segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Jacqueline
Pra quem reclama da vida
pra quem procura uma fuga
uma muleta para apoiar-se
numa rota qualquer
para desaparecer sem lutar...
Eu vejo,
Eu escuto,
sim
descrevam-me o que veem agora
ali
naquela artista
que trava um duelo
consigo mesma
com a dor
de ser jovem
com a fama
de ter brilho
sim
descrevam-me
se o talento venceu
o demônio da doença
que degenera passo a passo
tendão a tendão
a musculatura
das mãos daquela menina
que ceifa seus sonhos
trazendo ventos e tempestades
e mesmo assim
ainda vejo
melhor,
ouço a sinfonia
do desespero
e ninguém bate em retirada
Música!
Música!
Todos querem ouvir música.
Não existe fuga
quando amamos
não importa se ela não toca mais o instrumento
Ela me fez sonhar até o final.
Trilha Sonora
Artista: Jacqueline du Pré
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2 comentários:
eu sabia que teria uma manhã de muitas lágrimas aqui...
porém, não sabia que seria misturada a uma estranha alegria e que as lágrimas brotam bem mais do que eu pudesse imaginar... mesmo com essa alegria. essa estranha alegria...
lembrei da minha irmã, em plena vida, em suas antológicas apresentações. lembrei de como tudo começou na bucólica oxford... quem diria que aquela menina tão atrapalhada viria ser uma das maiores interpretes de violoncelo... seria uma das maiores interpretes de Elgar e Malher... nem nossa mãe, em sua rigidez, poderia imaginar.
não acho correto comparar dores... cada um tem a sua. cada um tem ou não tem seu próprio sofrimento e comparar um sofrer que, aos olhos da sociedade parece menor, com o que parece maior é uma tendência inexorável e hipócrita dos que buscam na perversa “auto ajuda” uma forma "melhor" de se viver. é perverso tentar enxergar os outros através de fórmulas e “pregando para todos” padrões de comportamento.
“cada um é o que é e cada um dá o tem”... acrescento: dá o que tem ou que pode. mas, apesar de acreditar nisso, minha irmã viveu seu sofrimento com muita dignidade.
ouvi jackie nesse post interpretando Granados, fez-me lembrar da nossa história tão brilhantemente dirigida por anand tucker em “hilary and jackie”. emily watson, depois de despontar para o mundo no devastador filme do dinamarquês lars von trier “breaking the waves”, interpreta jackie de forma espantosa. minha irmã está viva em emily...
ao mesmo tempo escuto “greatest love of all’ e vejo o sol nascendo... leio que whitney está chegando, na verdade já chegou, nos braços de quem sempre a amou... fico feliz porque sei da existência de um Amor tão incondicional que, como escreveu o apóstolo João, chega a nos constranger... um Amor que nos constrange porque não conseguimos compreender como alguém pode dá sua vida por nós (nós, tão miseráveis em nossa forma limitada de amor). mas, Ele deu tudo por nós. assim, sou inundado pela alegria por saber que minha mãe, meu irmão, jackie e whitney estão face a face com esse Amor!
aqui na Terra, um dia passei sobre a ponte de uma bela cidade durante a madrugada e tive a ilusão que iria encontrar um outro tipo de amor. assim, com “a” minúsculo. porém, não menos importante para nossas vidas. faz frio na cidade e não encontramos... mas, ali está o mitológico rio congelado e não é sinal de fraqueza pensarmos pular sobre ele e depois sermos encontrados com os pulmões cheios de água. é humano. não é a melhor saída. mas, é espantosamente humana!
resta-me o texto final da livre adaptação de tucker da minha relação com jackie:
...”fui buscar em uma terra distante o amor. um dia, em uma praia de dessa terra distante o encontrei. ele me disse: - vai ficar tudo bem...”
endosso: vai ficar tudo bem.
Hilary,
Sua irmã realmente possuía a luz divina, a luz de uma estrela que vaga, passa e ainda brilha intensamente. Cada um dá o que tem e pode, às vezes um pouco mais, noutras um tanto menos, mas a conta está ali. Somos humanos em nossos vicios, e já vi muita gente desumana com supostas "virtudes".
Acredito também: vai ficar tudo bem.
1 abraço,
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