E
nessa tarde de inverno os meus pensamentos serão insanos:
Pra
dizer sobre a falsa gentileza que nos cerca todos os dias. Em um mundo cada vez
mais de aparências, gestos espontâneos são banidos e classificados como
politicamente incorretos, são atitudes de pessoas desajustadas socialmente, por
isso cuidado com elas.
Chego
à farmácia querendo apenas comprar alguma droga licita, mas logo terei que
passar pelo comportamento padrão de classificação social. Olhares, sorrisos,
por favor, por gentileza, obrigado, obrigado de novo, até logo... até logo,
obrigado, volte sempre, obrigado pela preferência...
É
o tedioso mundo da convivência pacifica cotidiana, a tal civilidade da qual
costumamos nos orgulhar em tê-la e, por isso mesmo quando surge alguém outsider
– fora desse contexto teatral, caricato, totalmente clean, estranhamos,
criticamos e logo nos apressamos para tirar o “problema” de circulação, jogá-lo
para bem longe de nós é claro.
Voltando
a farmácia: A moça me pergunta quase tudo sobre a minha vida padrão, isso para
ver se terei direito, ou não, a algum desconto da ‘bondosa’ indústria farmacêutica
(patifes).
Seria
legal se vez por outra eu de fato realizasse o meu desejo inconveniente. Das duas
uma: Ou declamaria uma poesia a funcionária que apesar do esforço de seus
patrões, não se tornou um robô, e sendo assim até a convidaria para um drink, ou, me estranharia
com ela, ou com o que sobrou de seus sentimentos humanos.
Porque é muito bom
vez por outra estranhar-se consigo mesmo e com a tal sociedade em que vivemos, parece
saudável dizer o que todo mundo tem vontade e nunca o diz por medo de ser rotulado
de LOUCO (A), ou de arrumar algum tumulto em lugar público. Afinal
na rua todos precisamos ser compreensivos e, por isso mesmo as neuroses apenas
multiplicam-se como os coelhos no quintal do vizinho.
Vitrola: Beastie Boys – I Don't Know
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