terça-feira, 29 de janeiro de 2013

As Luzes do Amanhecer



Às seis da manhã a noite terminou. Para ele a vida dava o seu último suspiro, sem nenhuma gloriosa despedida, nem sequer lágrimas de remorso, ou dores por seu passado de amarguras.

Dias antes o último adeus. Ciente da proximidade inevitável do fim juntou suas derradeiras forças para ir de encontro ao seu cofre particular em um renomado banco.

Resgatou dele um objeto guardando no bolso direito de seu casaco de couro. Ao chegar em casa discou para o número desejado e deixou um recado na secretaria eletrônica, era uma espécie inconsolável de dizer adeus.

Partiu sem vê-lo, nem mesmo ao longe. Sentiu apenas o perfume cítrico que costumava inalar quando o encontrava secretamente em noites e dias inesquecíveis.

As cinco e vinte daquela madrugada pediu ao seu enfermeiro que colocasse a sua canção predileta no Cd Player instalado propositalmente ao lado de seu leito:

Toque repetidamente até o raiar do dia, ou até cessar a minha respiração. Foi enfático, mesmo agonizando, o corpo, a alma, o coração.

And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure and the privilege is mine

No silêncio da manhã sobre o móvel do quarto - já vazio - o misterioso objeto: um porta retrato guardado como troféu, nele a imagem que carregou consigo para a eternidade.

Vitrola: The Smiths – There is a Light That Never Goes Out

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