Ele
descobriu algo de novo: o amor. Aos treze anos pela primeira vez sentiu aquilo
que faz a vida valer a pena.
Como
um passe de mágica experimentou o aroma da fragrância do Jasmim e, percebeu que
era o mesmo que exalava no caminho para a casa de sua Julieta. Mas Julieta na
verdade chamava-se Sofia e, era uma jovem vinda de outra cidade para passar as
férias daquele verão.
Era
um verão escaldante, sol a pino, temperaturas causticantes. Tudo corria como
outrora até que numa bela tarde seus olhos conheceram aquela garota loira, de
olhos levemente esverdeados, esguia, com sardas, extremamente charmosa, corpo
desenhado e de lábios bem carnudos. Seria a bela da tarde de Buñuel?
Essa
foi a primeira imagem de Sofia que ele congelou em sua retina.
Ele
não sabia muito bem como dizer – ou se – era realmente necessário converter
aquela sensação trepidante em palavras. Seria possível traduzir um sentimento
avassalador?
Passou
os primeiros dias travando um embate surdo consigo mesmo. Seu maior adversário:
a sua própria timidez.
No
fundo sabia que era correspondido, pois o olhar perdido e, o sorriso radiante
de Sofia mal disfarçavam que ali entre ambos havia um desejo mútuo.
Passaram
três semanas em uma casa de veraneio junto a uma multidão de jovens e adultos.
Naquela atmosfera às vezes febril era certo encontrá-los próximos fosse
brincando, jogando conversa fora ou, até mesmo brigando por pequenas tolices da
idade. A provocação e a sedução eram recíprocas.
Acordavam
cedo e logo estavam seguindo o trajeto entre a casa e a praia. Os dois
transformavam aquele trivial instante em uma espécie de jornada, uma autêntica
exploração sensorial.
Durante
as noites na hora de dormir a luz que irradiava da rua, iluminava os olhos dos
dois apaixonados. Em seus sonhos aquele era o momento perfeito, quem sabe ali o
primeiro e eterno beijo de amor.
As
férias terminaram e Sofia retornou para sua cidade. A distância motivava aquele
romance velado não consumado (será mesmo?).
Foram
cartas e mais cartas meses a fio – enquanto “a realidade mais delicada e mais
difícil, menos visível a olho nu” batia à porta dos dois jovens enamorados.
Assim
como uma tela de Cézanne perdida em algum sótão empoeirado e ordinário, onde
sua beleza não podia ser apreciada, o tempo tratou de estancar aquela
irresistível aventura.
Após
anos sem noticias ele a reencontrou em uma viagem a sua cidade. Sofia estava
casada e era mãe de três filhos.
Observou
que a sua juventude continuava quase intacta, e por alguns instantes não
hesitou em colocar-se no lugar do seu marido, mas preferiu guardar as boas
recordações de uma década e meia atrás.
Sofia
era a lembrança mais gratificante de um verão em sua juventude, talvez o melhor
verão da sua vida.
Elvis
Costello - She
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