quinta-feira, 20 de setembro de 2012

É perigoso ser feliz...



É perigoso a gente ser feliz
A gente começa a achar tudo lindo, divino, maravilhoso
Nossos olhos não perdem mais certo brilho
Parece que achamos uma constelação...

É perigoso a gente ser feliz
Porque a gente começa a acreditar que todos são felizes
E se esquece do peixinho dentro daquele misero aquário
Solitário, mudo e quase invisível.
Ele está prestes a morrer
Será que mesmo assim ele sorriu?

É perigoso a gente ser feliz
Porque assim deixamos de ver aqueles que suspensos
Pairam sobre nós
À margem nas calçadas
No metro
Viadutos
nas praças escondidos
sobre seu único teto,
a imensidão do céu
sem abrigo ao frio, calor, sol ou chuva.

É perigoso a gente ser feliz
Pois logo a propaganda de margarina
e a capa da revista serão um referencial de vitória
mascarando naquele sorriso a amargura
do egoísmo, da falsa necessidade, da vida supérflua e miúda
sem grandes gestos

É perigoso a gente ser feliz
Quando se perde a sensibilidade do olhar
Quando a atriz despenca do sétimo céu e não há redes
Para amortecer a sua queda.

Mesmo assim
Peço ao poeta:

Sim, me leva pra sempre, Beatriz
Me ensina a não andar com os pés no chão...

Vitrola: Maria João e Mário Laginha – Beatriz

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