Às
seis da manhã a noite terminou. Para ele a vida dava o seu último suspiro, sem
nenhuma gloriosa despedida, nem sequer lágrimas de remorso, ou dores por seu
passado de amarguras.
Dias
antes o último adeus. Ciente da proximidade inevitável do fim juntou suas
derradeiras forças para ir de encontro ao seu cofre particular em um renomado
banco.
Resgatou
dele um objeto guardando no bolso direito de seu casaco de couro. Ao chegar em
casa discou para o número desejado e deixou um recado na secretaria eletrônica,
era uma espécie inconsolável de dizer adeus.
Partiu
sem vê-lo, nem mesmo ao longe. Sentiu apenas o perfume cítrico que costumava
inalar quando o encontrava secretamente em noites e dias inesquecíveis.
As
cinco e vinte daquela madrugada pediu ao seu enfermeiro que colocasse a sua
canção predileta no Cd Player instalado propositalmente ao lado de seu leito:
Toque
repetidamente até o raiar do dia, ou até cessar a minha respiração. Foi
enfático, mesmo agonizando, o corpo, a alma, o coração.
And if a double-decker bus
Crashes into us
To die by your side
Such a heavenly way to die
And if a ten-ton truck
Kills the both of us
To die by your side
Well, the pleasure and the privilege is mine
No
silêncio da manhã sobre o móvel do quarto - já vazio - o misterioso objeto: um
porta retrato guardado como troféu, nele a imagem que carregou consigo para a eternidade.
Vitrola: The Smiths – There is a Light That Never Goes
Out
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