quinta-feira, 14 de junho de 2012

Antes Que Chegue a Manhã



Acabada a sopa de nabos, um ferreiro cochilou por instantes junto ao fogo, depois foi deitar-se ao lado da esposa, soprou a vela e adormeceu.
Sonhou que subia em uma carruagem. Os cavalos galopavam, galopavam, e embora a noite fosse interminável, logo chegaram a uma cidade e pararam diante de uma edificação nobre e grandiosa. O ferreiro saltou, atravessou o grande umbral, subiu a escadaria de pedra. Seus pés conheciam cada degrau. Chegando ao alto, abriu a segunda de muitas portas de uma longa galeria e, apressado para não ser colhido pela manhã, despiu-se e meteu-se entre os lençóis na grande cama de dossel vermelho. O dossel ondulou de leve, sua cabeça despencou no sono.

Acordou com a primeira luz da manhã varando a janela e cortinado. Suas roupas estavam na cadeira. Vestiu-se rapidamente, abriu a porta, desceu a escadaria, e entrou na carruagem.
Os cavalos galoparam, galoparam e embora o dia parecesse não ter fim, logo era noite e chegaram a uma aldeia. Pararam diante de uma casa. O ferreiro saltou, empurrou a porta que sua mão conhecia tão bem, sentou-se à mesa e começou a comer. Acabada a sopa de nabos, cochilou por alguns minutos junto ao fogo, depois foi deitar-se com a esposa, apagou a vela como quem apaga o dia, e entregou a cabeça ao travesseiro.

Lá fora, a carruagem esperava.

*Um conto de autoria de Marina Colasanti


Guilherme Arantes – Pérolas de Neon 

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