Andava trôpego
Feito um notívago
Sozinho à beira-mar
Zunia um vento traiçoeiro
Intrépido ancião
De amores impossíveis
Suas mãos tremulas traziam flores artificiais
Enquanto seu peito carregava o amor de uma mulher
Flutuando acesso na madrugada fria
Ao ponto exato de acalentar a triste dor
Ouviu a valsa
Sonhou com a lua
Transpôs aquela melodia
Na fina areia praiana
Um rabisco
Nada mais
Traços de um rosto aflito
Desfigurado e
Sem afeto
Então dançou lúcido
Abraçado ao oceano
Sob a luz
Incontrolável
Da crescente lua
No avesso do dia
Envolto pelos tons sombrios
A valsa
Encantada
Que dissipa o pavor
Da incompreensão
Da boca que fere a alma
Quando diz:
Não!
As flores imersas
Em súbita maré
A carregar... carregar...
Lentamente...
Vagarosa...
O brilho dos seus olhos
As forças do seu corpo
A beleza do seu amor
Em direção às profundezas
Do lugar onde habita
A solidão dos poetas
Disfarçada
Em pequenos trechos
De notas musicais
Marteladas por um piano
Torpe,
Singelo,
Capataz da noite fria
Que
Beija
Acaricia
Comunga e
Tripudia
O fortuito encontro
Entre a magnitude lunar
E o rodopiar da valsa...
...Feroz...
...Urgente...
Como quem relutante
Trancafia a emoção
Num quarto acanhado
Escuro
Esquecido
Vazio
Longe o bastante da lua
Perto demais
Do frágil coração.
By Jonathas Nascimento ®
By Jonathas Nascimento ®
Direitos autorais reservados lei 9.610 de 19/02/98
Trilha Sonora Artista: Vítor Araújo Música: Valsa Para a Lua
Foges
Tal qual a ventania que assopra a praia
Na hora da tempestade
São ventos relutantes
Rodopiando em redemoinhos
Acrobacias espirais
Num vaivém
Que sobe e desce
Em altivez soturna
De sombria dança
Trovejante
Enganas
Teu espírito livre
Acorrentado ao amor latente
Sofredor
Acolhedor contumaz e,
De fé inabalável
Corre tu
Corro eu
Pelas margens insanas
Leito eterno de todo amor
Que beija, ou, não
A vida:
A tua,
A minha,
A nossa,
A dela,
E de quem mais...
Quiser
Pagar o preço
De seguir amando
Pelejando sem jamais
Negar
O que fere de morte
A vossa alma
Foi áurea
E celestial
A manhã
A tarde e,
A Noite
De todos os dias
Resumidos em apenas um
Nascido da linda juventude
Intacta retina
Que ainda hoje
Prendes tua face à minha
Foges
Da luz convexa
Alentadora de sua dor
Quando deparas contigo
Frente a um espelho
De turva visão
Então tu estranhas
Tua própria fisionomia
Ardente luz
Que não reconheces mais
Na geografia humana
Quem tu eras
Ou quem sonhou ser
Levante da tumba
Renasça com a aurora
De um novo dia
Não ouse mais carregar
Sozinho
Todo o peso deste mundo
E quanto ao piano
Que atravessa a alma
Quando um nó
Quer-nos trancar a garganta,
Direi a ti apenas:
Sentirei,
Sentirás,
Os acordes
Que precedem
E agasalham
A nossa
Última sonata.