A minha geração se esgoelava pra cantar esse refrão, uma canção que tirava sarro e ao mesmo tempo criticava um estado de coisas. O que canta a garotada hoje em dia?
- Mãe me dá grana pra eu torrar no shopping com as minhas amigas.
Não sei, sou chato mesmo e, estou envelhecendo. Vejo um mundo sem rumo, sem critérios, sem comunicação, confuso, talvez seja a minha velha amiga miopia, e com certeza não era diferente no tempo dos meus pais.
"Na galeria
Cada clarão
É como um dia depois do outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Cantando a poesia
Que entornas no chão".
(Chico Buarque).
O que uma galeria comercial pode nos enredar sobre as virtudes e carências da globalização? Não é bem esse o intuito principal do jovem diretor argentino Daniel Burman com sua película "El Abrazo Partido" (Argentina, França, Itália, Espanha, 2004), mas durante seus 97 minutos podemos sim visualizar uma babel partida, dividida, e por vezes indiferente frente ao processo pós-moderno da globalização.
Segundo filme em sua trilogia - "Esperando o Messias" (2000), e "As Leis de Família" (2006) - desta vez Burman recria uma Bueno Aires - ainda em grave crise econômica - a partir de uma galeria comercial no centro da cidade, revelando através do olhar de mais uma personagem com o nome de Ariel - o ator uruguaio Daniel Hendler - as celeumas possíveis no cotidiano de um autêntico mosaico de etnias, credos e cores latino-americanos com suas respectivas ancestrais européias.
O jovem Ariel Makaroff é um comerciante da comunidade judaica argentina que busca desesperadamente compreender as suas raízes nesse novo mundo transnacional, duelando com sua mãe acerca do desaparecimento do pai, semeando com sua avó as lentes doloridas da guerra, para colher no futuro quem sabe uma compreensão mais plausível dos seus colegas latino-americanos da galeria portenha.
A narrativa de Burman brilha quando opta por contar uma história de relações rompidas de um modo bem-humorado sem cair na tentação de transformar esse drama em um dramalhão choroso e copioso.
Assim de maneira leve assistimos ao desfile de personagens éticas: Os peruanos, bolivianos, paraguaios a chegada dos coreanos, todos deslocados e migrando para o convívio na babel portenha com toques europeus e de idéia comercial norte-americana.
A tentativa de Ariel de buscar na Polônia soluções e respostas para os fragmentos de sua vida soam como um recurso inteligente e sarcástico de Burman para ascender em nós a chama discursiva de que a globalização de lá não difere da mesma que praticamos em nossas galerias cotidianas daqui.
Ou será que o destino do Ariel da Polônia não seria o mesmo do boliviano, do paraguaio ou do peruano da capital portenha? Os conflitos e tensões estão postos sobre a mesa, a globalização nos impôs uma nova percepção das relações humanas, e podemos escolher se queremos olhar tudo sobre o ponto de vista meramente observador - como são as tomadas panorâmicas da personagem Ariel no início do filme - ou se de modo oposto faremos isso enfrentando um plano americano frontal, expondo e interagindo com suas perceptíveis causas e consequências.
El Abrazo Partido (Argentina, França, Itália, Espanha, 97 min). 2004
Elenco: Daniel Hendler, Adriana Aizemberg, Jorge D´Elia, Sérgio Boris.
Distribuição: Art Films
Trilha Sonora
Artista: Chico Buarque
Música: As Vitrines
Olhou para a TV e franziu a testa, então deu as costas e saiu.
Ganhou às ruas, avistou um taxi e acenou para o chofer.
-Boa noite! Daqui pro Méier por obséquio e, de preferência na manha do gato.
Foi quando o "sobrenatural de Almeida" o visitou antes da meia-noite.
Seus olhos já cansados pelas turbulências da vida olharam de relance para alguém de áurea cintilante, olhar meigo e fixo, sedutor e determinado. Ele não resistiu à tentação:
-Alô... qual o nome da belezura?
Deu para ouvir o silêncio em toda a Guanabara – segundos de intenso suspense...
-Idalina. Ao seu dispor cavalheiro.
Naquele duplo Ás entre a sedução e a fantasia, a cartada final parecia ter hora certa para chegar.
Bebidas e copos sobre a mesa enquanto o sol já queria dizer bom dia.
Saíram da boate entrelaçados pelas mãos, embora soubessem que o jogo estava perto do seu fim.
Deu empate no tempo final de jogo! Mas tal qual um clássico que se preze – aquele não teria sido o encontro derradeiro, os ventos carregavam um perfume diferente pelo ar.
Novidade é seu nome quando acontece de repente.
Em sua roda de amigos as únicas palavras concretas foram: Enfim! Paulo conheceu o amor!
Parece ter encontrado aquilo que nunca teve na vida, um romance.
PS: Sobrenatural de Almeida foi uma expressão cunhada por Nelson Rodrigues em suas crônicas esportivas
Para onde corre a manada, certamente não caminha a razão.
Não faltam exemplos: Lula e sua popularidade sacana, a turba de selvagens querendo apedrejar uma Maria Madalena pós-moderna na Uniban, a educação capenga deste país, os filmes blockbusters e, por aí vai.
Pra relaxar um som ensolarado vindo da Califórnia. O duo intitula-se Girls. Nada de mais e, nem de menos, apenas legal.
Para uma terça-feira sujeita a raios e trovoadas já está bom demais.
Diga-me que é mentira: uma professora escreve na prova de um aluno engraçadinho (daqueles que sequer aprendem a colar) que ele é prolixo. O pai da ‘figura' lê a prova e vai até a faculdade tirar satisfação com a professora:
- Você mandou meu filho pro lixo sua ...? (adjetivos não permitidos para o horário).
Pior de tudo: é a mais pura verdade! Em que mundo então estamos vivendo?
Encarar a vida pela frente... Sempre... Encarar a vida pela frente, e vê-la como ela é... Por fim, entendê-la e amá-la pelo que ela é... E depois deixá-la seguir... Sempre os anos entre nós, sempre os anos... Sempre o amor... Sempre a razão... Sempre o tempo... Sempre... As horas.
(Virginia Woolf)
Um mergulho no fundo da imensidão e,
Mesmo assim eu posso ouvir
Alguém correndo pela praia
Ao som das gaivotas
Enquanto o vento sopra e a água abraça a areia.
Segunda, terça, quarta, quinta ou sexta-feira,
Mas por quê parece que tudo sempre termina no sábado à noite?
Manhã de um sábado no metrô: ela olha no espelho portátil enquanto delineia seus olhos orientais. Faz seu make-up tal qual faria em sua casa.
Sua silhueta fina, seu sorriso aberto, seus cabelos lisos e negros. Ele que procura por distração durante a viagem, fixa seu olhar nos dela através do espelho. Logo se lembra de Tókio e, do mundo pop japonês, até que uma voz irrompe do nada:
_ Próxima estação... Liberdade.
E com ela parte uma fração de segundo oriunda do outro lado do mundo, carregando toda graça e a leveza daquele vagão.
Quando tinha meus quatorze anos ficava na varanda da minha casa olhando a paisagem de concreto de São Paulo. Adorava fitar os olhos na transposição efêmera do final da tarde para o começo da noite ao som desta balada sensível: No More Lonely Nights. Bastava ouvir:
I can wait another day
until i call you
E a viagem a bordo dos meus sonhos adolescentes decolava, são momentos que só a arte pode proporcionar! A canção teve a participação de David Gilmor do Pink Floyd na guitarra solo, nunca mais minhas noites foram iguais!
Paul McCartney fez isso com várias gerações, por isso mesmo é um gênio da arquitetura musical pop.
Trilha Sonora Artista: Paul McCartney Música: No More Lonely Nights