço longo e intenso, colado, caloroso e infinito...
-Pronto meu irmão! Este é o único presente que eu posso lhe dar.
A mãe comovida sorriu e desejou que os natais seguintes pudessem ser um retrato do que seus olhos ali presenciavam. Então desceu ao porão para buscar mais lenha.
Naquele natal, no casebre humilde daquele vilarejo, ninguém apanhou e, ninguém chorou por falta de afeto.
O natal de Dante, Francesco e Matilda era o espelho de outra história que não envelhece, e que também fala do insuperável valor da doação, e da paz que inexplicavelmente se faz eterna.
Sucesso de 1983, Save A Prayer, traduzia bem o que era então o Duran Duran, banda inglesa porta-voz do chamado movimento new-romantic dos anos 80.
Nesta apresentação durante a turnê de 1984 pelos Estados Unidos, o vocalista Simon Le Bon dedica a canção ao cantor Marvin Gaye, então recém falecido.
Observem a parafernália eletrônica utilizada principalmente pelo tecladista Nick Rhodes, alguns computadores que a moçada de hoje daria risada, ou, perguntaria de que museu haviam saído aquelas “tralhas”.
Outra curiosidade são os isqueiros nas mãos dos fãs da banda, hoje em dia quem faz a festa nos shows são os celulares.
Pra matar saudade, sem afirmar que era melhor ou pior, se não eu posso ser trucidado via web.