Em
2005 o psiquiatra Roberto Shinyashiki concedeu uma entrevista interessante a
Revista Istoé abordando assuntos sobre o mundo corporativo e seu maldito faz de conta.
Abaixo alguns trechos:
Shinyashiki
-- O mundo corporativo virou um mundo de faz-de-conta, a começar pelo processo
de recrutamento. É contratado o sujeito com mais
marketing
pessoal. As corporações valorizam mais a auto-estima do que a
competência.
Sou presidente da Editora Gente e entrevistei uma moça que
respondia
todas as minhas perguntas com uma ou duas palavras. Disse que ela não parecia
demonstrar interesse. Ela me respondeu estar muito interessada, mas, como
falava pouco, pediu que eu pesasse o desempenho dela, e não a conversa. Até
porque ela era candidata a um emprego na contabilidade, e não de relações
públicas. Contratei na hora. Num processo clássico de seleção, ela não passaria
da primeira etapa.
ISTOÉ
-- Há um script estabelecido?
Shinyashiki
-- Sim. Quer ver uma pergunta estúpida feita por um presidente de multinacional
no programa O aprendiz? "Qual é seu defeito?" Todos respondem que o
defeito é não pensar na vida pessoal: "Eu mergulho de cabeça na empresa.
Preciso aprender a relaxar". É exatamente o que o chefe quer escutar. Por
que você acha que nunca alguém respondeu ser desorganizado ou esquecido? É
contratado quem é bom em conversar, em fingir. Da mesma forma, na maioria das
vezes, são promovidos aqueles que fazem o jogo do poder. O vice-presidente de
uma das maiores empresas do planeta me disse: "Sabe, Roberto, ninguém
chega à vice-presidência sem mentir". Isso significa que quem fala a
verdade não chega a diretor?
ISTOÉ
-- Temos um modelo de gestão que premia pessoas mal preparadas?
Shinyashiki
-- Ele cria pessoas arrogantes, que não têm a humildade de se
preparar,
que não têm capacidade de ler um livro até o fim e não se preocupam com o
conhecimento. Muitas equipes precisam de motivação, mas o maior problema no
Brasil é competência. Cuidado com os burros motivados. Há muita gente motivada
fazendo besteira. Não adianta você assumir uma função para a qual não está
preparado. Fui cirurgião e me orgulho de nunca um paciente ter morrido na minha
mão. Mas tenho a humildade de reconhecer que isso nunca aconteceu graças a meus
chefes, que foram sábios em não me dar um caso para o qual eu não estava
preparado. Hoje, o garoto sai da faculdade achando que sabe fazer uma
neurocirurgia. O Brasil se tornou incompetente e não acordou para isso.
Legião
Urbana – Quase sem querer
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