sábado, 10 de agosto de 2013

Soul Love


Na sexta-feira, ela sempre repetia seu antigo ritual: Entre cinco e seis da tarde, esquecia-se de qualquer obrigação aborrecida e burocrática, aquelas rotineiras que vão minando as almas mais puras e indefesas destes hospícios corporativos.

Ela sacava de sua bolsa um mp3 e escolhia sempre a mesma canção. O próximo passo ritualístico era aumentar o volume e fechar os seus olhos, era sua busca pelo nirvana, ela jurava que neste momento mágico as luzes apagavam-se e uma canhão de luz iluminava sua face pálida e cansada pela semana de escravidão. 

A seguir ela rezava sua preze mais fervorosa enquanto fazia ouvir, ouvir a canção de seu mago...

O que viria a seguir são as ressonâncias de quem é refém da exaustão dos e-mails e telefones sem sal, sem graça, sem poesia... banalidades que nunca nos farão falta, pensava a funcionária mediana do andar intermediário, aquela que nunca superaria as expectativas...

Então naquele instante o que mais valia para ela era sonhar... sonhar... sonhar... enfim, pois afinal aquela era apenas mais uma sexta-feira.


Vitrola: David Bowie – Soul Love

Nenhum comentário: