quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Indiferença



A cena bucólica não descola da minha mente...

Andando pela Paulista como alguém que paga suas penitencias em pleno rush, percebo ao lado alguém falando ao telefone. O caminho é longo e a minha impressão é que estou em plena sessão de terapia:

-Estamos dormindo em camas e quartos separados, só eu sei como foi difícil este final de semana! Ainda não contei para a mamãe, vai ser duro, mas é vida...

E a cada quadra o drama parece aumentar, tento fugir apressando os passos, mas o semáforo fecha e logo a voz reaparece:

-Não deu certo, apenas isso, não sei explicar, não tentarei agora compreender nada, nós temos um filho e com certeza ele será o mais afetado nisso tudo...

Nem mesmo o barulho dos automóveis, das vozes ecoando pela avenida, nada me impede de ouvir o drama. Enquanto isso olhando a frente assisto ao ballet de pés e pernas apressados configurando uma dança impetuosa de beleza e desprezo.

Então a voz cala-se, não chega ao começo da avenida, tombou no percurso, sucumbiu em meio à indiferença latente das relações humanas do mundo digital, da tecnologia do afastamento, do não envolver-se, do desapego fatal. Foi como ouvir o lamento de um blues, ou a cronica de um bom country. 

Vitrola: Rolling Stones - Far away Eyes

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