E por andará “This Time” aquela nossa canção tristonha, melancólica
e fiel...
É mais um dia de amargura pelas ruas da grande megalópole, o
paraíso dos insanos e cínicos de plantão.
Milhões atravessam as esquinas e outros milhões locomovem-se
nos automóveis...
Resumindo a tragédia cotidiana: Carros e pedestres brigam
por espaço, buzinas e palavrões misturam-se ao concreto inanimado das curvas e
da paisagem cinza da cidade, vão e vem e da mesma maneira desaparecem
ocultos pelo burburinho da cidade insana que não pode calar... enfim - não pode
parar!
Na calçada por onde milhares passaram ontem à tarde desfilando
veneno, ódio e um modo torpe de ver o mundo, alguém esquecido dos discursos, esquecido
pelo mesmo sistema está à margem apenas olhando o ir e vir, a velocidade vã de tudo
aquilo, contando apenas as horas para quem sabe sumir de vez, evaporar desse
tormento que é sobreviver à sombra, à mingua dos conglomerados multinacionais e
financeiros e dos bancos especuladores da miséria social...
Helicópteros pelo céu e conversíveis pelo asfalto roubam a
cena dantesca de qualquer reivindicação plausível... me indigno e pergunto:
-Mas e ele? Ninguém está vendo? Engraçado, pois ele não
protesta, sequer erguer os olhos, apenas observa o pic nic insano dos calhordas patriotas
de última hora, dos que nunca perdem nada além da piada...
Talvez “This Time” esteja perdida no meio daquela multidão,
rezando, pesquisando, amando o que lhe resta de vida para sorrir, chorar e
ouvir... quem sabe até sentir uma ponta de esperança.
É mais uma fúnebre tarde de segunda e, por onde andará “This
Time”...
A música é de Stevie Wonder e uma versão excelente de
Ronaldo Bastos, diga-se um dos raros momentos em que uma versão é tão boa, ou, melhor que a original.
Quando Gal canta a canção ganha vida própria, emociona.
Revirando o baú cheguei a 1984 e encontrei o videoclipe promocional da canção.
Há uma homenagem a Stevie Wonder no videoclipe próximo de seu final, o pianista negro vestindo óculos
escuro. É sem dúvida pra viajar no tempo...