quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Carta a um amigo


 “O Brasil é uma República Federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus”. (Oswald de Andrade)

Sou do tempo das cartas, quando era necessário escrever de próprio punho palavras que pudessem expressar sentimentos.

As palavras de Oswald de Andrade são mais profundas do que aparentam. Falam do quanto o progresso e o mundo da indústria e do trabalho inverteram perversamente a lógica e as razões mais essenciais da vida em sociedade. Em nome desse suposto avanço aceleramos o tempo, vivemos correndo e quase nunca dizemos aos nossos pares o que mais importa.  As árvores cederam espaço ao concreto, roubaram de nossas paisagens o verde, o colorido, o frescor da natureza transformando tudo no árido concreto, erguendo prédios enormes, pintando o mundo melancolicamente de cinza. Abriram espaço para os velozes automóveis, adicionaram computadores em nossas rotinas e, aos poucos nos fizeram crêr por alguns instantes que as pessoas poderiam ser substituídas por máquinas...

Sabe lá Deus em sua infinita sabedoria o quanto esse estado de coisas nos aflige, pessoas dispostas a doar o que temos de melhor – a erguer relações em outros patamares, sem a clássica divisão patrão e empregado, pobre e rico, homem ou mulher...

Sim, eu sei meu amigo que o mundo vira as costas a todos os teimosos incuráveis, Dom Quixotes das esquinas que andam trôpegos pelas ruas e avenidas desta vida, sonhando sempre sem perder de vista que a missão é árdua, e por isso mesmo estaremos sempre atravessando desertos e encarando muitas vezes a cruel e costumas solidão.

Eis Milton cantando a beleza do amor, a paixão por River Phoenix

 Milton Nascimento/ Carta a um jovem ator



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