Muito molho neste funk com nuanças de disco, samba e outras disritmias.
Esse som fez a cabeça de muita gente décadas atrás. Dia com direito a sonzeira das antigas, até porque hoje é dia de ouvir a Black Rio acelerando a sua locomotiva com seus metais e seu remelexo.
Há um frescor na manhã
Que racaí sobre os lírios
Há um vento que sopra do norte
E um céu para cada arco-íris
Não norteio minha vida,
Assim como o besourinho perdido no jardim
Cheira as flores, voa rasante,
Mata a sede nos pingos da chuva
E nele quase se afoga
Nasce, cresce e morre no mesmo éden
Eu,
O besourinho perdido,
O jardim...
Há um rio que esvai
Em corredeiras oscilantes
Não tenho mais esconderijo
Neste reino
Chamado
Vida
Trilha Sonora Artista: Brian Eno Música: By This River
Talento de sobra e, cuca de menos. Essa é Amy Winehouse.
Sua voz, sua folha corrida de escândalos, internações, boataria, etc.
Dizem que ela lançará em breve uma boneca. Imaginem só a bonequinha da Amy em várias versões:
- Versão Clínica de Reabilitação
-Versão Casa de Repouso
-Versão visita ao noivo na penitenciária
Só pra citar algumas.
Brincadeira à parte, Amy Winehouse, quando canta é um monstro. Talvez suas dúvidas, seus pesadelos, medos e excessos, desapareçam no instante em que transforma sua voz em música.
A minha geração se esgoelava pra cantar esse refrão, uma canção que tirava sarro e ao mesmo tempo criticava um estado de coisas. O que canta a garotada hoje em dia?
- Mãe me dá grana pra eu torrar no shopping com as minhas amigas.
Não sei, sou chato mesmo e, estou envelhecendo. Vejo um mundo sem rumo, sem critérios, sem comunicação, confuso, talvez seja a minha velha amiga miopia, e com certeza não era diferente no tempo dos meus pais.
"Na galeria
Cada clarão
É como um dia depois do outro dia
Abrindo um salão
Passas em exposição
Passas sem ver teu vigia
Cantando a poesia
Que entornas no chão".
(Chico Buarque).
O que uma galeria comercial pode nos enredar sobre as virtudes e carências da globalização? Não é bem esse o intuito principal do jovem diretor argentino Daniel Burman com sua película "El Abrazo Partido" (Argentina, França, Itália, Espanha, 2004), mas durante seus 97 minutos podemos sim visualizar uma babel partida, dividida, e por vezes indiferente frente ao processo pós-moderno da globalização.
Segundo filme em sua trilogia - "Esperando o Messias" (2000), e "As Leis de Família" (2006) - desta vez Burman recria uma Bueno Aires - ainda em grave crise econômica - a partir de uma galeria comercial no centro da cidade, revelando através do olhar de mais uma personagem com o nome de Ariel - o ator uruguaio Daniel Hendler - as celeumas possíveis no cotidiano de um autêntico mosaico de etnias, credos e cores latino-americanos com suas respectivas ancestrais européias.
O jovem Ariel Makaroff é um comerciante da comunidade judaica argentina que busca desesperadamente compreender as suas raízes nesse novo mundo transnacional, duelando com sua mãe acerca do desaparecimento do pai, semeando com sua avó as lentes doloridas da guerra, para colher no futuro quem sabe uma compreensão mais plausível dos seus colegas latino-americanos da galeria portenha.
A narrativa de Burman brilha quando opta por contar uma história de relações rompidas de um modo bem-humorado sem cair na tentação de transformar esse drama em um dramalhão choroso e copioso.
Assim de maneira leve assistimos ao desfile de personagens éticas: Os peruanos, bolivianos, paraguaios a chegada dos coreanos, todos deslocados e migrando para o convívio na babel portenha com toques europeus e de idéia comercial norte-americana.
A tentativa de Ariel de buscar na Polônia soluções e respostas para os fragmentos de sua vida soam como um recurso inteligente e sarcástico de Burman para ascender em nós a chama discursiva de que a globalização de lá não difere da mesma que praticamos em nossas galerias cotidianas daqui.
Ou será que o destino do Ariel da Polônia não seria o mesmo do boliviano, do paraguaio ou do peruano da capital portenha? Os conflitos e tensões estão postos sobre a mesa, a globalização nos impôs uma nova percepção das relações humanas, e podemos escolher se queremos olhar tudo sobre o ponto de vista meramente observador - como são as tomadas panorâmicas da personagem Ariel no início do filme - ou se de modo oposto faremos isso enfrentando um plano americano frontal, expondo e interagindo com suas perceptíveis causas e consequências.
El Abrazo Partido (Argentina, França, Itália, Espanha, 97 min). 2004
Elenco: Daniel Hendler, Adriana Aizemberg, Jorge D´Elia, Sérgio Boris.
Distribuição: Art Films
Trilha Sonora
Artista: Chico Buarque
Música: As Vitrines