sábado, 24 de junho de 2017

Oração


Vivendo em um mundo burocrata
Assistindo a decrepitude humana ao redor
Somente restaria a esse filho de Deus orar, clamar, pedir forças para seguir adiante...

Oração Sincera

Agradeço aos céus por não ser careta
Graças a Deus não sou um dedo duro
Nem tampouco, uma hiena retardada
Que sorri sempre, de tudo e de todos sem motivos aparente.

Obrigado pela poesia que vejo 
enquanto os covardes enxergam apenas problemas, sérios problemas, sobretudo se isso ameaçar  seus podres poderes!

Obrigado senhor por sentir ódio da covardia.
Agradeço-te por manter-me sob alguma sanidade em meio ao caos, a injustiça, a calúnia e, a difamação!

Obrigado por esse humilde servo detestar cumprir as ordens equivocadas dos patrões picaretas, usurpadores da alma de quem não compactua com a ignorância, e mediocridade das elites sociais e econômicas de nossos tempos.

Que Deus abençoe
Aos mansos de coração
Aos puros de desejo
Aos questionadores do sistema imundo deste mundo

Que não se curvam frente ao fanatismo do falso otimismo
Agradeço pela existência da música e dos artistas sinceros e trabalhadores

Senhor o que seria de nós se não fosse a arte,
O cinema, os livros, os discos e a poesia?
Por fim,

Rogai por nós senhor
Pecadores e sonhadores compulsivos
Incansáveis agitadores sociais
Agora e na hora de nossa morte,
Afasta de mim toda e qualquer forma de autoajuda
Agora e para sempre,
Amém!

Rita Lee - Saúde




domingo, 11 de junho de 2017

Clube do tempo


Tomo de assalto as palavras do poeta em letra e melodia.

Eis que agora são 48, metade de 96 que intuo jamais alcançar e não vejo nisso nenhum drama, nenhuma dor insuportável, nada que fuja do correr natural da vida, seja para o bem e, também se for para o mal.

“Não me iludo
Tudo agora mesmo
Pode estar por um segundo...”


Em dias atribulados, repletos de cinismos e retóricas capengas, Miltons, Gilbertos, Caetanos entre outros me parecem escolhas simples e poéticas para este dia...

Porque se chamava moço
Também se chamava estrada
Viagem de ventania
Nem se lembra se olhou pra trás
Ao primeiro passo, aço, aço
Aço, aço, aço, aço, aço, aço

Porque se chamavam homens
Também se chamavam sonhos
E sonhos não envelhecem
Em meio a tantos gases lacrimogênios
Ficam calmos, calmos
Calmos, calmos, calmos

E lá se vai
Mais um dia

E basta contar compasso
E basta contar consigo
Que a chama não tem pavio
De tudo se faz canção
E o coração na curva
De um rio, rio, rio, rio, rio

E lá se vai
Mais um dia

E lá se vai
Mais um dia

E o rio de asfalto e gente
Entorna pelas ladeiras
Entope o meio-fio
Esquina mais de um milhão
Quero ver então a gente, gente
Gente, gente, gente, gente, gente

E lá se vai
Vai
Vai
Vai

Milton Nascimento - Clube da Esquina nº 2


sábado, 10 de junho de 2017

As Fadas e a Menina


Havia naquele olhar um certo amargor, quase uma tristeza indomável acostumada a noites intermináveis e a sacrifícios comuns a quem não teve a sorte de nascer do lado oposto da ponte da cidade.

Questões geográficas determinantes, vida incerta, suor, lágrimas e um fio de esperança a cada quarenta minutos, mas lembre-se, é apenas um lampejo fugaz.

Ouviu no som ambiente a antiga canção, por um instante aquietou-se a alma, enxergou suas lembranças e até quase chorou, porém preferiu dar de ombros, afinal aquele era um conto de fadas e, as fadas neste caso não pagavam as suas necessidades para sobreviver. 

Zerou suas emoções e saiu para o grande salão, já estava pronta para mais uma rodada dos dados, pois nessa vida uma das alternativas é sempre apostar que o próximo jogo será o derradeiro e libertador.

Talvez seja esse o único sonho daquela menina. 


Odair José – Eu vou tirar você desse lugar

quinta-feira, 8 de junho de 2017

A claridade rompendo a noite


A certa altura da noite, já cansado de tentar dormir, resolveu abrir sua caixa nostálgica. A luz de velas, iniciou o ritual simples e heroico da leitura de seu passado.

Na dita caixa repousam cartas de amigos, parentes e amores da mocidade, além de alguns recortes de jornais com notas sobre suas apresentações em bares de jazz durante o século passado.

Após 20 minutos e algumas cartas e notas lidas, percebeu que quase nada na vida é capaz de transpor as emoções e a adrenalina contagiante experimentadas na juventude.

Retornou para a cama e repousou suas lembranças e emoções sobre o travesseiro na esperança de voltar a dormir e a sonhar.

Em sua derradeira casa neste mundo, hoje podemos ler a sua herança:

Sonhar é procurar esperançosamente pela luz!


Fats Navarro- Infatuation