sábado, 23 de julho de 2011

Olhos de Gazela



A morte de uma jovem de 27 anos nunca será normal.

Amy tinha seus problemas como todo mundo e, o fato de ser talentosa com sua voz, sua música, sua sensibilidade artística, não tirava dela as dificuldades com a fama, a idolatria, ou simplesmente, com o sentido maior de sua vida. Amanhã será um dia bom para os tabloides sensacionalistas, para a mídia em geral, e para os corvos que adoram uma carniça. 

Talvez Amy não se reconhecesse mais quando olhava seus olhos de gazela no espelho do banheiro do seu flat. Talvez fosse muito difícil para ela admitir que o palco seria sua vida por muito tempo, até envelhecer provavelmente. 

O velho mito da eternidade (aquela história que um artista que morre cedo fica eternizado) não cola muito. Não creio que ninguém busque isso em sã consciência, com esse proposito claro e definido. Fica difícil julgar, dizer que era uma morte anunciada, isso, aquilo, etc.

Uma coisa eu digo: Não se pode acusar Amy de não ser uma artista autentica e transparente. Conheço muita gente, sem talento pra vida, é pra viver mesmo, não sabe fazer nada a não ser reclamar da vida, dos outros, de tudo enfim. Provavelmente essas pessoas irão viver 80, 90 anos, mas será uma vidinha mixa... sem graça!

Desse mal, a moça dos olhos de Gazela não padeceu... Viveu intensamente, errou muito, amou muito, sofreu muito, mas foi ela mesmo até o fim!

hey tried to make me go to rehab
But I said 'no, no, no'
Yes, I've been black, but when I come back
You'll know-know-know
I ain't got the time

Ok Amy, nossas lágrimas secarão sozinhas com o passar do tempo.

Trilha Sonora
Artista: Amy Winehouse
Música: Tears Dry On Their Own

2 comentários:

Elton disse...

"Deus conhece todo o peso, o fardo e a aflição deste mundo" disse o poeta metafísico londrino john donne (1572-1631) em um de seus sermões.

também escreveu:

"e se não houvesse um peso da glória futura para se contrapor, todos nós afundaríamos no meio do nada".

ontem li um post que falava de uma "última canção" (reeditado porque tinha lido e comentado esse texto ano passado). mas, foi relançado pelo autor do blog como uma profecia do que ontem (sábado) iríamos viver. acredito que nem o autor do acervo pop tem consciência de quantas "anunciações" ele faz aqui.

não meu amigo, você nunca está falando sozinho, escrevendo sozinho, nem se ninguém lesse seus posts você estaria falando ou escrevendo sozinho. mas, acredito que você tenha essa consciência e em um post antigo tenha desabafado em relação às faltas de comentários. realmente, somos sozinhos...

mas, em posts passados eu chorei com lembranças dos que se foram como river phoenix e audrey hepurn e com o passar do tempo no último 11/06. chorei e achei que não deveria derramar minhas lágrimas aqui. chorei como nessa manhã de domingo choro ao lembrar que uma "adorável maldita" se foi deixando esse mundo tão mergulhado no marasmo de gente tão certinha e "politicamente correta"...incluo-me entre essa gente? não sei...

resta-me voltar para o conterrâneo da estrela que ontem dormiu para a eternidade e novamente citá-lo:

"morte, não te orgulhes, ainda que alguns a tenham chamado poderosa e terrível, pois tu não o és...
...um pequeno sono apenas e acordamos eternamente,
e não haverá mais morte, pois tu, ó morte, morrerás".

amy:

"como vôos de pássaros um bando de anjos te conduzirão à eternidade"

in devotions upon emergent occasions by john donne.

acervopop disse...

"e se não houvesse um peso da glória futura para se contrapor, todos nós afundaríamos no meio do nada".

É profunda! Também levo uma vida certinha, careta e por isso mesmo me aborreci ontem lendo tanta besteira pela rede sobre a partida da nossa 'adorável maldita'.

Um abraço Elton!