Ela estava com câncer. Sabia que iria morrer. Mas não
queria morrer. Era muito cedo. Havia muita coisa a ser vivida. Então, teve um
sonho. Era um jantar, muitos amigos reunidos, comendo. Aí um garçom dirigiu-se
a ela e segurou a borda do seu prato para tirá-lo. Mas ela não terminara ainda!
A comida estava gostosa. Seu prato estava cheio. Segurou então o prato para
impedir que o garçom o levasse. Ela queria comer tudo o que estava no seu
prato, até o fim. Houve um momento imóvel: o garçom, decidido a levar seu
prato, e ela, decidida a não deixar que ele o fizesse. Passados alguns segundos
nesse impasse, ela olhou para o garçom, sorriu, largou o prato e disse: “Pode
levá-lo...”.
Rubem Alves
E assim minha querida
tia, Vera Lúcia partiu na madrugada do último dia 19. Sentirei a sua falta, pois é muito
estranho não ver mais quem vimos a vida inteira.
No final desse breve
relato, vocês verão que o escritor John Steinbeck tinha razão e convicção no
que dizia.
Ando bem de saco cheio do
discurso hipócrita e banal, além da lavagem cerebral que o marketing, a
administração, e os poderosos do mundo atual despejam por aí, sobretudo dentro
das corporações quando falam de mudança, inovação e criatividade.
Balela das grandes!
Você acha mesmo que estes vermes capitalistas estão querendo mudar algo de
verdade? É óbvio que não! Querem apenas manter o poder e claro aumentarem ainda
mais os seus lucros. Para isso precisam da ajuda dos proletários, e como a
maioria não consegue ler o mundo, logo embarcam fácil neste discurso.
A tese
Para Bauman, nos dias
que correm, “a velocidade de movimento, em particular a velocidade para escapar
antes que os pássaros tenham tempo de chegar em casa para se aninharem, é a
mais popular técnica de poder”. (Bauman, 2008, p.20).
A revelação
Nesse sentido, a
“ideologia da criatividade, da inovação e, portanto, da mudança” parece
indicar, em última instância, uma estratégia fantasmática para evitar uma
verdadeira mudança, pois é “bem provável que estejamos em uma época na qual
somos assombrados por outra fantasia ideológica: a fantasia do corpo
inconsistente do capital, que nos leva a uma forma ainda mais astuta de
totalitarismo, já que nos cega para o que permanece idêntico no interior dessa
disseminação de multiplicidade. Pois a inconsistência pode servir para
sustentar uma Ordem que vigora através de sua própria descrença”.
Assisti o belo
espetáculo “Sobre Ratos e Homens” e foi inevitável pensar nessa analogia, pois
apesar das décadas de distância, o mundo como podemos perceber parece ter
mudado de fato, muito pouco. Se você já se esforçou muito por algo e não conseguiu, não tenha dúvida. Isso funciona assim mesmo, a nossa vez nunca chega, pois sempre precisamos mudar para sermos merecedores de algo. Engraçado, pois para alguns privilegiados, isso jamais acontecerá!
“Os projetos melhor
elaborados, sejam de camundongos ou sejam de homens, fracassam muitas vezes e
nos fornecem só tristeza e sofrimento, em vez do prêmio prometido”.
Certamente às seis da
manhã, saberemos se houve, ou não, um amanhã para nós. Depois de anos a fio
distantes, sem ao menos um aceno de vida, descobrimos enfim, ainda que tarde, que o amor vence todas as barreiras, mesmo que para isso se faça necessário fingir
não sentir tanta tristeza diariamente.