Na sexta-feira, ela sempre
repetia seu antigo ritual: Entre cinco e seis da tarde, esquecia-se de qualquer
obrigação aborrecida e burocrática, aquelas rotineiras que vão minando as almas
mais puras e indefesas destes hospícios corporativos.
Ela sacava de sua bolsa um mp3 e
escolhia sempre a mesma canção. O próximo passo ritualístico era aumentar o
volume e fechar os seus olhos, era sua busca pelo nirvana, ela jurava que neste
momento mágico as luzes apagavam-se e uma canhão de luz iluminava sua face pálida
e cansada pela semana de escravidão.
A seguir ela rezava sua preze mais fervorosa enquanto fazia ouvir,
ouvir a canção de seu mago...
O que viria a seguir são as ressonâncias
de quem é refém da exaustão dos e-mails e telefones sem sal, sem graça, sem
poesia... banalidades que nunca nos farão falta, pensava a funcionária mediana
do andar intermediário, aquela que nunca superaria as expectativas...
Então naquele instante o que mais
valia para ela era sonhar... sonhar... sonhar... enfim, pois afinal aquela era
apenas mais uma sexta-feira.
Vitrola: David Bowie – Soul Love
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